A Tripulação: Em Busca do Nono Planeta
Artigo por Marco Silva
Hoje venho falar-vos de um jogo de tabuleiro que vos irá levar numa aventura espacial em busca do nono planeta... É esta a proposta do A Tripulação - Em Busca do Nono Planeta, criado por Thomas Sing e lançado em Português pela Devir, um dos jogos mais premiados de 2021, e eu quero contar-vos tudo sobre este fantástico jogo!
A Tripulação é jogo de cartas, com uma mecânica muito conhecida dos jogos de vazas que certamente já jogaram em jogos tradicionais como King, Copas ou a tradicional Bisca, só que neste jogo o objetivo não é ganhar o maior número de mãos mas sim colaborativamente com os outros jogadores conseguir cumprir um conjunto de objetivos para cumprir uma missão. Neste jogo existem 50 missões diferentes, ordenadas com um nível diferente de complexidade e em que novos elementos e tipos de objetivos são adicionados à medida que a equipa de "Astronautas" vai progredindo no jogo.
Para quem possa não conhecer os jogos de vazas, a sua mecânica é simples: um jogador que abre a volta joga uma carta da sua mão, os restantes jogadores são obrigados a assistir ao naipe (cor) que foi jogada caso tenham cartas para assistir, caso contrário podem jogar qualquer carta da mão, e ganha a carta de valor mais alta jogada do naipe que foi aberto. Existe, contudo, um conjunto de cartas especiais que são consideradas trunfos, que quando um jogador não pode assistir tem a possibilidade de "cortar" jogando uma destas cartas e passando a ganhar o trunfo mais alto que foi jogado.
Em A Tripulação o twist é que não importa quem ganha a mão, porque o jogo é totalmente colaborativo e os jogadores estão a jogar todos para cumprir os objetivos da missão. O único senão é que não podem nunca dizer nada sobre o que têm na mão: têm de conseguir jogar em equipa e criar uma estratégia juntos sem nunca saber o que está na mão dos seus colegas de equipa. Para tornar a coisa mais simples existe, ainda assim, uma pequena forma de comunicação sobre o que temos na mão, que torna o jogo muito giro e reforça a colaboração: uma vez por turno podemos usar uma ficha de comunicação para revelar uma carta que temos na mão e comunicar se é uma de 3 coisas - ou a mais baixa, a mais alta, ou a única carta que temos na mão. Isto não é um jogo mudo, como outros jogos colaborativos que também ficaram muito conhecidos. Neste os jogadores falam imenso e isso é fantástico, apenas não sobre o que têm na mão.
Este é um jogo simples e rápido, onde cada partida terá perto de 10-20mins (algumas até muito menos que isso quando a coisa corre mesmo mal), mas o facto de termos um objetivo a cumprir vai-nos fazer voltar ao jogo mesmo quando perdemos e tentar novamente. O facto de existirem 50 missões torna o jogo muito interessante e desafiante de vencer, facilmente proporcionando umas 10h de jogo no total para uma equipa.
As missões em A Tripulação são incrivelmente bem pensadas. Podem ser coisas tão simples como cartas objetivo que são dadas a diferentes "membros da tripulação" em que aquele jogador irá ter que garantir que ganha a vaza com uma dada carta (numero e cor), de vez em quando numa determinada ordem, ou alguns desafios interessantes como, por exemplo, ganhar uma vaza com cartas de valor 1, ou um jogador ter que ganhar apenas a primeira e ultima vaza e não poder ganhar mais nenhuma entre essas duas, são alguns exemplos das 50 missões que o jogo tem preparadas para vocês.
Podem estar a ler esta análise e a pensar "se são 50 missões então é só isso, quando terminarmos os jogo já não voltamos a ele", mas isso não é verdade. Isto é um jogo de vazas na sua essência, e como as missões são muito baseadas nas cartas que saírem e nas cartas que temos na mão, o desafio de vencer uma missão é sempre diferente e podemos perfeitamente voltar a jogar o jogo com o mesmo grupo de amigos ou até mesmo com outros amigos e repetir a experiência com o mesmo sentimento de diversão e desafio que sentimos da primeira vez!
Resta-me apenas referir um fator muito interessante e que apesar de não ser essencial para o jogo em si, e possivelmente muitos jogadores terminaram o jogo e nem deram importância a este ponto, cada missão tem um pequeno paragrafo de história, sendo a mesma progressiva e completamente integrada no tema da busca e desafios que os astronautas que estamos a representar no jogo estão a enfrentar no jogo. Isto é um cuidado pequeno mas muito bem conseguido por parte dos criadores o que é uma pérola muito boa do jogo.
Avaliação D.I.C.E:
Dinâmica
Tal como é de esperar de um jogo de vazas, é um jogo altamente dinâmico. Cada partida irá terminar muito rapidamente, seja com sucesso ou com insucesso, e os jogadores de todo não ficam muito tempo à espera de jogar, e a emoção de conseguir cumprir as missões é constante. Isso é grande parte do "vicio" que incute nos jogadores a vontade de continuar a jogar "só mais uma partida". Isso, e a ideia de que existe mais uma missão já a seguir e outra e outra... todas diferentes e com estratégias e experiências novas para os jogadores.
Integração Temática
O jogo tanto do ponto de vista artístico como pelos parágrafos de história em cada missão são fantásticos e demonstram um incrível trabalho e dedicação por parte do criador para ter esta integração. Contudo, como na sua essência, a historia é algo que pode ser completamente ignorado se o jogador assim quiser (é inclusive referido no manual), o que torna esta integração secundária. Ainda assim o facto de termos esta escolha é um fator muito interessante se um jogador valorizar este ponto, mas se não gostarem (ou até desgostarem) podem jogar este jogo como se de um jogo abstrato de vazas se tratasse e funciona perfeitamente.
Complexidade
De todo não é um jogo complexo, facilmente chega a mesa e é explicado em 2-3mins (menos se todos os jogadores já conhecerem as regras base de jogos de vazas). A coisa mais complexa do jogo é ensinar ao jogadores que apesar de estarem todos juntos a cumprir o objetivo, e que podemos falar todos e combinar estratégias, em momento algum podemos dar a entender a ninguém nada sobre o jogo que temos na mão... esta é a regra mais complexa, não de explicar, nem de entender, mas de cumprir... há sempre uma tosse bem colocada, ou um "ai meu deus" que sai naquele momento de tensão maior do jogo, mas que ao mesmo tempo proporciona momento de grandes risadas e muito boas memórias.
Entretenimento, Design e Arte
Apesar de não ser um party game, e inclusive ter ganho prémios em categorias de jogos mais complexos, entre outros, este é um jogo que facilmente chega à mesa com qualquer tipo de jogador e vai entreter toda a gente por várias horas sem ninguém reparar. Como disse acima, é o facto "é só mais um jogo" e não conseguimos parar. A nível de arte e design o jogo está interessante, a palete de cores não é muito pesada, a arte é simples e alusiva ao tema do espaço, mas não tem muita variedade. Até a qualidade dos componentes dos marcadores e até mesmo do insert é simples. poderia ter sido algo um pouco mais trabalhado na minha opinião. É boa, apesar de simples e reduzida.
Considerações Finais
