Fatal Fury: City of the Wolves


Foi nos longínquos finais anos 90 que, nas minhas recorrentes visitas às arcades tinha uma incrível oferta de jogos SNK, de King of Fighters a Samurai Showdown. Pelo meio ia descobrindo algumas surpresas como The Last Blade e um que me ficou bem gravado na memória, o Garou: Mark of the Wolves. Um jogo do universo de Fatal Fury passados uns bons anos depois da morte do vilão Geese Howard. Jogo que regressa agora na continuação dos eventos de então, o sétimo jogo da série Fatal Fury.

Fatal Fury: City of the Wolves continua a demanda de Rock Howard a espalhar porrada pela cidade enquanto luta… pela justiça? Bem, a história centra-se nele e outra importante personagem Kain R. Heinlein à procura de respostas por algo que os une, sendo desculpa para o regressar de muitas outras personagens de Fatal Fury, entre elas os icónicos Terry Bogard e Mai Shiranui, personagens que muitas vezes associamos a King of Fighters, mas é de Fatal Fury que eles surgiram.


O que gostava principalmente em Garou: Mark of the Wolves mantém-se também neste novo jogo: uma aposta num leque de personagens diferentes com muitas novidades, não "reciclando" personagens das restantes séries da SNK ao trazer algo de novo, diferente. Algo que resulta em movesets bem diferentes do que estamos habituados, com estilos de luta que dá gozo aprender até encontrar as personagens que mais gostamos, dedicando-nos depois a essas para aperfeiçoar os seus movimentos. Certo, é algo que podia aplicar à maioria dos outros jogos de luta, só que sempre que lidamos com sequelas desses jogos acabamos por nos focar nas nossas personagens favoritas e pouco explorar as novidades. Aqui não temos muitas hipóteses (a não ser que sejam fãs de Mai ou Terry).

Personagens é algo que deu (muito) que falar com este desconhecido jogo, pois temos dois convidados bem especiais do mundo real aqui. O grande destaque foi para Cristiano Ronaldo, a nossa representação como portugueses num jogo de luta que… bem, mais parece uma estratégia de marketing forçada, pois CR7 está como jogável, mas apenas nos modos normais, não contem jogar com ele nem no modo Arcade, nem no modo de história. Já a outra figura conhecida é o DJ Salvatore Ganacci, conhecido pela sua performance no festival Tomorrowland, que aqui está melhor implementado e podemos jogar com ele sem restrições. Ambos são personagens que, bem, digamos que conseguem ser bem competitivos, mas senti que os seus golpes e estilos de "luta" não se inserem tão bem no jogo como gostaria, mesmo quando causam alguma estranheza que me lembrou quando Negan Smith (The Walking Dead) foi introduzido em Tekken 7. Há ainda mais personagens a caminho, entre elas Ken e Chun-Li de Street Fighter que parecem ser o resultado entre as colaborações da SNK e da Capcom, que andam a unir ambos os mundos das suas franchises.


Tal como as personagens, o estilo de jogo de Fatal Fury: City of the Wolves é algo diferente do que podemos estar habituados, continuando o estilo de Garou: Mark of the Wolves, se viermos de registos como Tekken ou Street Fighter. Este é um jogo que se aproxima de King of Fighters ou Fatal Fury, como esperado, atirando-nos com um leque de mecânicas exclusivas e novas que temos de aprender, para o que os adversários não limpem o chão com a nossa cara. A principal mecânica que o distingue do habitual é a de Selective Potencial Gear (S.P.G.) onde definimos se ela surge no início, meio ou fim da nossa barra de vida, trazendo melhorias ou permitindo o uso de determinadas habilidades enquanto estiver ativa.

Habilidades estas que queremos usar para as combinações de ataques normais e especiais, estes que podemos usar dependendo do quão cheia está a nossa barra de energia especial para usar ataques devastadores. A grande novidade deste jogo é a REV Gauge, que aumenta sempre que fazemos vários movimentos, onde convém evitar muito o spam de ataques, pois não queremos "abusar" da nossa sorte. Aumentar a barra para 100% faz-nos entrar em Overheat, limitando-nos um pouco os movimentos, o que nos faz pensar um pouco na estratégia que temos em combate, de modo a não nos colocarmos vulneráveis.


Este é um jogo muito técnico, bem mais do que estamos habituados a outros jogos do género. Aqui a curva de aprendizagem é simples à medida que nos vamos habituando a tudo o que o jogo tem, mas com tantas técnicas este não é propriamente o jogo mais acessível no género, embora tenha um esquema de controlos que automatiza os nossos movimentos, ideal para aqueles que não estão habituados a jogos de luta. É também um estilo de luta que requer muita precisão, o uso de combos e manter o inimigo indefeso sem possibilidade de resposta é obrigatório se quisermos ter uma boa prestação online, algo que me custou a conseguir porque, mesmo com um sistema de ranking, senti que os adversário que me apareciam à frente já dominavam bem o jogo, apesar do seu rank de iniciante.

Há bastante sumo a explorar no jogo, como o modo Arcade que detalha a história de cada personagem individualmente, adornado com ilustrações que nos levam para um estilo de banda desenhada, que se enquadra perfeitamente na direção artística do jogo, mais ilustrada ou de animação japonesa, fugindo ao realismo. Não é um modo que nos vá ocupar assim tanto tempo, não temos propriamente muitos inimigos para derrotar e serve bem para aprender a jogar com cada personagem individualmente, enquanto vamos aprendendo um pouco mais de um jogo que não é propriamente dos mais conhecidos, mesmo sendo do universo Fatal Fury. Há um modo de história bem mais detalhado, o Episodes of South Town (EOST) visto como uma espécie de aventura com toques RPG, onde aceitamos missões (combates) para ganhar experiência e subir o nosso nível, atributos, entre outras regalias. Admito que este modo… não é assim tão interessante. A história arrastava-se, não me prendia e a apresentação toda ela com diálogos cansava rapidamente, isto vindo de um fã ávido de RPG, mas, EOST aproximava-se mais de uma visual novel com combates pelo meio.


Ainda assim os combates divertiram-me muito, foi incrível voltar a um nome que havia conhecido há mais de 20 anos que parecia esquecido pela SNK, tendo aqui um bom potencial para uma nova série a par de King of Fighters. Algo que pode não acontecer, atendendo a reação pouco calorosa ao jogo nos últimos tempos, o que me deixa com alguma pena, pois gosto imenso das personagens, do estilo de jogo e dos sistemas nele implementados, com boas referências ao historial da SNK onde até um nível com dois planos de luta, uma referência aos inícios de Fatal Fury. Há um bom equilíbrio entre ser ofensivo e defensivo no jogo, onde somos punidos por más decisões, mas, gostei de aprender a jogar bem com as minhas duas personagens favoritas: Hotaru e Hokutomaru, tal como conhecer e jogar com as novas personagens.

Sei que não é um jogo para todos, não tem a mesma força que um nome como Street Fighter, Tekken ou até mesmo King of Fighters, fazendo com que o futuro de Fatal Fury: City of the Wolves não seja o mais sorridente. A falta de um modo que ensinasse melhor como se joga além do tutorial básico que cobre as mecânicas principais, gostaria de ver algo mais o modo de história que tivemos em Street Fighter 6, até porque o EOST parece ser uma tentativa de um modo de história semelhante. 


Mas, tudo se resume ao quão bom é um jogo de luta por uma simples palavra: a porrada. E sim, Fatal Fury: City of the Wolves tem porradinha da boa e estou bem feliz por a ver de volta, quase 25 anos desde o aparecimento de Garou: Mark of the Wolves. Sinto que tenho de melhorar a minha prestação a jogar online, planear umas sessões de jogo multijogador local para aperfeiçoar as combos de uma ou outra personagem e, acima de tudo, não planeio largar o jogo assim tão cedo. É um regresso em grande a um nome que, infelizmente, parece não estar a ter o sucesso desejado, mas cá estarei para acompanhar o lançamento das personagens que surgirão via DLC ou Season Pass!



Nota: Análise efetuada com base em cópia física para PlayStation 5, gentilmente cedida pela Ecoplay.

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