Trials of Mana


Se há um dos clássicos da SNES que muita gente jogou sem que ele tenha chegado ao ocidente, foi a sequela de Secret of Mana. Previamente conhecido como Seiken Densestu 3, o jogo chegou finalmente cá rebatizado de Trials of Mana, um lançamento através da Collection of Mana na Switch, acompanhando os primeiros 2 jogos da série. Uma surpresa que não veio sozinha pois seria também lançado o remake desse jogo.


Disponível para Nintendo Switch, PlayStation 4 e PC o jogo é idêntico nas 3 versões, sendo que a Switch conta com visuais mais comprimidos e um frame rate menor, embora estável. Não contamos com visuais incríveis, mas todos os cenários apresentam-se bastante detalhados, preenchidos com uma boa dose de inimigos para derrotar e, acima de tudo, muito fiéis ao jogo original. Talvez o que mais estranhei foi a inexpressividade quase total nos personagens, o que muitas vezes parece não acompanhar o voice acting que consegue ter momentos de bastante drama. Isto se optarmos por jogar em japonês onde foi feito um ótimo trabalho, já que em inglês é simplesmente bizarro em várias ocasiões.

O salto do 2D para as três dimensões foi muito bem conseguido, recheado de referências acompanhadas por novas surpresas, surgindo muito de novo a explorar. Ganhamos uma certa verticalidade nos cenários, os telhados e as traseiras dos edifícios têm tesouros, abrem-se novos caminhos para explorar e novos grupos de inimigos a enfrentar. Somos convidados a explorar bem cada uma das áreas, não só pelos tesouros à nossa espera como uma side quest durante o jogo todo onde temos de encontrar Li’l Catcus, um pequeno aventureiro que nos dá várias recompensas. Tudo isto me levou a explorar todos os mapas a pente fino, certificando-me que tinha descoberto tudo antes de prosseguir para o próximo local.


É certo que os dois remakes anteriores de Sword e Secret of Mana contam com uma boa dose de problemas, mas desta vez Trials of Mana apresenta-se como um jogo bastante diferente do original. Transformou-se num jogo para um jogador com várias mudanças a nível da jogabilidade, evoluindo as mecânicas já presentes no original. De regresso está o sistema de classes onde cada personagem pode optar pelo lado Light ou Dark, acrescentando duas classes finais para cada personagem. Outra novidade é todo um conjunto de habilidades que vamos desbloqueando à medida que subimos de nível (e alocamos os pontos necessários), juntamente com outras que vamos ganhando enquanto avançamos na história.

São sistemas simples e dependendo da classe, cada personagem pode trazer algo diferente para o combate. Por exemplo, se optarmos por uma Riesz com classes ela é mais focada no suporte, enquanto que o lado Dark baixa as estatísticas dos adversários. Todas as classes estão equilibradas, mas em alguns casos podemos ter de pensar um pouco no setup: Duran e Kevin são ambos guerreiros com um forte potencial em curar o grupo, que podemos ignorar seguindo o lado Dark e torná-los em fortes lutadores. Há muito a explorar e, caso não estejamos satisfeitos com o resultado final destas transformações mais para o final do jogo podemos fazer reset às classes dos personagens, escolhendo depois novas combinações, outra novidade bem-vinda, mas que podia ter sido melhor explorada.

Escolher os personagens é mais importante para a história do jogo do que propriamente o que trazem para o combate. Existem 3 cenários diferentes com dungeons e bosses exclusivos e com vilões que ganham mais destaque que outros: Duran e Angela partilham um cenário; Kevin e Charlotte outro e por fim Riesz e Hawkeye. A história brilha no modo como muda dependendo do nosso trio de personagens, com certos acontecimentos a terem mais ou menos detalhe por envolver diretamente um (ou mais) personagens envolvidos, o que em alguns casos causa alguns problemas de continuidade. Mas ver a equipa reagir de maneira diferente, ou até mesmo as interações entre os personagens na equipa levou-me a querer repetir o jogo para ver estas diferenças.


A história e progressão mantêm a sua fórmula linear até certo ponto, onde podemos decidir a ordem em que fazemos um bom par de missões, levando-nos a explorar um bom conjunto de locais, geralmente com um boss à nossa espera no final. São várias horas de jogo que temos pela frente, principalmente se considerarmos os 3 cenários, mas não é um jogo que se estende desnecessariamente. Como novidade é agora possível jogar o capítulo de introdução dos personagens da nossa equipa, em vez de simplesmente ter uma cutscene a explicar a sua história, como acontece no original. As sequências de história surgem com imenso voice acting e não recomendo de todo avançar nos diálogos premindo o botão, já que tal pode avançar essas sequências de maneira estranha, saltando pontos vitais entre diálogos. Ainda a nível sonoro houve uma remasterização da banda sonora embora as músicas se mantenham extremamente fiéis às originais e, a qualquer momento, podemos mudar entre as novas versões das músicas ou as antigas, estas que ainda soam bem atualmente.

A jogabilidade adaptou-se bem ao 3D, sendo bastante viciante andar a derrotar os vários inimigos que nos vão aparecendo, com bosses bastante memoráveis! O jogo em si é fácil, bastante fácil até mesmo jogando em Hard e à nossa disposição vão surgindo novas habilidades que conseguem tornar a nossa equipa em algo completamente overpowered. Mas há muito a explorar, imensos bosses a derrotar e todo um novo capítulo post game que serve de ponte, ligando Trials of Mana ao resto da série. Depois de tudo concluído ganhamos ainda o New Game +, levando todos os itens e habilidades conseguidas para um novo jogo e ainda alguns extras que nos ajudam a progredir mais rapidamente no jogo. Não existindo um cenário “completo” onde assistimos a todos os eventos numa só vez, estes extras facilitam imenso em conhecer tudo o que a história tem para oferecer.


O remake de Trials of Mana vem quebrar bastante o paradigma que os dois remakes anteriores criaram, apresentando-se como um jogo bastante sólido e muito recomendável para os fãs de RPGs, ou até mesmo para quem queira um jogo de ação mais acessível. Há um forte sentimento de nostalgia dos anos 90 neste jogo, mas de todo ele parece ultrapassado.

Nota: Esta análise foi efetuada com base numa cópia final do jogo para Steam, gentilmente cedido pela Ecoplay. 

Latest in Sports