KAKU: Ancient Seal
Divagações à parte é com este sentimento saudosista do salto geracional para a PlayStation 2 e Nintendo Game Cube que recebi KAKU: Ancient Seal, um jogo de ação e aventura do estúdio BINGOBELL, com toques de RPG e muitos puzzles à mistura, que me fez recordar dos muitos títulos então lançados para essas consolas.
Seguimos a aventura de Kaku, um bravo e jovem rapaz que estava simplesmente a viver o seu dia a dia tranquilamente até que lhe é forçada uma aventura, assim do nada. O seu propósito? Restaurar o equilíbrio e ordem da terra que o rodeia, de forma a lidar com um grande mal que se está a tentar apoderar de tudo o que puder, tal como todo um conjunto de outras coisas cliché deste tipo de aventuras. Ao nosso lado há Piggy, um felpudo porco voador e companheiro nesta demanda, que embora à primeira vista se apresente como uma espécie de jogo passado no Paleolítico, na realidade estamos perante um mundo bem desenvolvido, recheado de ruínas de uma civilização perdida que se funde com a natureza, tudo bem acompanhado com imenso misticismo!
Não há muito a desenvolver na história, pois ela funciona como uma espécie de desculpa para um jogo que se foca principalmente na jogabilidade e na exploração, intercalando bons momentos de ação com puzzles que nos surgem pelo caminho, que temos de resolver de forma a progredir. Há uma história, diálogos que nos acompanham e todo um conjunto de cutscenes que nos acompanham, nada memoráveis que por várias vezes se baseiam em tons humorísticos e sequências que facilmente vemos em (maus) desenhos animados infantis. Aqui a direção artística do jogo em nada contribui, desde personagens exageradas que em pouco se enquadram com o resto do jogo, à maneira muito aleatória em que a história é contada, com uma escrita que deixa imenso a desejar.
Dando o foco à jogabilidade ela cumpre bem o propósito do jogo: é uma aventura, há maus para matar e uma simples, mas prática skill tree a explorar, que desenvolve Kaku à medida que progredimos. Temos ainda peças de equipamento para desbloquear, podendo equipar diferentes peças e todas elas com atributos diferentes, o que me preparou para alguns combates mais desafiantes que encontrei. Surgem ainda puzzles aqui e acolá, muitos deles simples enquanto que alguns eram apenas… estranhos, com uma resolução que não entendi bem o que tinha feito, mas, se deu, então é porque fiz alguma coisa bem.
Senti também uma certa inspiração em The Legend of Zelda: Breath of the Wild numa tentativa de copiar o trabalho de casa ocasionalmente, o que não é assim tão incomum atendendo que é um jogo criado na China mas, ainda assim, até enriqueceu a aventura com momentos interessantes. O que não foi tão interessante eram os combates contra os muitos bosses, onde tinha sempre a câmara focada no(s) inimigo(s), atacando nos momentos certos enquanto me desviava dos seus ataques. Até aqui tudo bem, mas muitos combates eram extremamente repetitivos, e quando digo repetitivos digo que o inimigo usava repetidamente o mesmo ataque ou um conjunto de ataques bem limitado, que demorava a derrotar só porque os combates estendiam-se mais do que era preciso.
Outro problema que senti no jogo foi o mapa, que embora respondesse à necessidade imposta por muitos estúdios que tudo tem de ser um open world, o jogo era extremamente linear com uma ou outra surpresa pelo caminho, colecionáveis a apanhar e perigos à espreita. Mas os mapas, tal como os combates, eram extremamente repetitivos e por vezes sentia que a direção artística do jogo estava incoerente, com coisas e elementos que pareciam de outros jogos totalmente diferentes. Tinha gostado mais de ver mapas contidos, sem tentar ser open world só porque sim, dando espaço para mais e melhores puzzles, tal como uma melhor diversidade dos inimigos.
Aquilo que mais senti enquanto jogava KAKU: Ancient Seal era, então, o regresso às experiências que tive em jogos de aventura dos anos 2000, tal como disse no início desta análise. O jogo enquadra-se perfeitamente nessa época, quando se tornou mais fácil criar e explorar mundos totalmente em 3D, surgindo então uma exploração de jogos de ação e aventura nestes parâmetros, entre experiências memoráveis como Ratchet and Clank ou Shadow of the Colossus. Nem tudo foram boas experiências, houve muitos jogos que ficam bem esquecidos, mas contribuíram para esta explosão de jogos nesse estilo, algo que tínhamos visto parecido na geração anterior, com o aparecimento de imensos jogos de plataformas.
Pode não ter sido uma aventura memorável, ainda assim diverti-me nas horas que passei com este jogo. Não é uma aventura longa, tem uma boa dose de segredos e coisas para colecionar. Se procuram uma aventura ou um RPG de ação simples, mas sem grandes enredos complexos ou histórias que alastram, KAKU: Ancient Seal pode ser uma boa sugestão!