El Shaddai Ascension of the Metatron HD Remaster
Um esforço conjunto da Crim e da Aqualead, El Shaddai Ascension of the Metatron traz-nos de volta a estória de Enoch, um escriba imortal que vive no Céu e a sua missão de trazer de volta ao mesmo um grupo de anjos rebeldes, os Grigori (ou Watchers), uma tarefa que se revela simultaneamente árdua e morosa. Enoch, que conta com um guia na figura do angélico Lucifel (e quatro arcanjos), passa séculos na Terra em busca dos mesmos, acabando por descobrir que estes se escondem no interior de um mundo falso (criado por eles), chamado de Tower. Lá residem humanos que idolatram estes anjos caídos, afastando-se, com isso, de Deus.
É também no interior da Tower que iremos encontrar os frutos das relações entre anjos e humanos, os aparentemente pacíficos Nephilim, que escondem um terrível segredo que poderá causar a extinção da humanidade (via o dilúvio). A estória será apresentada por cutscenes narradas por Lucifel, que também serve de save point nos níveis. O nosso herói, cuja voz e opinião nunca se sentirá, uma vez que se trata de um protagonista silencioso, tem um começo um pouco tortuoso, sendo derrotado facilmente por um dos Grigori (e um dos bosses mais recorrentes do jogo) chamado Azazel, naquela que é a primeira luta (uma batalha que não poderemos vencer) do jogo. A armadura que protege Enoch (uma vestimenta militar helénica) será destruída, sendo substituída pela armadura mais celestial e moderna que lhe será dada por Lucifel. Mais resistente, esta armadura serve não só para proteger Enoch de dano, mas sobretudo como referência visual do seu estado de saúde, onde à medida que for ficando mais danificada, mais vulneráveis estaremos a um possível golpe fatal. De salientar que o mesmo se passa com os inimigos que usam armadura.
Existe uma forma de restaurar a armadura de Enoch e com isso o seu estado de saúde, ao recolher a chamada Light of Blessing, que se encontra presente nos níveis, após destruirmos certos objectos ou derrotarmos alguns inimigos. Para se defender dos adversários que irá encontrar pelo caminho, Enoch conta com três tipos de armas celestiais, que serão sendo introduzidas aos poucos nas primeiras etapas do jogo. A primeira é o Arch, a mais equilibrada das armas, ela permite ataques rápidos e consecutivos (se bem que centrados apenas num oponente), assim como combos aéreos. O Arch tem a particularidade de permitir a Enoch pairar temporariamente no ar, um movimento particularmente eficaz para passar determinadas plataformas. Segue-se depois a arma de ataque à distância, a Gale. Esta dá a Enoch a capacidade de atirar projécteis em modo rapid fire ou via a criação de poderosos ventos devastadores. A Gale concede a habilidade de fazer um dash, que também pode ser usado para cobrir certas distâncias, no que a plataformas diz respeito e convém salientar que a Gale é a mais fraca das três, ofensiva e defensivamente.
Por último temos o Veil, com uma força ofensiva descomunal e com um poder ofensivo que nos permitir ter uma defesa capaz de resistir a investidas não apenas de inimigos normais, mas também de bosses. Contudo, o Veil peca por ser lento no seu uso e de nos deixar vulneráveis a possíveis contra-ataques. O uso de todas estas armas, tem os seus benefícios e prejuízos, que dependem sobretudo da forma e dos momentos em que as usarmos. Tal como noutros jogos, estas armas estão conectadas entre si através de um triângulo, o chamado Triad of Balance, ou seja, cada uma delas será eficaz contra outra e vice-versa. Arch é forte contra a Gale, mas fraco contra o Veil e por sua vez a Gale é forte contra o Veil. Convém, portanto, ir alternado entra armas, de forma a não tornar o jogo mais difícil para nós.
Tal mudança pode ser feita de duas maneiras: via o item Fruit of Wisdom, que permite adquirir a arma cuja forma estiver presente no mesmo, e, numa mecânica bastante interessante, roubando a arma de um adversário. Tal apenas pode ser feito quando tivermos perto do mesmo e a sua guarda tiver sido quebrada. Para podermos usufruir de toda a força ofensiva da arma que tivermos, devemos purificar a mesma, passando a luz dela de vermelho (corrompida) para azul. Também é possível a luta sem armas, usando apenas pontapés e socos. Igualmente importante é o uso da esquiva, da guarda (que pode ou não ser eficaz dependendo da arma usada), do duplo salto (relevante também nas secções de plataformas) e do contra-ataque que pode facilmente abrir a defesa do inimigo. Enoch conta com a habilidade Overboost, que será adquirida em capítulos mais avançados do jogo e permite-nos ampliar as nossas habilidades normais e a eficácia das mesmas. Para conseguirmos este Overboost, devemos recolher Flame of Power e o uso correcto do Overboost pode facilitar, e muito, nas lutas contra determinados bosses.
Outros itens presentes nos níveis são os ossos de Ishtar, adquiridos nos níveis especiais conhecidos como The Darkness, o Eye of Truth que permite vislumbrar a fraqueza de um determinado boss e as notas do Freeman (um humano aliado dentro da Tower) que nos irão permitir saber mais acerca do lore do jogo. Os inimigos que iremos encontrar serão bastante variados como os Martyr (os primeiros que nos surgem a usar o Arch), os voadores Silversarge e Goldsarge (que usam a Gale contra nós) e os Ezek V (que usam o Veil), entre muitos outros. Para além destes adversários armados, Enoch tem que enfrentar outros que atacam de outras formas. Temos o próprio nível especial The Darkness, que vê as próprias trevas tentarem consumir-nos numa perseguição intensa. Seguem-se os referidos acima Nephilim, que apesar do seu aspecto dócil conseguem ser particularmente traquinas e "acidentalmente" atirarem-nos das plataformas abaixo.
As diferentes almas penadas que abundam na Tower podem ser particularmente debilitantes, muitas vezes possuindo-nos e impedindo a nossa movimentação. Entre estas temos a peculiar Lost Head, os sombrios Ramp e as trágicas Souls of the Beloved, entre outros, um rol de inimigos tem a particularidade de não ser particularmente forte. Os bosses presentes no jogo são, como seria de se esperar, os diferentes anjos rebeldes. Azazel é o que iremos enfrentar mais vezes, o nosso primeiro adversário no jogo, irá desafiar-nos constantemente e testar a nossa força, no decurso do jogo. Outros anjos que iremos enfrentar em duelo incluem o ardiloso Sariel, o festivo Armaros e a tempestuosa Ezekiel. Normalmente apresentando-se com armaduras celestiais com um elmo de um só olho, estes anjos podem ter mais que uma forma física. Para além deles, servem ainda de bosses, manifestações consumidas pela Darkness de certas personagens (inclusive a do nosso protagonista), um gigantesco Nephelim de fogo, Battorile e as suas três formas, entre muitos outros. A forma de defrontar cada boss irá ser diferente, com alguns a terem mais que uma ronda de luta, fraquezas físicas que se vão alternando ou mesmo tamanhos gigantescos. A abordagem a ter a cada luta é, portanto bastante fluída, exigindo algum pensamento.
El Shaddai tem alguns dos níveis mais bonitos e isotéricos que alguma vez vi num jogo. A paisagens desoladas e cinzentas, são contrapostos cenários coloridos e até mesmo infantis na sua natureza. Temos torres futuristas, murais de fundo sacros, verdejantes paisagens assoladas por um vento personificado por uma face no céu, nuvens que mais parecem ondas em oceanos irrequietos, entre muitos, muitos outros cenários maravilhosos. Eles alternam entra o 3D e o 2D, com maior ênfase a ser dado ao nível de plataformas relativamente a este último. Para além de ser um jogo de plataformas e de hack and slash, El Shaddai conta ainda com inúmeras sequências de puzzle para resolver (de forma a progredir) e ainda uma de corrida, ao bom e velho estilo de Road Rash (de 1991 para a Mega Drive), mas com um toque ultra futurista. A tudo isto alia-se uma música fenomenal, que alterna entre melodias e estados de espírito, permitindo ao jogador a total imersão na estória e no gameplay.
El Shaddai tem dois modos de dificuldade, o normal e o fácil. Todavia em qualquer um deles a curva de aprendizagem é grande, com a dificuldade a alternar entre o desafiante e o acessível. A verdade é que o jogador nunca está verdadeiramente em perigo. No caso de falhar algum salto, Enoch é devolvido para a plataforma anterior ao mesmo. Mesmo que derrotado em combate é possível ao nosso herói "ressuscitar", se formos rápidos o suficiente a premir os botões, movimento que vai-se tornando mais difícil à medida que formos chegando ao fim do jogo.
Em suma, El Shaddai é verdadeiramente uma pérola oculta e uma excelente adição para a Switch, com os seus visuais deslumbrantes (não apenas nos cenários, mas também em muitas das suas cutscenes desenhadas e pintadas à mão), gameplay criativo, segredos escondidos (outros modos de dificuldade, novas armaduras para Enoch e possibilidade de jogar com outra personagem) e estória interessante (se bem que por vezes um pouco confusa).