Cult of the Lamb


Já alguma vez sonharam em estar à frente de um culto? De ser um messias na Terra? Ser o enviado de um deus esquecido? Ora, tal pode não ser algo exequível (ou desejável, a meu ver) no mundo real, mas desde dia 11 deste mês é totalmente possível de ser alcançado no mundo digital. No mundo da mais recente proposta da Devolver Digital (em conjugação com o estúdio Massive Monster), o jogo chamado Cult of the Lamb. 

Um jogo que combina o género roguelike com elementos de gestão e ação, Cult of the Lamb coloca-nos na pele de, como o próprio título deixa de resto implícito, um carneiro. Carneiro este, sem nome, cuja vida está prestes a ser sacrificada aos deuses das terras antigas, os Old Ones. Isto deve-se a uma profecia que dizia que um carneiro iria servir de hospedeiro para um outro deus banido, o sombrio The One Who Waits. Todavia, e sem saberem , ao fazer isto, os Old Ones estavam a tornar possível aquilo que queriam de todo evitar. O espírito do carneiro recém-falecido vai parar à presença do The One Who Waits, que procede à sua imediata ressurreição, incumbindo-o da tarefa de criar um culto que espalhe a sua palavra no velho mundo e traga o seu renascimento. O carneiro torna-se então no seu sumo-sacerdote. A sua missão passa por recrutar seguidores e espalhar a palavra do "novo" deus. 


A forma como tal é feito será através da exploração, inicialmente de Darkwood e mais tarde de novas localizações. À espera do jogador estarão inúmeras criaturas endémicas ao local, assim como seguidores da religião vigente. O fim de cada área terá um adversário mais poderoso que os restantes, na forma de um mini-boss. Curiosamente, o primeiro mini-boss de Darkwood (há mais do que um e ainda um boss final), foi o primeiro seguidor que ativamente recrutámos, numa primeira área que serve maioritariamente como tutorial. Para além dos seguidores, será na exploração destas zonas que iremos obter as matérias primas necessárias para usarmos na nossa zona hub, onde a gestão do culto e a interação com os nossos seguidores, assim como o level-up do próprio protagonista pode ser feito. As zonas de combate, que são diferentes de cada vez que lá vamos (daí o elemento roguelike do jogo), têm diferentes tipos de armas, que podemos usar na mesma, assim como pedaços dos mandamentos do deus aprisionado. Mandamentos esses que, uma vez reunidos, (normalmente estão divididos em três pedaços) irão permitir a realização de rituais e aceder a novas atividades que poderão ser efetuadas com os seguidores.

As zonas de batalha serão também uma forma de avançar a história e conhecer novos NPC's, os quais nos irão ajudar, seja através de cartas de tarot mágicas, quer através de itens ou de corações. As cartas funcionam como uma espécie de upgrade temporário, que irá tornar a nossa personagem mais resistente, ágil, forte ou sortuda, dependendo da escolha feita. Os itens podem ir de armas mais poderosas, magias mais eficazes ou matérias primas, que no início do jogo pode afigurar-se como sendo poucas. Os corações, que funcionam como barra de energia, são tudo o que separa o nosso pequeno carneiro de uma nova morte e renascimento, uma vez que o Who Waits não permite o nosso falecimento definitivo. Para além dos típicos corações vermelhos, que servem de barra inicial, temos os azuis que funcionam com uma espécie de proteção extra. O sucesso nestas áreas de combate irá residir na forma como iremos guiar a nossa personagem na batalha. Para quem está habituado a jogar Zelda, o gameplay de combate, embora seja ligeiramente mais simples, será bastante familiar. A nossa personagem usa uma arma para o combate próximo e magia, aqui chamada de curses, para a distância. O roll servirá como forma de defesa, permitindo ao nosso carneiro sair da linha de fogo com relativa facilidade. 


Contudo, ou antes sobretudo, Cult of the Lamb não se limita a estas áreas. Mais adiante será possível ao jogar aceder a áreas habitadas por diferentes NPC's, que nos irá permitir jogar curiosos mini-jogos de dados, conseguir ainda mais matérias-primas e mais detalhes naquilo que à história diz respeito. Para além destas áreas "extra", Cult of the Lamb tem uma espaçoso hub no qual vive o nosso culto. É aqui que o jogo adquire uma componente sim de sobrevivência e gestão, uma vez que serão as nossas ações neste local que vão determinar o nosso sucesso ou insucesso no jogo. É aqui que iremos utilizar as matérias-primas reunidas fora da hub para criar as estruturas necessárias para estabelecer um culto bem sucedido. É certo que o hub também dispõe de algumas matérias, todavia, estas não são, nem de perto nem de longe, suficientes para alimentar os seguidores que formos convertendo à nossa causa. Estes, que podem ser encontrados nas áreas de combate, devem ser alimentados e estimados, de forma a manter a sua devoção e lealdade em níveis elevados. Comida queimada ou falta dela, assim como ignorar os apelos individuais de cada um dos nossos seguidores podem ser fonte de desunião, que por sua vez irá conduzir ao surgimento de "serpentes no paraíso".

Cabe ao jogador primeiramente criar uma cozinha (que lhe permitirá fazer pratos comestíveis para serem consumidos pelas massas), uma igreja (onde fará sermões diários, divulgará a palavra divina e irá efetuar rituais para restabelecer ou reforçar a fé do rebanho), campos aráveis (para o cultivo de comida nutritiva), um ídolo massivo (que irá absorver as preces dos convertidos e transformá-las numa espécie de experience points, que permitirá ao jogador desbloquear novas habilidades) e um local de dormida, entre muitas outras coisas. Igualmente, interessante temos que ter em atenção, para além da fome e da fé, a doença. Isto é, devemos enterrar os mortos devidamente, assim como reunir todos os dejetos deixados pelos nossos seguidores, podendo mesmo usá-los como adubo no campo. Outra forma de conseguir manter a devoção dos seguidores alta passa pela realização de pequenos pedidos pessoais, vindos destes, assim como a atribuição de prendas individuais. Manter um elevado e leal grupo de seguidores é a chave para o fortalecimento do nosso protagonista. Sem eles, o sucesso (como já mencionei brevemente acima) não é possível.

E tudo isto é apenas um mero "scratch the surface" de todo o gameplay disponível em Cult of the Lamb. À medida que formos avançando, novas coisas ficarão disponíveis para serem usadas. Desde matar dissidentes e usar os restos para alimentar os outros (um twist bastante macabro e sinistro), até curses e armas mais fortes, com as quais iremos enfrentar os bosses finais de cada área. 

Um jogo que visualmente faz-nos lembrar os desenhos animados do Cartoon Network, Cult junta o aspeto amigável e visualmente apelativo do carneiro e dos seus seguidores, contrabalançando-o com  o aspeto mais macabro da oposição. Belos visuais, cheios de contrastes e cores, às quais se junta uma banda-sonora que vai do 10 passivo ao 100 ameaçador num instante.

Cult of the Lamb é um jogo deveras interessante, repleto de desafio e com um visual deslumbrante. Perdoa-se o gameplay de combate mais simplista, o pico de dificuldade inicial (que é elevado, sobretudo no que à manutenção do bem estar dos seguidores diz respeito) e a sensação de alguma repetição. Este é um jogo que deve ser experimentado até por aqueles que não são grandes fãs do género. 

Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para o Steam, gentilmente cedido pela Devolver Digital.

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