Animal Crossing: New Horizons


"Eu quero voltar para a ilha!", dizia o náufrago em Maré Alta, antigo programa de humor na SIC. O mesmo viria a dizer Jack num marcante episódio da série LOST, com o inesquecível "We have to go back!"... Há qualquer coisa especial na imaginação de se poder viver numa ilha afastada da civilização, longe dos problemas comuns e com novos mistérios para exploração. Algo que todos poderão agora experimentar em Animal Crossing: New Horizons.

Animal Crossing é uma série peculiar, tendo começado como uma espécie de cruzamento entre Harvest Moon e The Sims, mas com uma identidade muito própria. Afinal, tanto é sobre personalização e jardinagem ou decoração, como é de colecionismo, socialização... acima de tudo, um descontraído escape do mundo real, onde o jogador vive numa pequena localidade, rodeado de adoráveis animais antropomórficos. Em Animal Crossing: New Horizons, todas as características da série estão de regresso, mas com todo um novo nível de profundidade.


Tudo começa com uma irresistível proposta da empresa do Tom Nook: venha viver para uma ilha deserta! Ao ligar o jogo pela primeira vez, está-se precisamente no balcão da empresa, onde são apresentadas quatro ilhas geradas aleatoriamente. Qual delas é que vai ser? Logo a seguir, o passaporte, com foto e dados da personagem que será o avatar do jogador. Só aqui já se sente uma grande evolução desde o jogo anterior, não havendo qualquer distinção de género da personagem nos visuais que se pode escolher, sendo que a personalização estará sempre disponível durante o jogo também.

Uma ilha deserta, mas não solitária. Juntamente com o protagonista, irão dois aventureiros que também se juntam à experiência, assim como o próprio Tom Nook e seus sobrinhos. Primeiro grande problema: que sítio escolher para colocar a tenda onde se vai viver? Uma volta à ilha rapidamente deixa perceber que há muitos sítios aos quais (ainda) não se consegue aceder... mas qual será a melhor escolha? Vista para a praia, ou para a montanha? Junto ao centro dos serviços, perto dos outros habitantes, ou precisamente no lado oposto? E os outros dois, deixá-los escolher onde bem lhes apetecer, ou "ajudar" a ficarem precisamente onde se quer? Se em jogos anteriores da série havia sempre o risco de um novo habitante construir uma casa mesmo à frente da do jogador, em New Horizons há controlo total sobre todas as localizações.

De repente, afinal a ilha já não está assim tão deserta! Já agora, que nome dar a esta ilha?
Se calhar é melhor ir descansar...


Passada a experiência de introdução, começa a verdadeira experiência com o jogo em tempo real. A data e hora da ilha são exatamente as mesmas do mundo real, com base no calendário da consola, contando como "novo dia" a partir do amanhecer. Mas depois de toda a azáfama da chegada, cada jogador terá a sua própria experiência, cuidando da ilha e fazendo-a progredir ao seu próprio ritmo. Aquilo que para uns poderá demorar uns dias, para outros será feito de um dia para o outro, não havendo nunca um julgamento do que é certo ou errado. O que não irá mudar é o avanço das estações, baseadas no tempo real, alterando aos poucos a experiência da ilha.

Na realidade, seria perfeitamente possível aceder todos os dias ao jogo sem se fazer lá absolutamente nada. Mas se é só para ver as vistas, não ficará melhor ter ali um pequeno banco de jardim? E não seria este um local mais animado se tivesse mais alguns habitantes? À medida que se vão fazendo mais coisas, mais oportunidades vão surgindo de se fazer ainda mais. Apanhar uns insectos e pescar, por exemplo, levam à descoberta que há uma grande diversidade na ilha - talvez se justifique abrir um museu!

Se nos mais antigos jogos da série toda a experiência decorativa se resumia à decoração da casa, aqui toda a ilha é um canvas para a criatividade do jogador, com o aparecimento de novas opções conforme se vai tratando do seu desenvolvimento. Se no início não se consegue sequer atravessar o rio, ao fim de algum tempo já se podem construir pontes. Com umas escadas, já se consegue aceder aos níveis de maior altitude. Começam a imaginar-se caminhos, pensar em diferentes zonas e o que lá se gostaria de ter... até chegar o momento em que deixam mudar o próprio terreno! Desde coisas como alterar a pavimentação para fazer caminhos, até mesmo desviar o percurso de um rio... com tempo e desenvolvimento, o grande limite será mesmo a imaginação!


Tendo começado a aventura, a prioridade passará certamente pela construção de uma casa, onde se possa viver de forma mais confortável do que numa mera tenda. E construída a casa, é preciso tratar da sua decoração... mas se não há quase nada à venda na ilha...

Uma das grandes apostas nesta experiência está no conceito DIY ("Do It Yourself"). Afinal, se a ideia era começar do zero numa ilha deserta, nada como criar as próprias ferramentas, fazer a própria mobília e elementos decorativos com base naquilo que se pode encontrar dentro da ilha. Conforme a ilha desenvolve, também o seu comércio com artigos à disposição, mas nada como fazer as próprias criações. Para desenvolver um item, primeiro é necessário ter a sua "receita", indicando os materiais necessários, como por exemplo pedras e madeira. Depois, basta usá-los na mesa DIY dos serviços da ilha e pronto, móvel feito!

Juntamente com isto, vem um conjunto de melhorias em relação aos jogos anteriores, com um sistema que torna bastante mais simples a colocação de mobília em casa, incluindo decorações na parede. A casa inclui um sistema de armazenamento fácil de aceder com apenas um botão, e que permite guardar tudo, desde mobília a materiais de construção. Com isso, os armários ganharam toda uma nova funcionalidade, um menu com a personagem no centro rodeada por toda a roupa e acessórios disponíveis, para mudar facilmente de visual. Já os espelhos permitem mudar por completo o aspecto da personagem, incluindo com novos penteados que se venham a desbloquear.


Decorações, roupas, melhorias na casa... novas pontes e caminhos na ilha, novos espaços... tudo isso custa dinheiro! Felizmente, também tudo ajuda a fazer dinheiro. Sejam as frutas, peixes e insectos, matérias primas ou até mesmo as criações em DIY, tudo dá para vender... mas nem só de dinheiro é feita a vida nesta ilha.

Existe todo um outro serviço em paralelo, chamado de Nook Miles. Acessível através do "smartphone" do jogo, onde constam outras apps como o mapa da ilha ou a coleção de peixes e insectos, a aplicação de Nook Miles é um serviço de milestones que vai dando pontos conforme se fazem certas coisas. Para além disso, há até uns pontos bónus com pequenas tarefas como apanhar um número de insectos ou falar com vizinhos, que serve principalmente como sugestão de ideias para quando não se tem nada em particular para fazer.

Os pontos aí obtidos permitem depois aceder a todo um catálogo de itens especiais e receitas DIY exclusivas, assim como bilhetes especiais do aeroporto que permitem viajar a outras ilhas desertas, normalmente cheias de recursos naturais que podem ser recolhidos e levados no bolso. Por vezes, estas ilhas aleatórias incluem surpresas como materiais não existentes na ilha principal, ou até mesmo outros animais a passear, que aí podem ser convidados a ir viver para a ilha do jogador.


Mais do que o ponto de chegada da ilha, o aeroporto é o ponto de partida para a grande experiência multiplayer, onde tanto em modo local como online é possível ir visitar as ilhas de outros jogadores. Explorar as ilhas, conhecer os seus habitantes, trocar presentes ou simplesmente ficar a conviver... Infelizmente, não foi possível aceder a esta componente durante o período de análise, mas com base em títulos anteriores é fácil assumir que muito tempo se irá passar tanto a receber visitas de amigos, como a ir visitar as suas ilhas.

A grande novidade multijogador, porém, vem da possibilidade de até 4 pessoas jogarem em simultâneo na mesma consola. Para isto acontecer, o jogo tem uma peculiar caraterística que vem com uma forte restrição: por cada consola Nintendo Switch, só pode existir uma ilha. Essa ilha, porém, pode ser partilhada por até 8 contas da mesma consola, sendo que todos podem lá ter a sua personagem, com a sua própria casa. Com isto, facilmente se passará de uma experiência a solo para algo cooperativo, bastanto pegar noutro comando e dizer quem está a jogar. Uma opção ideal para se reunir a família em frente à televisão, todos contribuindo para o desenvolvimento de uma ilha em comum.

Em contrapartida, esta funcionalidade traz consigo sérias restrições. O facto de cada consola ficar limitada a uma única ilha, faz com que jogadores que partilham a mesma unidade em casa não possam ter cada um a sua. Ou partilham a vida na mesma ilha, ou será preciso mais uma consola e outra cópia do jogo. Por causa disso, o jogo também não é compatível com o serviço de backup das gravações na cloud, pelo que se o jogador fizer login noutra consola, irá criar uma nova personagem numa ilha diferente, não sendo possível transferir os dados de gravação de uma consola para a outra. Segundo a Nintendo, "algum tempo após o lançamento" será disponibilizada via Nintendo Switch Online uma funcionalidade que permite recuperar os dados do jogo, isto "no caso de a consola estar danificada ou ter sido perdida/roubada". Algo importante a ter em conta, especialmente para quem pretenda substituir a sua consola em breve.


Embora este não seja propriamente um título para qualquer jogador, traz consigo um charme ao qual é difícil resistir. Seja a jogar sozinho ou a partilhar a ilha com alguém, seja ao receber visitas de amigos ou desconhecidos... há sempre algo para fazer, mesmo que às vezes isso seja só admirar a paisagem. É um jogo incrivelmente relaxante, com uns visuais que facilmente o colocam entre os mais belos da Nintendo Switch. Momentos como o pôr do sol, uma noite de lua cheia... até mesmo uma fortíssima trovoada. Já por isso mesmo existe todo um "photo mode" que permite tirar screenshots com filtros de cores e outros efeitos especiais.

Uma nota especial vai para a fantástica banda sonora do jogo, que de hora em hora vai mudando de tema. Mas mais do que 24 temas, os mesmos variam conforme esteja bom tempo ou a chover, ou até mesmo conforme o desenvolvimento da ilha, com novos temas que surgem à medida que esta vai progredindo.

É um mundo de escape da realidade, mas também um mundo de união para o qual se podem convidar tanto os amigos como meros desconhecidos, onde todos podem partilhar um pouco de si. Serão incontáveis as horas que cada um irá passar neste universo paralelo!


Como última nota, é impossível não se pensar no timing deste lançamento. Naturalmente, toda a equipa de desenvolvimento ao longo dos últimos anos estaria longe de imaginar que este chegasse ao mercado em plena pandemia global, onde para o bem de todos se aconselha que não saiam de casa. Mas no meio de tudo isto, eis que chega um videojogo onde é possível, por momentos, esquecer o que se passa no mundo real e reunir com familiares e amigos neste mundo alternativo, seja com quem se partilha a casa, seja via ligação online. Ainda por cima, um videojogo ideal para aquisição em formato digital.

Mais do que um mero "simulador", Animal Crossing: New Horizons é um envolvente mundo paralelo, onde cada um pode ser quem quiser, como quiser... e quando quiser voltar para a ilha!

Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Nintendo Portugal.

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