Someday You'll Return
Um jogo independente que nos chega da Repúplica Checa, inserido no género do terror psicológico que faz recordar jogos como Outlast no que diz respeito a jump scares e ao absurdo, Someday You’ll Return varia entre a realidade e o imaginário, onde Daniel, protagonista do jogo, dirige-se a uma floresta em busca da sua filha Stela, que fugiu de casa, no entanto isto é apenas o começo.
O jogo começa com uma misteriosa rapariga que acaba por ser atacada por um monstro, que mais tarde ficamos a saber que é conhecido por The Beast. Entretanto, controlamos Daniel, que conduz em direção à floresta com uma música cativante, sublinhando que embora o jogo não esteja repleto de músicas, a banda sonora é um dos melhores aspetos do jogo. Enquanto conduz, Daniel recebe uma chamada da sua mulher Ida, com uma pequena discussão acerca da filha Stela não se encontrar na escola e assim sendo, Daniel vai a toda a velocidade ao seu encontro na tal floresta. O jogo não dá muitas pistas inicialmente, no entanto e principalmente mais perto do fim, o jogo começa a fazer sentido.
Para não deixar spoilers, para além desta busca incessante por Stela, Daniel irá revelar os motivos que levaram a filha a fugir de casa, o porquê da má relação e separação do casal e, qual a razão de ser esta floresta em específico. O jogo é basicamente, uma aventura pelo purgatório, com isto quero dizer que, Daniel terá de se redimir de todo o mal causado à família e livrar-se assim, dos pecados e erros realizados no passado. A história é muito interessante assim que tudo se encaixa e demonstra que afinal, Daniel, não é nenhum “santinho”, pelo contrário.
Já que estamos a falar em Daniel, a personagem tem a mania de ser um durão, usando palavras menos apropriadas, um indivíduo nervoso e stressado com tudo, o jogador sentirá todo este ódio vindo do jogador que chega mesmo a impressionar. Os monólogos mostram a personlidade de Daniel bem vincada e um osso duro de roer. É interessante de assistir como o personagem é moldado ao longo do jogo conforme as consequências. Existem mais 4 personagens que vão surgindo ao longo desta horrível aventura o qual vão apoiar Daniel nesta jornada.
Deixemos a narrativa de lado e falemos nos outros aspetos do jogo em si. Baseado numa floresta verídica localizada cerca de Brno, segunda maior cidade da República Checa, na qual grupos de escuteiros se juntavam para as suas atividades. É uma floresta que os jogadores podem perder-se e, vão certamente perder-se em vários momentos. Não é fácil de navegar, nem sempre o GPS do telemóvel funciona ou, por vezes, Daniel perde o próprio dispositivo e volta a recuperar por razões que não serão mencionadas na análise. Há momentos que o jogador terá de se guiar pelo instinto que, por um lado é interessante o facto de explorar os trilhos existentes, por outro pode ser massador pois o jogador pode perder-se facilmente.
A floresta está preenchida e bela, todo o tipo de árvores, plantas e folhas verdejantes. Falando nas plantas, a partir de um momento, o jogador irá recolher um instrumento para criar poções. Este é um sistema interessante, o qual o jogador terá de recorrer com alguma frequência. Existem cerca de 5 poções com efeitos diferentes. Para a sua criação, o jogador terá de recolher várias plantas diferentes que terão de ser misturadas, trituradas e deitadas numa panela para realizar a poção. Uma poção dará a possibilidade “ouvir” vozes na floresta, já outra servirá para eliminar as vertigens de Daniel. As plantas são fáceis de encontrar por toda a floresta, outros objetos é que não. Uma das missões secundárias é o recolher de papéis de rebuçado, aqui podem encontrar um verdadeiro desafio visto que pelo menos uns 50 estão espalhados, visto que consegui recolher para cima de 20 e ainda assim faltavam imensos.
O jogo obriga o jogador a explorar as zonas onde se depara com puzzles. Por vezes, torna-se um verdadeiro desafio e assim, puxa imenso pela cabeça para conseguir a resolução do puzzle. Recordo-me de ter ficado a empatar por longos momentos para resolver certos puzzles quando estes estavam precisamente à minha frente. No entanto, outros estão bem nivelados e requerem apenas uns minutos para descobrir como proceder. Um exemplo é, a recolha de parafusos, pedaços de madeira e com este material, montar umas escadas para escalar uma parede. Por falar em escalar, é algo recorrente no jogo e, que podia estar melhor. O jogador irá encontrar paredes as quais poderá escalar. Está interessante o facto de ter de usar cada uma das mãos para o fazer, esticando o braço esquerdo ou o direito para apoiar numa pedra saliente mas, às vezes, é necessário voltar a descer alguns degraus e voltar a subir para escalar na direção certa, que fará perder tempo desnecessário pois tudo foi colocado de forma aleatória e existe apenas um caminho que nos leva ao cimo.
O jogo tem alguns bugs que se fazem notar e até obrigam o jogador a realizar um novo carregamento da última gravação, o que vale, é que os checkpoints até estão relativamente pertos uns dos outros. As vozes também contam com problemas, sempre que alguma personagem diz uma frase, são várias as vezes que a personagem simplesmente não consegue terminar a frase passando à seguinte, se não fossem as legendas, a última palavra de cada frase seria perdida e, acontece várias vezes.
De referir que o smartphone de Daniel tem um GPS que indica os trilhos da floresta para ajudar a seguir o caminho certo, além disso, muitas chamadas serão recebidas as quais Daniel pode ou não atender. É igualmente possível enviar mensagens pré definidas ou simplesmente ignorar. São pequenos pormenores que não deixam de sobressair e ser interessantes de apreciar num videojogo, até detalhes das placas de sinalização com nomes em checo e a própria matrícula do automóvel.
No que diz respeito aos gráficos, o jogo apresenta um bom aspeto e a jogabilidade é boa, exceptuando quando o jogador tem de escalar paredes que poderia de facto sofrer melhorias. E a banda sonora, essa merece um prémio, não que esteja constantemente presente mas, sempre que há música, esta, encaixa na perfeição. Existem músicas de ambiente, arrepiantes e misteriosas como, músicas na própria língua checa e admirável. Um pequeno pormenor é o facto de o jogador poder recolher pautas musicais para em sítios específicos tocar músicas checas numa guitarra clássica, para fazer uma pequena pausa nesta floresta amaldiçoada.
Someday You’ll Return é um jogo muito interessante que tem as suas falhas mas que, para os fãs de Silent Hill, o absurdo e imaginário unidos e os jump scares, acabam por transformar este jogo em uma experiência a não perder, com cerca de 10 horas de jogo e 3 finais distintos consoante as escolhas do jogador.
Nota: Análise efetuada com base em código final para PC via Steam, gentilmente cedido pela Evolve PR.