Leila


Vida — o que seria dela sem contratempos, sem obstáculos a ultrapassar? Tudo seria simples, tudo seria fácil. Leila aborda precisamente esses contratempos, estados depressivos e a forma como os podemos encarar, enfrentar e, sobretudo, seguir em frente — sempre com a esperança de que dias melhores virão.
Leila é um título visualmente apelativo, onde cada traço expressa a personalidade desta personagem peculiar. Os tons pastel predominam, transmitindo uma sensação de conforto, como um abraço caloroso, ainda que a narrativa seja pontuada por dramas ao estilo point and click / visual novel.


Neste jogo, os jogadores entram na mente de Leila, uma mulher de meia-idade em plena crise existencial, confrontando o seu passado, os seus arrependimentos e o processo de autodescoberta. Com a ajuda de um misterioso dispositivo oferecido pela sua filha, Leila revisita momentos marcantes da sua estrutura mental. Cada memória é retratada com intensidade emocional, acompanhada por animações desenhadas à mão e um trabalho de voz envolvente que aprofunda a ligação com o jogador.

A narrativa desenrola-se ao longo de quatro capítulos, cada um deles caracterizado por puzzles e mini-jogos profundamente ligados à história, acrescentando uma camada de profundidade emocional à experiência. Existem puzzles que fazem lembrar jogos como Gorogoa, onde é necessário posicionar elementos de forma precisa para que algo aconteça e se avance na narrativa — puzzles de compreensão, de associação ou de formação de imagens.


A jogabilidade foi pensada para ser intuitiva, com mecânicas point and click que permitem interagir facilmente com o cenário. Neste contexto, faria todo o sentido incluir um modo de controlo por toque, especialmente na versão portátil da Nintendo Switch, potenciando a imersão nesta aventura intimista. Notei, no entanto, que os controlos poderiam estar mais refinados: alguns detalhes nos puzzles são demasiado pequenos, e clicar neles pode revelar-se mais desafiante do que resolver o próprio enigma.

Ainda assim, as cerca de duas horas que me levaram a concluir Leila foram passadas alternadamente entre o modo TV e o modo portátil, mantendo-se sempre uma experiência envolvente.


Leila destaca-se como uma aventura narrativa interessante, combinando um estilo visual artístico, uma banda sonora melancólica e uma história carregada de emoção. A sua abordagem a temas complexos através de uma jogabilidade interativa oferece uma experiência única, que convida à introspeção e empatia. No entanto, nem tudo foi perfeito na experiência. Em certos momentos, senti alguma dificuldade em criar uma ligação emocional com a protagonista, o que reduziu o impacto narrativo em determinadas partes da história. Adicionalmente, alguns puzzles tornaram-se frustrantes devido às mecânicas point and click já mencionadas, onde os controlos não ajudaram — especialmente pelos pontos de interação serem demasiado pequenos para os movimentos precisos exigidos pelo joystick do comando. Esses momentos acabaram por quebrar, ainda que ligeiramente, o ritmo da imersão.

Este é um título apontado principalmente para quem procura um jogo que explore as camadas da emoção humana e da memória.


Nota: Análise efetuada com base em código final para Nintendo Switch, gentilmente cedida pela Ubik Studios.

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