Back Then


Qualquer pessoa que já tenha lidado com Alzheimer, direta ou indiretamente, reconhecerá o dano enorme que esta doença é capaz de causar, não só àquele que sofre dela, mas também a todos à sua volta. É isto que Back Then pretende demonstrar, colocando-nos na pele de Thomas Eilian, um escritor idoso diagnosticado com esta doença, e obrigando-nos a experienciar não só os desafios que esta lhe trouxe, como a angústia que causou à sua família.

Incitado pela necessidade de reparar a sua máquina de escrever, cabe ao jogador percorrer a casa de Thomas (e, ocasionalmente, locais existentes na sua memória) em busca das partes necessárias, resolvendo puzzles e enigmas para poder perseguir, acompanhado apenas pelas vozes dos seus familiares mais próximos, que nos dão um vislumbre dos efeitos danosos que o Alzheimer teve nesta família.

Back Then encontra sucesso na exploração das emoções prevalentes nesta história, seja o angustiante desespero de Thomas, que luta inutilmente para recuperar memórias antigas, ou o desconsolo daqueles que o rodeiam, afligidos pelos seus arrependimentos. O filho que luta contra si próprio para expressar o seu amor pelo pai, a filha que relembra carinhosamente o passado e tantas outras, são pessoas que todos nós conhecemos ou, talvez, até somos, mas é a humanidade e a sinceridade com que Back Then aborda estes temas que torna esta história comovente.

Os puzzles e a jogabilidade no geral são simples e até repetitivos, muitas vezes. Talvez esse seja o seu propósito, tendo em conta o tema com que estamos a lidar, mas por vezes o jogo torna-se simplesmente frustrante, o que significou que, apesar de este ser um jogo que demora menos de 2 horas a terminar, precisei de 3 sessões para o terminar. A casa de Thomas é, durante a maioria do tempo, um lugar agradável, com uma decoração pensada e onde é possível imaginar que tenha vivido uma família por largos anos, mas por vezes parece labiríntica. Os puzzles não são minimante divertidos, por vezes nem são muito intuitivos, mas capturam aqueles que imagino serem os desafios de completar tarefas simples do dia a dia com Alzheimer. São, acima de tudo, repetitivos, obrigando-nos muitas vezes a subir e descer escadas, voltar a divisões da casa por onde já passamos e, no caso de um em específico, percorrer um verdadeiro labirinto que não parece ter fim. Isto não é ajudado pelo facto de que a única forma de gravar o nosso progresso é completar um capítulo, o que significa que, por muito frustrante que um dado puzzle seja, não aconselho que desistam a meio, a menos que estejam prontos para recomeçar esse capítulo, uma lição que aprendi da maneira mais difícil.

É certo que estas arestas mais rudes de Back Then não resultarão para todos os jogadores. Nem todos serão capazes de compreender que estas servem para ilustrar os desafios da doença que é o núcleo deste jogo, e mesmo aqueles que o entendam, nem sempre o apreciarão. Falo por mim, que apesar de apreciar a ideia por detrás destas decisões, precisei de fazer algumas pausas para não decidir simplesmente abandonar o jogo.

O meu grande problema com Back Then, no entanto, foi o movimento. Thomas está numa cadeira de rodas, o que, naturalmente, dificulta o nosso movimento pela casa. Ainda assim, isto causa dificuldades para lá do que seria de esperar, e eu passei grande parte do jogo a olhar para o chão para perceber em quê que estava a bater e porquê que não conseguia andar em frente. Mais uma vez, é possível que isto seja resultado de uma decisão deliberada para dar a entender os desafios desta condição, mas, na minha opinião, este é um caso em que a busca pelo realismo interfere com a jogabilidade mais do que é tolerável, tornando-se apenas frustrante.

Back Then é um estudo interessante e comovente dos danos causados direta e indiretamente pelo Alzheimer. Apesar de não ser ajudado por uma jogabilidade que é, por vezes, frustrante, o desempenho positivo dos atores, o aspeto visual e a história que o ancora, fazem de Back Then um jogo que vale a pena jogar para aqueles que apreciam walking sims ou que estão simplesmente à procura de sentir algo, mostrando que Portugal tem muito a oferecer à indústria dos videojogos.


Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para PS5, gentilmente cedida pela Octopus Embrace

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