Wo Long: Fallen Dynasty


Se há equipa capaz de nos trazer um bom jogo ao estilo Souls, além da From Software, é a Team Ninja. Comprovaram-no em Nioh, adaptando bem o género, mas trazendo algo de diferente, que evoluíram na sequela, criando então uma série que ficou por aí. Na prática criaram um Dark Souls passado no Japão, coisa que a From Software acabou por fazer ao lançar Sekiro, que na altura parecia uma espécie de resposta a Nioh. Entretanto passaram-se 4 anos e a Team Ninja traz-nos Wo Long: Fallen Dynasty, que parece ser… uma resposta a Sekiro?


Tal como Nioh, Wo Long é baseado em eventos históricos, mais concretamente a dinastia Han que ocorreu durante o século II na China, trazendo consigo um leque de personagens baseadas em figuras históricas, aqui misturadas com imensa mitologia do folclore chinês, entre demónios e criaturas divinas. No centro da história estão fábulas sobre um poderoso Elixir capaz de dar forças inimagináveis a quem o consome, mas trazendo consigo o caos e possivelmente o fim da dinastia Han. Pelo meio surgimos nós, embebidos com uma força mística que poderá ser a salvação, e durante a nossa aventura vamos conhecendo vária figuras históricas que nos acompanham na nossa demanda. Ela que se resume a espalhar um banho de sangue ao matar os imensos inimigos que nos surgem pela frente, entre humanos, demónios e uma espécie de zombies equipados com diversas armas, mas com movimentos típicos dos mortos-vivos. São criaturas de todos os tamanhos, algumas que parecem não ter quaisquer problemas em partir todos os nossos ossos usando apenas as suas mãos.

Sendo a sua essência dentro do género, a jogabilidade e o seu combate são um vício tremendo, que põem à prova os nossos reflexos e, aqui, é onde senti as influências de Sekiro. Defender, desviar ou defletir ataques dos inimigos são as mecânicas mais importantes do jogo, é com elas que criamos oportunidades de contra-ataque ao atingir os inimigos com golpes fatais, tomando sempre atenção à nossa barra de stamina, a Spirit Gauge, para não sermos apanhados desprevenidos. Todo o combate é rápido, frenético, com ataques e habilidades que encadeamos uns atrás dos outro, uma espécie de dança que os inimigos também acompanham pois sabem-se desviar, defender, bloquear os nossos ataques e contra-atacar de seguida, colocando-nos facilmente em risco. As personagens que vamos conhecendo também nos podem acompanhar nestes combates ao usar um item que as invoca, e por vezes até fazem logo parte da equipa por motivos de história, criando uma equipa que vai até 3 membros. É uma ajuda preciosa, mas por algum motivo têm pior desempenho que os inimigo, pois são incapazes de se defender e estamos nós sempre a ajudá-los, ou têm um péssimo hábito de alertar o inimigo e quando damos por ela temos uma dúzia de demónios em cima de nós.


Fugindo um pouco às recentes tendências de criar videojogos com open-worlds ou mapas recheados de exploração com várias missões, Wo Long é um jogo linear e com uma estrutura clássica de níveis onde cada cenário é uma missão apenas, algo que francamente agradeço pois nem tudo tem de ser feito com mapa gigantescos. Uma experiência bem executada, assente num bom RPG onde vamos moldando ao nosso gosto a nossa personagem, entre o foco a um combate mais ofensivo, defensivo ou nas magias que vamos desbloqueando. Mesmo sendo cenários mais fechados existem surpresas, e mesmo o desafio do combate não é tudo, pois à medida que avançamos temos um conjunto importantes de bandeira a erguer. Algumas são os típicos pontos de descanso onde podemos subir de nível e, sempre que usamos, os inimigos regressam à vida, enquanto outras menores simplesmente nos curam, mas todas elas fazem subir a nossa moral, o que se traduz na facilidade com que vamos derrotar os inimigos. É uma espécie de nível que nos ajuda a perceber se somos capazes de derrotar um tigre gigante ou um macaco enraivecido, que ao derrotar estes e outros inimigos além do Qi ganho para subir de nível também no fazem aumentar a moral, embora que pouco.

Neste jogo quando somos derrotados o nosso Qi não se transforma numa simpática fonte luminosa que podemos resgatar, mas perdemos na mesma metade do nosso Qi e a nossa moral cai para o nível base que aumentamos ao erguer bandeiras. Ao mesmo tempo o inimigo que nos derrotou fica com o nosso Qi e moral, tornando-o mais forte e num alvo bastante apetitoso pois quando o matamos recuperamos o que é nosso, numa interessante mecânica de vingança onde podemos até vingar as mortes de outros jogadores, resultando num tipo de moeda diferente que podemos usar para comprar diversas coisas. Há ainda dinheiro e itens que usamos para melhorar o nosso equipamento, tendo à disposição um leque enorme de armas diferentes com estilos de combate diferentes onde facilmente encontramos aquela que nos agrada mais.


Mesmo com um foco na ação frenética e combates difíceis… não achei que fosse um jogo difícil. Não que eu tivesse demasiado forte ou com níveis acima do esperado, até porque nem investi tempo no típico grind, mas como gosto de explorar os mapas na totalidade encontrava sem dificuldade as bandeiras, que por sua vez aumentava a minha moral e baixava a dificuldade em todos os combates. Onde senti uma maior dificuldade foi mesmo no primeiro boss do jogo, pois fui diretamente lutar contra ele e estava bem abaixo da moral pretendida e, só depois de perder umas 10 vezes seguidas é que reparei que podia explorar o mapa, até porque não havendo um mapa em si não sabia que faltavam coisas para ver. Já nos capítulos seguintes não senti dificuldades, fora um ou outro pico foram vários os bosses que derrotei à primeira e tranquilamente. Ainda assim houve momentos de frustração, mas nada que não estivesse à espera, pois faz parte do ADN da coisa.

Visualmente este é um jogo rico em detalhe, das personagens aos cenários que nos transportam para a China e settings bastante diferente entre capítulos, sem graves quebras de fluidez fora um ou outro momento específico, isto a correr numa Xbox Series X. As sequências de história estão boas, entre as que são contadas através de ilustrações às do próprio jogo, mas quanto à história em si? É fraquinha, com diferentes capítulos que quase perdem a ligação entre si, com um enredo principal à volta de um Qi maligno e o tal Elixir fantástico que nos esquecemos da sua existência até ser novamente mencionado. Há muito a falta de um fio condutor, tendo até mesmo momentos em que terminamos um capítulo, avançando para o seguinte com um intervalo de tempo incógnito e as mesmas personagens a falarem conosco como se não nos vissem a décadas. Ainda assim, e com uma história que parece acessório, gostei do tema explorado, principalmente por ter jogado com as vozes em chinês o que ajudou imenso na experiência.


Acima de tudo Wo Long: Fallen Dynasty é um bom jogo, divertido e com algum desafio, mesmo que não tenha tido grandes dificuldades. Ao buscar muito do que aprenderam em ambos os Nioh, tal como mecânicas retiradas daí como a criaturas divinas cuja força podemos invocar em combate, a Team Ninja regressa com uma forte aposta no género que pode atrair de novo os fãs do género, ou ainda trazer novos jogadores, principalmente os fãs de jogos de ação frenética.


Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Xbox Series X|S, gentilmente cedido pela Ecoplay.

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