Saints Row (2022)

O novo Saints Row, da Volition, apresenta-se como um reboot da franquia, depois de o último jogo ter introduzido super poderes e extraterrestres a uma série já por si só fora do normal. E será que este reboot foi bem-sucedido? Bem, nem por isso. A Volition apresenta-nos uma história pouco interessante ou memorável, num mundo sem identidade, vivido por personagens com pouca ou nenhuma profundidade. Será então Saints Row um fracasso total? Talvez não.

Tu és The Boss, uma personagem 100% customizável, que vive com os seus amigos na cidade de Santo Ileso. Esta cidade é também a casa de 3 fações criminosas: Los Panteros, uma gangue hispânica cujas personalidades dos seus membros se resumem aos seus carros, The Idols, um grupo anarquista que parece ter sido importado diretamente do universo de Watch Dogs 2 e Marshall, uma empresa de segurança privada que conta com uma grande conta bancária e acesso à tecnologia de armamento mais avançada.

Os companheiros de The Boss são Eli, o pacifista intelectual, Neenah, a condutora durona e Kevin, o obcecado com redes sociais que, por alguma razão, nunca veste uma camisola. É com eles que criamos o novo grupo criminoso de Santo Ileso: The Saints, para fazer frente às outras 3 fações e, claro, pagar a renda. Infelizmente, esta é toda a profundidade que estas personagens têm, dando a impressão de que apenas existem para motivar The Boss a progredir na história.

Por outro lado, o combate de Saints Row é bem pensado e bem executado, pecando apenas pela falta de opção de nos escondermos ou agacharmos atrás de cobertura, o que muitas vezes me obrigou a correr à volta de um obstáculo que me desse a cobertura necessária durante uns preciosos segundos. O sistema de finalizações desenvolvido pela Volition, que serve não só para eliminar um inimigo de forma imediata, mas também para recuperar vida é uma ideia vencedora, contornando o típico pára-arranca de outros jogos, causado pelo constante recurso a um menu para tomar algo que reponha a saúde da nossa personagem. Existe uma variedade razoável de armas, desde o típico taco de beisebol com pregos ao ligeiramente mais perigoso Rocket Launcher, que mantêm o combate fresco, sem que se torne demasiado complicado.

A condução está longe de ser perfeita, e apesar de existir variedade no que toca ao tipo de veículos a que temos acesso, nem sempre senti isso quando me sentei atrás do volante, já que a sensação de conduzir um carro desportivo é demasiado semelhante à de conduzir um camião ou um autocarro. Além dos veículos terrestres, tive a oportunidade de viajar pelo rio de Santo Ileso e sobrevoar a cidade, mas são escassas as ocasiões em que Saints Row nos convida a fazer uso de barcos ou helicópteros.

O ponto forte de Saints Row é, como seria de esperar, a customização. Desde The Boss, aos veículos que conduzi, às armas que usei, à base de operações dos Saints, deixar as coisas como estão é um crime. Infelizmente, a criatividade não é o meu forte, nem tão pouco é a minha paciência, mas se fores mais talentoso (e paciente) que eu, não há dúvida que vais dar bastante uso às quase ilimitadas opções de customização presentes em Saints Row.

O sistema de construção de um império criminoso (neste caso, o império dos Saints), típico da franquia, também marca aqui presença, mas como uma ideia que carece aperfeiçoamento. É através da construção de estabelecimentos ao longo da cidade que desenvolvemos o império dos Saints, criando negócios que servem de fachada para atividades criminosas. Por exemplo, uma lavandaria que esconde um negócio de limpeza de cenas de crime, ou carrinhas de street food que transportam droga por Santo Ileso. Cada um destes empreendimentos proporciona um certo número de missões que, quando completadas, aumentam o rendimento dos Saints. Infelizmente, a Volition não conseguiu perceber quais as missões que seriam bem recebidas pelos jogadores, e quais é que não o seriam, já que rapidamente descobri que as tarefas mais aborrecidas ou menos imaginativas eram as mais comuns, limitando aquelas que eram realmente divertidas a 3 ou 4 missões. O que me deixou mais desapontado foi sem dúvida o empreendimento chamado "Let's Pretend", uma loja que vende tudo o que é preciso para organizar uma festa, incluindo disfarces de que os Saints se servem para praticar assaltos à mão armada. Imaginem a minha frustração quando descobri que o meu papel nestes assaltos seria apenas o de motorista de fuga.

Em última análise, Saints Row tenta encontrar a sua identidade na fronteira entre GTA e Just Cause, mas não consegue atingir o nível de nenhum destes jogos, e apesar de mostrar bastante promessa nos seus primeiros momentos, é incapaz de construir uma história memorável ou fazer algo verdadeiramente único. Apesar disso, não deixa de ser um jogo divertido com bons momentos de entretenimento, com sistemas de combate e customização que fazem o suficiente para merecer presença numa potencial sequela. Se isso não for suficiente, há um gato.


Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para PS5, gentilmente cedido pela Volition.

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