Reverie Knights Tactics


Desenvolvido pela 40 Giants Entertainment e publicado pelo estúdio 1C Publishing EU, Reverie Knights Tactics é uma das mais recentes propostas para a Switch no que a RPGs de estratégia diz respeito. Inspirado pelo universo de fantasia brasileiro que dá pelo nome de Tormenta, Reverie retira a sua história de uma mini-série que remonta a 2004 e que dá pelo nome de Dungeon Crawlers. Curiosamente, uma hq (história de quadradinhos, como diriam os nossos congéneres brasileiros) que eu tive a oportunidade de ler e adquirir no seu ano de saída, cortezia da editora Mythos. 

Reverie Knights aprimora a história de Dungeon Crawlers, dando-lhe mais substância, mais essência, embora mantenha a base narrativa intacta. Como em 2004, também agora a aventura toma lugar no continente de Lamnor, onde assumimos o controlo de uma jovem sacerdotiza da deusa Tanna-Toh, Aurora, enquanto ela lidera uma expedição ao distante continente de Lamnor com o duplo intuito de resgatar não apenas uma primeira expedição que para lá havia sido enviada, mas também para salvar o conhecimento perdido dos elfos de Lenórienn. De ressalvar que o líder da expedição anterior era, nem mais, nem menos do que o próprio pai de Aurora, também ele um sacerdote de Tanna-Toh, chamado Marius. Este desapareceu algures nas ruínas de Lenórienn e Aurora teme que tenha perecido nas mãos dos principais antagonistas do jogo, os sanguinários Hobgoblins de Rarnaakk.

Felizmente a nossa heroína não estará sozinha nesta sua demanda, pois irá contar com o auxílio da sua melhor amiga, uma cavaleira esfomeada chamada Brigandine, um golem sábio de nome Hellaron e um dos últimos elfos sobreviventes da destruição de Lenórienn, o impulsivo Fren. Estes quarteto não poderia ser mais distinto. Não apenas nas personalidades, mas também nas habilidades.




Aurora manipula e cria gelo, usando-o como sua arma de ataque e defesa. Com um elevado grau de magia inicial, Aurora peca por ser a mais débil das personagens no que a resistência física diz respeito. Brigandine, a segunda a juntar-se ao grupo, não tem habilidades mágicas per se, mas potentes ataques físicos, assim com um maior grau de defesa. O elfo Fren, como que a igualar a sua personalidade selvagem, é rápido e mortífero, adotando um misto de ataques físicos letais, com algum grau de magia (normalmente assente na manipulação da natureza em redor, e não só). Curiosamente, Fren, que servirá de guia para a expedição na sua viagem rumo às ruínas de Lenórienn , surge como um dos primeiros bosses do jogo, antes de se juntar à nossa party. Hellaron, será o último a aderir ao grupo, que em muito irá beneficiar das suas capacidades de cura, regeneração e de criar miragens (decoys muito importantes para a estratégia de certas batalhas). 

Todas as personagens têm um conjunto de atributos, skills e equipamento que pode ser (e deve) customizável com o decorrer da aventura. A cada vitória, os nossos heróis irão ganhar experiência, o que por sua vez irá conduzir a uma respetiva subida de nível e esta irá levar a pontos que poderão ser atribuídos a um de três atributos. Temos a Might, que diz respeito à força do nosso ataque. Segue-se a Finesse, que determina a nossa probabilidade de conseguir critical hits com mais frequência. Por último, temos a Defence, que indica não apenas a nossa durabilidade em combate, mas também a nossa resistência a status negativos (envenenamento, sangramento, confusão, sono, entre outros). Com a subida de nível, fruto da experiência em combate, irão subir também status como a nossa barra de energia, de magia e o nosso foco. Este último serve para conseguirmos aceder a ser ataques especiais, normalmente mais destrutivos do que a simples magia. De igual modo, teremos também a obtenção do chamado status, características individuais que vão variar de personagem para personagem. 

O equipamento consiste em amuletos e pergaminhos encontrados no decurso da aventura e que uma vez decifrados, permitem às nossas personagens melhorar ainda mais os seus dados estatísticos, Por último, temos as skills que não são mais do que as habilidades mágicas a serem usadas em batalha. Tanto o equipamento, como as skills têm apenas três slots, sendo que devemos ponderar bem sobre como usar esse espaço reduzido, da forma mais produtiva possível. De salientar que no que às skills diz respeito, o jogador deve escolher entre duas, aquando da subida de nível. Uma escolha que irá, como veremos mais à frente, afetar o compasso moral da nossa protagonista. Fazendo-a pender mais para o caos, ou mais para a ordem.



Ao nosso quarteto junta-se um grupo de NPC's. São eles: o pirata arrogante Halyeras, a pessoa que nos trouxe ao continente e que gere o acampamento de Aurora, para além de ser aquele que nos irá desenvolver bombas ofensivas com o material que trouxermos do campo de batalha; o cozinheiro entusiasta Garlos, que ao contrário de Halyeras, usa as sementes e frutos conseguidas durante as batalhas ou na exploração das hubs do jogo, para criar itens que irão servir para restabelecer física e mentalmente as nossas personagens; a diminuta fada Nyra, cuja principal função é a de servir como portal entre hubs; Bharatt, um goblin que serve a deusa Tanna-Toh e que por uma pequena quantia de cogni (a moeda do jogo), traduz manuscritos e com isso torna-os utilizáveis. Todos eles podem ser encontrados naquilo que chamei de hubs do jogo. O Camp ou o Lookout servem como zonas de descanso e de interação com os membros da nossa party. Para além disso, é sempre possível vasculhar pelo cenário em busca de itens perdidos. 

Relativamente à questão do compasso moral de Aurora, este será ditado pelas escolhas que esta irá tomar, não apenas nas habilidades que opta por usar, mas sobretudo pelas suas ações como líder da expedição. Estas ações terão um impacto significativo na relação com o resto das personagens e na maior ou menor dificuldade em bater certos cenários. 

Ora isto serve de ponto de partida para falarmos acerca do gameplay de Reverie. Este assenta na estrutura típica de um RPG de estratégia por turnos, com as nossas personagens, assim como as do adversário, a moverem-se num campo de batalha que mais se assemelha a um tabuleiro de xadrez. Devemos ter em atenção não apenas o campo de Acão do inimigo, mas também as próprias características do cenário, uma vez que teremos muitos hazards (barris explosivos, heras, entre outros) que poderão ser usados a nosso favor. O ataque direto raramente é uma boa opção neste jogo. Um empurrão na direção de uma dessas armadilhas, um backstabbing (que provocará mais dano), magias de proteção ou ataques à distância serão elementos que devem ser explorados. De igual modo, ataques conjuntos (que podem ir de dois a quatro) são particularmente devastadores e encorajados. Muito relevante, no que à estratégia diz respeito, o jogador deve estar atento aos chamados Action Points, estes podem ser usados para atacar, movimentar a personagem, entre muitas outras coisas. O uso imponderado destes irá tornar o jogo muito mais difícil.



Entre os muitos inimigos presentes neste jogo temos animais selvagens como o Bugbear ou o Dogblin, espíritos amaldiçoados como os Skullar, até demónios e membros do exército Hobgoblin (que alternam entre as mais variadas classes). Para conseguir obter a vitória, o jogador deve superar emboscadas, derrotar todos os adversários do cenário, sobreviver, derrotar um boss, entre outros. Pelo meio, teremos ainda a certas áreas onde a incidência será na resolução de puzzles, que por sua vez nos permitiram aceder a novos locais ou desbloquear baús. 

Um título com auto-save e três níveis iniciais de dificuldade, Reverie pode não ter a banda sonora mais trabalhada, pecando até por repetitiva, mas possuí uma qualidade nas personagens e cenários que é de salientar. Um salto acima, sobretudo para que conhece a hq original. O detalhe colocado nos ataques conjuntos e na mera movimentação das personagens é bastante bem conseguido. Os campos de batalha são distintos o suficiente, alternado entres as escarpas rochosas das montanhas e os campos verdejantes da floresta, até aos acampamentos dos Hobgoblins e às minas escuras repletas de seres demoníacos.

Com uma história que se vai desenvolvendo a bom passo, uma boa interação entre o cast de personagens e uma dificuldade ajustável, Reverie é uma boa surpresa num género que vive uma nova época dourada.

Nota: Análise efectuada com base em código final do jogo para a Switch, gentilmente cedido pela 40 Giants Entertainment.

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