Pokémon Sword / Pokémon Shield


Depois do grande sucesso de "Pokémon: Let's Go", um acessível videojogo baseado nos originais da portátil GameBoy, eis que finalmente chega à Nintendo Switch um novo título principal do universo Pokémon. Um novo mundo, novas aventuras e muitos pokémon, naquele que é o primeiro original da série feito para uma consola ligada à televisão. Mas será este o melhor jogo de Pokémon até hoje?

Pokémon Sword e Pokémon Shield são os títulos de estreia daquela que é considerada a oitava geração de jogos Pokémon. Desta vez, tudo se passa em Galar, uma região tão preenchida de paisagens rurais e pequenas localidades, como grandes cidades e tecnologia, cuja povoação simplesmente adora assistir a grandes combates de pokémon. Como fonte de inspiração, foram tirar ideias ao Reino Unido no mundo real, e muito disso irá transparecer desde as paisagens até muitas das personagens que se irá encontrar.


O jogo começa com um simples ecrã de personalização do protagonista, seja rapaz ou rapariga, saltando rapidamente para o começo da história. Tal como qualquer habitante da região, está entretido a ver um combate de pokémon com o grande campeão Leon, que por acaso até é vizinho e também irmão do melhor amigo, Hop. Após mais uma grande vitória, Leon regressa à aldeia, com um presente tanto para o irmão como para o jogador: novos pokémon para que também eles possam vir a ser grandes treinadores! Qual será o starter que o jogador vai escolher?

Assim começa uma história que, ao longo do jogo, pouco fugirá deste tema. A competição entre os diversos treinadores, que terão de superar os desafios de estádio em estádio contra os respectivos líderes até conseguirem aprovação para o grande torneio anual de combates com pokémon. Pelo meio, há um interessante desenvolvimento de personagens nos vários treinadores, que infelizmente não é acompanhado pela história em si. Sem entrar em pormenores, num jogo cuja temática é o espírito da competição e curiosidade pelo passado da região, o enquadramento do "vilão" e respectivo drama é feito sem qualquer necessidade ou justificação.

A narrativa nunca se revelou um ponto forte da série Pokémon, mas depois de títulos com histórias envolventes como a do antigo Pokémon Black / White ou até mesmo do recente Sun / Moon, é uma pena o retrocesso feito neste Sword / Shield, onde até mesmo as criaturas lendárias da capa parecem só existir porque assim teve de ser.


Pokémon, afinal, sempre foi principalmente sobre colecionar as criaturas e treiná-las até se ser o grande campeão. Para os jogadores de longa data, porém, aqui vem uma desilusão. Ao contrário dos jogos anteriores, onde depois de concluir a história principal, teriam acesso ao "National Dex" de forma a poderem transferir e colecionar todos os pokémon que já tinham apanhado mesmo em jogos anteriores, aqui apenas será possível colecionar os pokémon da região de Galar. Não que sejam poucos, havendo uma grande variedade, mas lá se vai a velha expressão "apanhá-los todos".

Com centenas de criaturas para descobrir, a região de Galar é das mais variadas em termos de exploração, cada zona com uma grande diversidade de pokémon. Isso inclui tanto as novas criaturas da região, como muitos dos antigos encontrados nos jogos anteriores. Ao longo de toda a exploração, quase todos os pokémon estão visíveis no cenário, sendo que alguns estarão mais escondidos, fazendo apenas a relva mexer. Além de dar uma grande vida a todo o ambiente, também facilita imenso o trabalho de se procurar por algum em particular, o que também ajudará aos mais colecionistas.

Aliás, há imensos aspectos em que este jogo facilita a vida aos seus jogadores, especialmente em comparação com títulos anteriores. Como é habitual, o treinador pode transportar consigo até 6 pokémon na equipa, ficando os restantes em caixas de armazenamento digital. Agora, tirando em locais específicos como o interior dos ginásios, é possível aceder às caixas em qualquer momento, trocar a equipa e utilizar itens conforme apetecer. Em contrapartida, armazenar um pokémon desmaiado ou com pouco HP irá mantê-lo assim até à próxima visita do Pokémon Center, onde além de curar também se podem aceder a outras funções.


Depois, há também uma enorme facilidade em melhorar todos os pokémon e fazê-los subir de nível. Combater e capturar outras criaturas, descansar em tendas de campismo ou cozinhar e partilhar a comida com os pokémon, tudo dá experiência a toda a equipa, fazendo com que facilmente subam de nível para ficarem mais fortes e aprenderem novos ataques. Da mesma forma, os que estão guardados na box podem ser colocados a fazer actividades "Poké Job", onde poderão também ganhar experiência e subir de nível.

Pokémon sempre teve uma vertente mais "hardcore" para os jogadores mais competitivos, que precisavam de passar horas a capturar e criar novos pokémon até conseguirem ter um com a natureza perfeita e as melhores estatísticas. Até nessa vertente o jogo se tornou mais acessível, com novos itens "Mint" que permitem alterar a natureza deles, mudando por exemplo um pokémon com bom ataque e pouca velocidade para passar a ter muita velocidade e pouca defesa, conforme a estratégia do jogador.

Com tudo isto, a função de gravação automática do jogo passa a fazer todo o sentido, mesmo que seja opcional. Afinal, mesmo a captura de um pokémon raro com uma natureza negativa deixa de ser um problema sem solução, graças aos novos itens que podem ser adquiridos para os alterar. Mais do que nunca, até pela sua temática da história principal, o jogo tenta encaminhar os jogadores no sentido da competição.


Concluída toda a história do jogo, o que jogando de forma tranquila irá rondar entre as 25 e 30 horas de aventura, as duas principais componentes do jogo serão completar o Pokédex da região e tentar ser um grande treinador no que diz respeito ao combate entre jogadores propriamente ditos, que poderão praticar a partir da Battle Tower. Afinal, quem é o melhor treinador?

Depois das novas mecânicas de combate introduzidas em jogos anteriores, como as Mega Evolutions e os Z-Moves, agora é feito um "reset" que as deixa de parte, introduzindo em vez delas uma nova mecânica chamada Dynamax. Esta poderá ser utilizada apenas em certos locais de combate, como os estádios no que diz respeito à história, e a Battle Tower e combates entre jogadores no caso de competição. O funcionamento é simples: apenas uma vez por combate, cada jogador pode usar o Dynamax no seu pokémon, tornando-o gigantesco e muito mais forte durante três turnos. Bem utilizado em combate entre jogadores, pode mesmo mudar a direção de uma batalha.

E se Dynamax é só um pokémon "insuflado" e temporariamente poderoso, o mesmo não se pode dizer de Gigantamax, um pokémon que além de ficar gigantesco também muda de aspecto e fica ainda mais forte. Esta é uma caraterística pouco justa devido à sua raridade, pois mesmo que uma espécie em particular possa ter uma forma Gigantamax, a maioria das criaturas dessa espécie nunca a irá ter. Para conseguir um destes raros pokémon especiais, a melhor forma será participar num novo tipo de batalha para os derrotar e capturar.


Além da tradicional aventura pelo mundo ao longo da história principal, a região de Galar conta com a Wild Area, uma vasta área de exploração livre ao estilo "open world" que será também onde o jogador passará a maior parte do seu tempo depois de ter visto os créditos. Ao contrário do que acontece no resto do mapa, aqui a experiência vai mudando de dia para dia, com o clima das suas várias zonas a mudar regularmente e, com isso, os tipos de pokémon que lá aparecem.

Em vários locais da Wild Area, existem rochas com o mesmo poder que dá origem à forma Dynamax, e se lá estiver algum pokémon então dá-se início a uma Max Raid Battle para 4 jogadores em modo cooperativo. Estas batalhas podem ser efetuadas tanto em multiplayer local como online, mas caso o jogador esteja sozinho entrarão 3 treinadores controlados pelo CPU para tentar ajudar. Numa mecânica claramente inspirada nas "raids" de Pokémon GO, os 4 jogadores irão ter de derrotar o gigantesco adversário para depois terem oportunidade de o capturar, mas contra os mais fortes não será propriamente fácil. Se o adversário derrotar 4 jogadores com os seus ataques, ou a batalha demorar ao todo 10 turnos, então será perdido o combate.

É precisamente neste sistema de batalhas que os jogadores poderão, com sorte, encontrar os raros pokémon com acesso à forma Gigantamax, ao mesmo tempo que o jogo aposta na sua longevidade. Por exemplo, desde o lançamento do jogo até inícios de janeiro de 2020, está anunciado que haverá maior probabilidade de encontrar o Gigantamax Butterfree nas Max Raid Battles. Depois disso, deverá ser dada a ribalta a outro pokémon, através de atualizações.


A Wild Area consegue, ao mesmo tempo, ser o mais impressionante e o mais frustrante deste novo jogo Pokémon. Por um lado, é uma vasta área de livre exploração, mesmo contando com algumas limitações enquanto ainda se está a avançar pela história principal. De zona para zona, conta com uma enorme variedade de criaturas que lá poderão surgir, mudando conforme as condições climatéricas em questão, que vão mudando de dia para dia.

Como prova de conceito, mostra que seria possível e bastante envolvente jogar Pokémon num mundo de livre exploração. Ao mesmo tempo, deixa bastante a desejar no que diz respeito à sua execução, começando pelo "deserto" visual que apresenta em relação ao resto de toda a região de Galar. Ao explorar as várias zonas, a mudança de clima dá-se bruscamente, como se fosse apenas algo em que se carrega num botão, sendo até possível passar de uma tempestade de areia para um tremendo nevão.

Ainda assim, e com todos os seus defeitos, é mesmo nesta área que se irá passar o maior tempo de jogo, seja para colecionar como para treinar os pokémon, especialmente depois de concluir a história. Além dos combates nas batalhas Max Raid e dos níveis altos dos pokémon que se encontram por lá, é também aqui que se encontram alguns dos mais raros do jogo. O simples facto de ir mudando ao longo do tempo é uma boa desculpa para se continuar a explorar, sem esquecer que o próprio Pokédex ajuda a saber a localização e o respectivo clima com que será possível encontrar cada pokémon.


Com a transição da série para a Nintendo Switch, veio a exigência de um grande salto no que diz respeito aos visuais, o que facilmente faz deste o Pokémon com os melhores gráficos até hoje, não significando que sejam realmente impressionantes. O maior problema é mesmo a sua inconsistência. Se há cenários em cidades, campos e florestas, com visuais realmente detalhados, há um igual número de localizações e cenários demasiado simples e desinteressantes. Pior ainda é a curta distância a que algumas coisas são renderizadas, aparecendo e desaparecendo do ecrã a meros passos da personagem.

Em geral é um jogo bonito, com uma bela estética tanto a nível da consola ligada à TV como em modo portátil, mas longe dos visuais mais impressionantes que se podem encontrar na Nintendo Switch. Em compensação, em termos de interface tem dos melhores menus de toda a saga, com aspecto limpo e fácil de navegar. Além disso, a banda sonora conta com uma boa variedade de novos temas, bem enquadrados nos cenários em que se está a jogar.

Durante o período desta análise, todas as funcionalidades online estavam indisponíveis, assim como o modo de comunicação local pela falta de outros jogadores. De qualquer modo, em todo o jogo está ativado um sistema "Y-Comm" (local / online), onde será possível encontrar jogadores para fazer trocas e desafiá-los para combates. Mais interessante é o modo VS que se encontra no menu, onde é possível aceder ao Battle Stadium online para entrar em competições oficiais, ou então usar o Live Competition para, localmente, se organizar torneios com vários jogadores. A maior ausência, porém, é a de um sistema global de trocas de pokémon, o que poderá dificultar muitos jogadores a completar a sua coleção.


Por cada ponto negativo, o jogo conta com algo positivo e vice-versa, o que lhe dá um certo equilíbrio. Se por um lado é uma grande ausência a falta de quase metade dos pokémon existentes na série, tanto os novos pokémon como as novas versões de outros já antigos são excelentes adições e, acima de tudo, há um bom balanço entre os diferentes elementos. Desde o tema da história até às novas funcionalidades, o jogo tenta motivar o jogador a experimentar a vertente mais competitiva, mas em contrapartida sacrifica a narrativa.

Longe de ser perfeito, mesmo assim Pokémon Sword e Pokémon Shield traz incontáveis horas de diversão tanto para novos jogadores como fãs de longa data. E o que importa, no fim de contas, é precisamente essa diversão. Resta saber se, com isso, também motivará os mais novatos a entrar no mundo da competição.


Nota: Esta análise foi efectuada com base em código final de Pokémon Shield para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Nintendo.

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