The Night is Grey

E tudo começou com um passeio numa floresta durante uma noite de lua cheia… Poderia facilmente ser o início de um livro de terror, mas é o ponto de partida de uma aventura que nos conduz por caminhos cheios de suspense na mente de uma personagem assombrada por “lobos” que se disfarçam de traumas. Com uma introdução intensa, assim se apresenta The Night Is Grey, uma aventura point & click do estúdio português Whalestork Interactive, que se desenrola por belos cenários desenhados à mão, numa região beijada por um lago, um farol e minas que um dia serviram de lar para várias famílias de mineiros.

Graham, um homem de aparência comum e vida simples, surge desorientado e exausto na floresta da zona após escapar a uma matilha de lobos. Assim conhecemos o protagonista desta história, que o jogador interpretará durante todo o seu desenrolar. Envolto em mistério e com a sensação de entrar numa história já a meio, o jogador é conduzido ao encontro de uma menina peculiar, de cerca de 8 anos, sozinha numa casa de campo. Com a intenção de ajudá-la e de se ajudar a si mesmo, o objetivo principal do jogador passará por conduzir ambos de volta a suas casas. Contudo, não necessariamente Hannah, pois ela insiste que já está em casa, ainda que esteja sozinha após a partida da sua mãe, que a deixou para procurar uma solução para a falta de eletricidade na zona.

No início de cada capítulo é apresentado por um pequeno texto que visa Graham, caracterizando os traumas que o assombram no escuro. Vozes intermináveis que criam um arrepio na espinha cada vez que tenta abrir os olhos e escapar das garras destes lobos que o puxam. Esta atmosfera de aflição cria uma empatia crescente no jogador, culminando num desfecho sombrio que ecoa mesmo após a sua conclusão. Mesmo sem a presença de voice acting, The Night is Grey conta com uma banda sonora primorosa que acompanha cada passo da personagem, criando uma imersão profunda no seu ambiente.

A maior parte dos elementos gráficos pode ser tocada, ou aqueles que fazem sentido no contexto específico. Com um simples pressionar de uma tecla, o jogador pode visualizar o que é interativo. Foi feito um bom trabalho no sentido de não deixar o jogador desamparado ou perdido sem saber que passo dar a seguir. A progressão é linear, com foco em apenas algumas áreas de cada vez, o que mantém o ritmo de cada capítulo bem estruturado e eficiente. As mecânicas clássicas de um point-and-click permitem uma exploração simples de cada canto: com o botão esquerdo, interage-se com o objeto, enquanto o direito abre um menu maior sobre o mesmo.

Nem todos os objetos oferecem esta opção, mas é fácil entender as funções de cada um. Outro apontamento interessante, é a vertente de descartar autenticamente os objetos que já não têm uso, dando primazia a um inventário limpo sem a presença de artefatos que provocam distração. Também é possível interagir com outras personagens, escolhendo opções de diálogo que, no entanto, conduzem sempre ao mesmo desfecho, sem ramificações alternativas.

Cada área é pontuada por puzzles de diferentes níveis de dificuldade. Curiosamente, o puzzle mais complicado surge numa fase mais inicial, enquanto os subsequentes são um pouco mais fáceis, embora nunca excessivamente simples. Tudo fará sentido no final da narrativa, onde as peças do grande puzzle que é a mente atormentada de Graham finalmente se encaixam.

The Night Is Grey simboliza as batalhas internas e os conflitos que cada indivíduo enfrenta no quotidiano, encerrando com um desfecho poderoso. A combinação de um ambiente cativante com ilustrações feitas à mão, uma banda sonora envolvente e uma narrativa bem construída catapultam este título para um patamar de destaque no género.