Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon
Era uma vez um mundo onde existiam bruxas e sábios, anjos e demónios,
separados como o dia e a noite... assim começa Bayonetta Origins, a
história de Cereza e Cheshire: uma pequena bruxa aprendiz e um demónio
perdido.
Vindo da Platinum Games, Bayonetta Origins transporta-nos para o interior de
um conto infantil dedicado à primeira aventura da mais famosa bruxa do mundo
dos videojogos. Ao contrário da série principal, focada acima de tudo no
sistema de combate, aqui a pequena Bayonetta - perdão, Cereza - está ainda a
aprender e a tentar invocar o seu primeiro demónio. Perdida numa densa e
labiríntica floresta amaldiçoada pelas fadas, porém, a protagonista terá de
começar a dominar as suas capacidades.
Apresentado como um livro de aguarelas, a história vai avançando de página em
página, capítulo em capítulo, enquanto exploramos uma floresta mágica
inteiramente pintada à mão. Os belíssimos visuais são uma constante do
primeiro ao último momento do jogo, recheados de efeitos que, por momentos,
parecem estar mesmo a ser pintados conforme vamos avançando. É especialmente
cativante de cada vez que se chega a uma nova área da floresta e tudo apela à
curiosidade. Um pouco como o próprio jogo, que se vai revelando aos poucos: se
nas primeiras horas parece algo muito linear e recheado de cutscenes a
explicar todo o contexto da história, nas últimas este é afinal um jogo de
exploração, com muitos itens escondidos pelo meio.
Como em qualquer bom conto infantil, toda a história é acompanhada pela voz de
uma narradora, intercalada com as vozes das personagens quando isso é
considerado relevante. É assim que se vai aprendendo a motivação da Cereza em
explorar a floresta, a forma como ela fica ligada ao demónio invocado do
inferno e até as principais características da própria jogabilidade, onde
tanto Cereza como Cheshire são a base para o sistema de combate e a própria
exploração da floresta. Duas personagens inseparáveis, controladas em
simultâneo.
Inspirado nos próprios comandos da Nintendo Switch, o jogo segue uma lógica na
qual todos os inputs do lado esquerdo (L) são associados à Cereza e os do lado
direito (R) controlam o Cheshire. Confesso que, no início, tive bastantes
momentos em que me confundia bastante quando a bruxa estava à direita do
demónio e já não sabia que analógico controlava qual... algo que com o passar
do tempo acabou por se tornar mais natural. As personagens são também
completamente distintas em termos de jogabilidade, onde a protagonista recorre
a magias mais defensivas e o seu companheiro é mais focado nos ataques. Isto
abre também portas a alguns desafios na exploração onde os dois seguem
caminhos diferentes, onde um abre o caminho ao outro e vice-versa.
A tudo isto, acrescem as habilidades elementares que vão sendo obtidas
conforme se avança na história e permitem mudar os poderes do Cheshire,
alternando entre o neutro, erva, pedra, água e fogo. Como seria de esperar, os
inimigos terão também os seus pontos fracos, pelo que a escolha dos elementos
certos irá afetar diretamente os combates. Tanto Cereza como o demónio têm
ainda as suas árvores de habilidades, com as quais poderão adquirir mais
poderes e novos ataques, dando assim utilidade a todos os "cristais" que se
vai colecionando durante a exploração.
É também com a aquisição de novos elementos que a capacidade de exploração da
floresta se expande, permitindo aceder a novos locais anteriormente
bloqueados. Se a visita a alguns destes faz mesmo parte da história principal,
em todos as zonas da floresta existe um bom número de segredos totalmente
opcionais, mas que irão recompensar quem gosta de explorar tudo e reparam em
todos os pormenores. Algo que irá ajudar os colecionadores é o facto dos mapas
passarem a revelar o local de todos os pontos de interesse de uma zona, depois
do jogador a ter libertado de todos os portais-cristais amaldiçoados desse
local. Quais portais? Um pouco por toda a parte, as fadas amaldiçoaram esta
floresta através de uns portais cristalizados que permitem distorcer tudo em
seu redor. Ao atravessar cada um destes portais, Cereza irá encontrar sempre
um desafio diferente, com uns mais focados em combates e outros recheados de
puzzles e plataformas.
Tal como as personagens, Cereza and the Lost Demon é um jogo que cresce à
medida que se vai jogando. O sistema de combate começa lento, até mesmo
tranquilo, e acaba intenso e quase automático num premir frenético de botões
ao bom estilo da Platinum Games. Da mesma forma, os puzzles e a própria
história crescem e surpreendem de uma forma que, com base nos primeiros
capítulos, os jogadores dificilmente irão esperar. Ainda assim, nem tudo é
perfeito. Se o jogo é quase sempre deslumbrante em modo portátil,
especialmente numa Nintendo Switch OLED, na TV deixa logo a desejar uma melhor
resolução. Já um ponto positivo reside nas opções de acessibilidade, que
permitem a qualquer momento passar alguns movimentos mais complexos para
automáticos, bem como ajustar a dificuldade e a intensidade de combate, por
exemplo. Isto não evita que, de vez em quando, lá se fique a pensar que mão é
que está a controlar qual personagem, claro.
Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon é uma curiosa mistura de contos
infantis e toda a mitologia do universo Bayonetta. Uma história que mistura
uma bruxa pré-adolescente, um demónio -peluche e fadas maléficas, com momentos
cómicos, sérios e emocionantes. Tudo isto acompanhado por um fantástico estilo
artístico de um livro ilustrado que nos faz querer sempre ver a página
seguinte.
Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo
Switch, gentilmente cedido pela Nintendo.