Star Wars Outlaws

 

Tenho de ser honesto! Quando foi anunciado este jogo em 2021 e apesar do entusiasmo inicial e típico de um fã de Star Wars, vi que era a Ubisoft a responsável pela criação deste mundo aberto e pensei logo: "Já fostes! Mais um prego no caixão!"

Ainda assim, era a Massive Entertainment a desenvolver o jogo. Gostei muito do The Division, o meu cérebro dificilmente consegue desligar-se da franquia Star Wars e convenhamos... quem não gosta de uma boa coboiada no espaço?! 

Como sempre nesta franquia, gigante no tempo e no espaço, temos de começar por meter um pin cronológico na coisa. Este jogo passa-se entre os eventos dos filmes “The Empire Strikes Back” e “The Return of the Jedi” e nota-se bem esse espaço temporal com eventos que se passam meio fora do âmbito desta aventura em particular, mas que fazem sentir a sua presença. O "fan service" está sempre presente nestas coisas e ainda bem!

Em Star Wars Outlaws nós somos Kay Vess, uma fora da lei que procura uma forma de começar uma nova vida fora do seu planeta natal, Cantonica. Sempre ao seu lado está Nix, um Merqaal muito fofo que acompanha a Kay desde criança e que está sempre pronto a auxilia-la nas mais variadas tarefas. Numa das suas tentativas de ir explorar novos mundos, ela torna-se num alvo a abater para Sliro Barsha, líder de um grupo criminoso emergente que tenta agitar as águas do submundo e consolidar o seu poder aproveitando o caos causado pela batalha de Hoth.

Kay Vess rapidamente se destaca pela sua personalidade e é claramente um dos pontos positivos deste jogo. Apesar de numa fase inicial parecer ser uma tentativa de criar uma nova versão de Han Solo (que em boa verdade até poderá ter sido esse o intuito), muito depressa faz transparecer a sua personalidade e consegue com todo o mérito e justiça ser o motor de toda uma aventura que dura cerca de 20 horas a terminar e toda ela cheia de coisas para fazer e descobrir. Além da história principal, temos histórias secundárias e ainda as missões das várias fações que habitam neste universo em particular que apresenta 4 planetas e respetivas órbitas para explorar ao nosso belo prazer se assim o entendermos.

E há muitas razões para o fazermos! Este jogo transpira Star Wars por todos os seus poros. A Massive Entertainment fez um trabalho magnifico nos dois The Division ao recriar as cidades de Nova Iorque e Washington e aqui repetiu com sucesso essa bitola. O casino Canto Bight em Cantonica está fantástico e Tatooine com as suas eternas referências tais como a Cantina, o palácio do Jaba ou a doca do Millenium Falcon batem forte no coração de qualquer fã de Star Wars. O planeta Kijimi, que apareceu pela primeira vez em "The Rise of Skywalker" teve direito a presença e Akiva e Toshara são os novos planetas a terem direito a ser incluídos no cânon desta franquia.

A história principal passa por todos estes mundos, cada um deles com a sua própria vida e ambiente e é aí que muita da sensação de estarmos num universo Star Wars acontece. Sente-se a vida nas cidades desses planetas, pessoas em movimento, a arquitetura, luzes, os sons e cores características de cada uma delas.

Imersão total e absoluta até ao momento em que chegamos às cut-scenes. Parece que foram feitas há 10 atrás e foram trazidas para os dias de hoje. Desync nas falas e movimentos faciais estranhos não ajudaram em nada a promover o acompanhamento da história nestes momentos.

Se havia um aspeto em particular que eu achava que a Massive Entertainement iria acertar em cheio seria em relação ao combate, pois o pedigree deste estúdio neste campo era incontestável até ao momento. The Division 1 e 2 estiveram sobre a sua chancela e ambos são fantásticos shooters com muito para oferecer nesse campo mas por incrível que pareça, em Star Wars Outlaws, a experiência não é assim tão profunda e marcante. Não me levem a mal, pew pew pew prá ali e pew pew pew prá acolá para um fã de Star Wars ou de ficção cientifica em geral é uma experiência brutal, mas torna-se algo repetitivo ao longo do tempo. Talvez o facto de usarmos quase sempre a mesma arma (que até tem alguns modos de tiro que vão ficando disponíveis com a progressão no jogo) tenha entrado em conflito com o meu sistema nervoso e o estranho facto de podermos apanhar armas dos inimigos, mas por alguma razão não a podermos levar connosco assim que interagimos ou ultrapassamos algum obstáculo, também não ajudou. O IA dos inimigos também não causa impacto muito positivo pois por norma aparecem em várias ondas e quase sempre do mesmo sitio potenciando o uso e abuso do "spawn kill".

Furtivamente o jogo também não proporciona uma experiência exemplar. Tendo de andar escondido e sem acionar alarmes durante uma boa parte da história principal e não só, rapidamente este aspeto em particular se torna aborrecido. Porquê? É demasiado fácil e previsível. Muitas vezes, quem temos de evitar ou pôr inconsciente está de costas a fazer uma tarefa qualquer ou a executar uma rota demasiado previsível e, inclusive, nunca senti necessidade da ajuda do companheiro e amigo Nix para desviar a atenção de alguém.

Este Star Wars Outlaws foi jogado no PC (AMD 5700x + NVIDIA 4070 super) com uma resolução de 1440p com settings gráficos em ultra e a experiência esteve sempre acima dos 60fps. Experimentei o RTXDI (NVIDIA RTX Dynamic Illumination) que basicamente dá um "buff" a tudo o que é iluminação no jogo em tempo real e embora seja uma tecnologia que faz dar um trambolhão no framerate, com a ajuda dos upscalers da NVIDIA DLSS + Frame generations foi possível manter a bitola dos 60fps a maior parte do tempo.

Star Wars Outlaws é uma experiência Star Wars extraordinária em termos de construção de mundo, as personagens principais são cativantes e a história, embora demore demasiado tempo a desenvolver, tem um final digno de um filme da saga (de um dos bons!). Pena que o combate seja um pouco enfadonho e a ação furtiva precisar de um  pouco de Blue Milk, principalmente quando o estúdio responsável por este jogo é sobejamente conhecido pelo excelente gunplay que costuma apresentar nos seus jogos.

Apesar da exploração não ser "Ubisoft level 9000" (o que é sempre um bónus) e dar espaço ao jogador para se perder neste mundo, a navegação e combate espacial não está bem afinado, as animações nas cut-scenes dão vontade de carregar na tecla para seguir em frente e o sistema de reputação entre fações, na verdade, não tem grande preponderância no grande esquema das coisas, mas é sempre melhor andar em paz podre com os senhores da guerra do que ter de andar pelo jogo a levar com tiros de toda a gente. 

Ficamos então assim um pouco em terra de ninguém, onde os momentos altos do jogo são mesmo muito altos e os baixos mais parece que ficaram presos bem no fundo do sistema digestivo de um Sarlacc no meio do deserto de Tatooine.

A verdade é que metendo na balança todos os pesos e analisando os pros e os contras, Star Wars Outlaws foi uma experiência divertida e em momento algum senti que estava a passar tempo a mais neste mundo. Não é o melhor jogo de Star Wars que existe, mas é um dos jogos mais Star Wars a que tivemos direito até à data.

Star Wars Outlaws saiu no dia 30 de agosto de 2024 para Playstation 5, Xbox Series X|S e PC.

Nota: Análise efetuada com base no código final do jogo para PC, adquirido pelo autor do artigo.


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