Astro Bot
Desta vez partimos com Astro e todos os outros bots numa aventura espacial a bordo da nave mãe, a PS5, que acaba por se despenhar, deixando centenas de bots à deriva pelo espaço e o nosso Astro com a responsabilidade de os resgatar e reconstruir a nave mãe. O Local da Colisão (como o jogo lhe chama) funciona como uma espécie de Hub World, mas este é muito mais que apenas um ponto de acesso às dezenas de planetas que há para percorrer em Astro Bot. Para começar, é para aqui que virão todos os bots que resgatares ao longo do jogo, havendo um foco especial para os bots VIP, referências às personagens mais icónicas da história da PlayStation.
Tal como em Astro's Playroom, podes também gastar as moedas que colecionas ao longo dos níveis no Laboratório de Gatchas, que agora, ao invés de acessórios e recordações da PlayStation, oferece novas opções de costomização tanto para o Astro como para o seu Dual Speeder (sim, é possível vestir Astro com todo o tipo de fatiotas!), bem como acessórios que estarão de alguma forma relacionados com os bots VIP que já trouxeste de volta para o Local da Colisão. Assim que adquiras o acessório de um bot, desbloqueias uma interação única a cada um destes bots, inspirada pela história particular da personagem que representa. Tal como em Astro's Playroom, a paixão da TEAM ASOBI pela PlayStation e por videojogos no geral é palpável, mas ao invés de o foco estar na história física da PlayStation, em Astro Bot sentimos o amor e a reverência a cada uma das personagens que estiveram ao nosso lado ao longo dos últimos 30 anos.
E não falo apenas dos nomes mais sonantes desta história, como Nathan Drake, Kratos ou Aloy. A quantidade de personagens presentes em Astro Bot é genuinamente impressionante e eu serei o primeiro a admitir que nem eu fui, até agora, capaz de reconhecer (ou encontrar) todas e estou ansiosamente à espera que pessoas mais conhecedoras que eu façam vídeos e escrevam artigos a enumerar cada uma das referências presentes em Astro Bot. Astro Bot é para os fãs da PlayStation aquilo que Endgame foi para os fãs da Marvel, desde a quantidade de referências que nele podem ser encontradas até à grandiosidade da história que conta.
Este Hub World tem também aquela que é provavelmente a minha característica preferida de todo o jogo. Se pensavam que se tratava apenas de algo pequeno e simples, um espaço para passearmos à beira de outros bots, como em Astro's Playroom, enganam-se. O Local da Colisão é um espaço enorme e diverso (arrisco-me a dizer que será maior que qualquer um dos níveis que encontramos ao longo do jogo), onde também existem bots para encontrar e resgatar. Mas não foi isso que, para meu espanto, encheu-me de emoção. Espalhados pelo Local da Colisão, encontramos marcadores que requerem um determinado número de bots para podermos interagir com eles. Dependendo da quantidade de bots que já tenhas resgatado, conseguirás ou não fazê-lo.
Caso tenhas os bots suficientes, estes virão ao teu auxílio e trabalharão em conjunto para te ajudar a alcançar uma plataforma, levantar algo pesado ou até resgatar outro bot. E, surpreendentemente (ou talvez não), ver o Nathan Drake, o Kratos, o Ratchet e tantas outras personagens que, de uma maneira ou de outra estiveram presentes na minha vida e moldaram a pessoa que sou hoje, juntarem-se para ajudar o Astro (ou eu próprio, se quisermos tornar esta reflexão ainda mais pessoal) foi sem dúvida a experiência mais especial que tive em Astro Bot, apesar de não ser o momento mais épico ou o gadget mais criativo ou a batalha mais desafiante. São 30 anos de história a juntar-se em prol daquela que eu argumentaria ser, agora, a verdadeira mascote da PlayStation.
Para lá deste Hub World, encontramos um total de 6 galáxias ou nebulosas, ou sistemas planetários, cada um deles um conjunto de planetas (não cientificamente, mas em Astro Bot) que representam os vários níveis. Nesse sentido, o design do jogo é bastante semelhante ao de Astro's Playroom. Em equipa que ganha não se mexe, não é? Mas se aí os 4 níveis existentes eram largamente diferentes entre si e dentro de si, então em Astro Bot essa variedade foi aumentada infinitamente.
Cada nível tem um aspeto diferente, desde selvas vibrantes a praias com a melhor areia possível, passando por um casino, um estaleiro de obras, um cemitério assombrado e até um nível totalmente debaixo de água. Mas o que é especial em Astro Bot é que a TEAM ASOBI nunca nos dá diversidade apenas pelo bem da diversidade. Tudo tem um propósito em Astro Bot: o Astro reage de forma diferente a superfícies distintas, diferentes tipos de inimigos habitam cada ambiente, há diferentes gadgets apropriados para cada nível. E não é apenas no jogo que podemos ver estas diferenças passivas, já que o facto de cada planeta ser diferente, exige do jogador um pensamento ativo para pensar em soluções que se adequem especificamente às características do nível em questão e formas de usar as ferramentas que o jogo nos dá a cada momento.
Mais do que uma vez pensei para mim mesmo "Se tivesse agora o gadget que tinha num outro nível, sabia como resolver este puzzle ou alcançar aquela plataforma", mas tive de aprender a usar um novo gadget ou usar uma estratégia diferente para resolver cada problema. Para além destes quebra-cabeças, cada nível conta com um conjunto de colecionáveis, tal como Astro's Playroom. Enquanto que continuamos à procura das peças de puzzle, que nos permitem desbloquear funcionalidades no Local de Colisão, como o Laboratório de Gatchas e a customização do Astro e do Dual Speeder, as peças de hardware que se encontravam espalhadas pelos níveis de Astro's Playroom foram substituídos pelos adoráveis bots. O importante é que aqueles mais obcecados de vocês que exploram cada cantinho do mapa num RPG e que não descansaram até terem apanhado todas as joias e libertado todos os dragões no Spyro vão poder satisfazer esse canto permanentemente insatisfeito do vosso cérebro em Astro Bot (não levem a mal, eu sou um de vocês!).
A maioria dos níveis em Astro Bot seguem este design, mas entre esta maioria encontramos níveis mais curtos e desafiantes, reminiscentes dos desafios contra-relógio de Astro's Playroom ou até os níveis do mesmo tipo de Sackboy: A Big Adventure, onde aqueles anos e anos de experiência com Crash Bandicoot e Jak & Daxter serão essenciais. No entanto, aqui o desafio não se prende com a velocidade com que consegues completar o nível, mas sim com a tua capacidade de simplesmente terminar o nível, o que pode parecer fácil, mas apenas até experimentarem um destes níveis. E depois, claro, estão de volta as brilhantes boss battles de Astro's Playroom e Astro Bot Rescue Mission. Existem 6 bosses principais em Astro Bot, mas certos níveis contêm bosses mais pequenos que são igualmente divertidos de derrotar.
Uma última coisa que não podia deixar de mencionar é a música, que já foi um destaque em Astro's Playroom - quem é que se consegue esquecer de clássicos como "I am Astro Bot" e a música da GPU? - e volta a sê-lo em Astro Bot. Podemos falar quanto quisermos do design de cada nível, da criatividade das boss battles e dos gadgets e do uso inspirado de hardware como o DualSense, mas a verdade é que nada disto funcionaria tão bem como funciona se não fosse pela brilhante música que nos acompanha ao longo das 10, 15, 20 ou até mais horas que passaremos na companhia de Astro, desde o tema do Hub World, que nos compele a partir na aventura em busca dos bots perdidos até à música épica que serve de fundo para a batalha final, bem como o tema de cada nível, certamente pensado ao pormenor por Kenny Young para proporcionar o máximo nível de imersão em cada ambiente.
Astro Bot é exatamente aquilo de que os videojogos precisavam, uma experiência verdadeiramente especial, resultado de uma aposta em grande numa ideia original, que nos mostra aquilo que qualquer videojogo deveria almejar ser.
Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para PS5, gentilmente cedido pela SIE