Europa


Embora passe por vezes despercebido, Portugal tem vindo a trazer produtos com destaque como é o caso de Exophobia, recentemente lançado, ou até mesmo Striker's Edge de 2018. Desta vez trazemos uma obra de Helder Pinto que juntamente com a Future Friends Games trazem-nos uma aventura que deixa já a sua marca positiva no paradigma dos videojogos: Europa!

Esta é a aventura de Zee, um android que se vê em Europa, a lua de Júpiter, numa demanda pelo desconhecido. Tudo o que o rodeia é uma civilização perdida e, sem quaisquer respostas, vê-se a explorar as planícies verdejantes que tem à sua frente, onde o seu único guia são os registos escritos de alguém que lhe é querido e, também, que nos guia a nós como jogadores através da sua bela narrativa. O que se segue é uma aventura que vamos descobrindo cada vez mais sobre o estado de Europa enquanto vamos, também, aprendendo mais sobre Zee e este misterioso narrador. É ele que nos conta como estamos nesta lua distante da nossa Terra, que após ser terraformada com sucesso este satélite tornou-se um local quase que onírico, podendo albergar vida.

Corremos, deslizamos, saltamos e até planamos pelos caminhos que surgem à nossa frente, onde em poucos minutos sentia estar perfeitamente confortável com a jogabilidade, mesmo quando por vezes os controlos de Zee pareciam estranhos, como se ele estivesse a deslizar. Não foi preciso muito tempo até ganhar a possibilidade voar (ou saltar mesmo muito alto, pois não somos propriamente o Super-Homem) graças à energia que ia apanhando, esta sendo guardada numa espécie de cabaça que nos indica quanta energia temos para gastar nesta habilidade. Aos poucos apanhava uns misteriosos cristais que aumentavam a energia que podia guardar, permitindo-me voar por mais tempo, facilitando imenso na exploração.


Como fã de Journey, o jogo que a Thatgamecompany nos trouxe em 2012, senti-me extremamente bem em casa com Europa. Este é um jogo de exploração onde o objetivo principal é mesmo explorar em frente e percorrer os cenários em busca de uma resposta para algo que não é muito concreto, embora o nosso objetivo aqui seja dirigir-nos para uma ilha flutuante que avistamos no horizonte. De resto tudo é um convite à exploração, seja para apanhar as melhorias na nossa energia ou as dezenas de esmeraldas que temos pelo caminho, algo que vão querer procurar.

Há trechos de história a encontrar na nossa aventura, notas deixadas pelo nosso narrador que nos vai contando cada vez mais sobre Europa e, ainda, sobre Zee e o seu objetivo. Há ainda imensa vida animal, peculiares máquinas (ou a aparente mistura de ambos) que vamos registando através de ilustrações, pois Zee vai criando esboços de tudo o que o rodeia em locais pré-definidos, tornando-se em mais um colecionável a obter. Pelo caminho há alguns perigos, desde inimigos que disparam lasers na nossa direção ou minas espalhadas pelo cenário, entre outros elementos, que servem apenas para nos frustrar sem qualquer consequência ao sofrer dano, exceto ficar atordoados por uns segundos. São vários os puzzles que nos barram caminho, que resolvemos ao ativar determinadas coisas ou encontrar objetos que geralmente resume-se a procurar pela coluna de luz que vemos à distância. Há ainda alguns puzzles onde temos de coordenar os nossos saltos ou mover plataformas, mas, regra geral, todos estes enigmas são bastante simples e não houve um único que me deixasse a pensar sobre o que seria para fazer.


Não há combate, não temos nenhum desafio acrescido, mas não é suposto. Tal como Journey este é um jogo de exploração e introspeção, para jogar de headphones e ouvir tudo o que nos rodeia e deixar-mo-nos imergir na lua de Europa, enquanto observamos as ruínas de uma civilização perdida que nos rodeia, muito acessível para muitos jogadores não só pelos controlos simples como a sua localização em português ao nível de escrita, pois o narrador mantém-se em inglês (embora as suas falas estejam sempre legendadas). Tendo-o jogado na Nintendo Switch é um ótimo trabalho de otimização e visualmente continua deslumbrante, onde tudo parece estar pintado a aguarela. É um jogo com fortes inspirações nas obras dos Estúdios Ghibli, algo mais notório quando olhamos para a versão de PC e pode não ser claro na versão Nintendo Switch não só pela menor resolução como um certo desfoque na imagem, sem comprometer em demasia a direção artística do jogo.

É uma viagem curta, uma tarde bem passada é tudo o que precisamos para ver o jogo do início ao fim, embora se quisermos completar tudo a 100% e apanhar tudo o que é colecionável as horas estendem-se, algo que recomendo, pois todo o jogo é um convite à exploração. Ainda assim senti querer mais, embora belíssimo o jogo acaba por ser algo repetitivo com vários cenários são idênticos, sendo que apenas um pouco depois da segunda metade do jogo é que ele começa a tornar-se diferente. Mesmo a divisão por capítulos foi um pouco estranha, havendo alguns onde dediquei cerca de 30 minutos a outros que concluí em menos de 10, mesmo tendo (aparentemente) explorado tudo o que conseguia. Coisas que senti por querer mais em Europa, mesmo quando ao terminar haja ali um certo ponto que me fez querer descobrir absolutamente tudo o que há a encontrar.


Helder Pinto, juntamente com a Future Friends Games trazem-nos uma aventura diferente, bem relaxante em que sinto que vai ser perfeita para jogar nos chuvosos dias de inverno que se aproximam. Um jogo que não se estende demasiado e um preço bem acessível, onde senti que o meu tempo com ele passou a voar, perfeito para relaxar entre jogos complexos ou de longa duração, quase como se fosse um limpa-palatos!


Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Future Friends Games.

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