LEGO Horizon Adventures


LEGO©. Diria que poucas coisas são tão sinónimas com a minha pessoa, em particular a minha infância, como a alegria de montar e desmontar centenas, por vezes milhares de peças durante tardes preguiçosas de domingo. Primeiro vieram as construções físicas, um avião, um carro, uma nave do Star Wars. Depois os jogos. Numa lista daqueles que me definem, estaria certamente um destes. Talvez o Indiana Jones na PSP ou o Star Wars. Não, teria de ser o Batman na PS2. Esse jogo está-me permanentemente gravado na memória. Estes jogos em particular têm um valor emocional incomparável para mim.

Não só preenchem, no meu caso, o lugar dos jogos formativos que todos nós temos, aqueles que nos acompanharam na infância e sem os quais nunca teríamos feito a transição para jogadores adultos, como também foram uma das maiores fontes de ligação que fui capaz de encontrar com o meu pai durante a minha infância. Enquanto que agora partilhamos o fascínio pelo cinema, pelo Senhor dos Anéis e pela série Alien, há 15 anos aprendi a negociar com ele para adiar a minha hora da cama e jogarmos só mais um nível. Perdoem-me a reflexão, mas, como escritor, valorizo a honestidade na escrita e, por essa razão, acredito ser importante explicar o significado destes jogos para mim.

Tanto quanto me lembro – e corrijam-me se estiver errado, porque o número de jogos deste tipo que jogo caiu a pique desde essa era dourada – os jogos LEGO costumavam ser "adaptações" de IPs de filmes (Senhor dos Anéis, Star Wars, Piratas das Caraíbas), mas não de outros videojogos. Neste sentido, creio que LEGO Horizon Adventures é algo de novo neste género. E este título é relevante. Não estamos perante um LEGO Horizon Zero Dawn ou um LEGO Horizon Forbidden West, nem tampouco um LEGO Horizon Zero Dawn Remastered. Nos dias que correm, é importante não nos esquecermos dos remasters. LEGO Horizon Adventures é muito vagamente baseado na história de Zero Dawn, mas diverge fortemente da mesma de modo a perseguir os seus próprios objetivos, seja para fazer uma piada à custa do enredo original ou das suas personagens, seja para simplificar a história fazê-la alcançar um público diferente. Esta habilidade de selecionar os aspetos do material de origem que devem ser aproveitados e aqueles que podem ser manipulados, ignorados ou satirizados é, diria, a imagem de marca destes jogos e, tal como todos os que vieram antes, Horizon beneficia deste tratamento.


Horizon, no entanto, não me parecia a franquia mais adequada para uma adaptação para um jogo LEGO, principalmente porque, pelo menos na minha opinião, ainda que Zero Dawn e Forbidden West tenham outros pontos fortes, aquilo que os destaca é a complexidade do combate com as máquinas. Enquanto que a narrativa, os ambientes e as personagens possam facilmente ser replicados noutro meio, o detalhe e a precisão exigidos nos combates de Horizon chamaram-me desde logo à atenção como algo que dificilmente poderia ser reproduzido numa escala menor, como num jogo LEGO, ainda que a principal mecânica deste combate seja a de "desmontar" máquinas enormes. Daí que a minha primeira surpresa ao jogar Horizon Adventures tenha sido a fidelidade com que a Guerrilla Games e o Studio Gobo conseguiram replicar a sensação do combate de Horizon num contexto tão diferente.

Aqui, tal como em Zero Dawn e Forbidden West, podemos orientar os nossos ataques na direção de certos pontos fracos, peças específicas que, quando removidas, inutilizam determinados ataques de cada máquina. E, incrivelmente, esta mecânica continua a ser tão intuitiva e satisfatória como nos jogos originais, e permite-nos igualmente ser específicos nos nossos ataques, algo que me surpreendeu verdadeiramente pela positiva.


Em Horizon Adventures, temos 4 personagens jogáveis: Aloy, Varl, Teersa e Erend, e embora cada uma tenha uma arma diferente e isso se traduza numa abordagem ao combate genuinamente diferente, estaria a mentir se dissesse que joguei mais do que um ou dois níveis com qualquer personagem que não fosse a Aloy, não só porque é esta que protagoniza os momentos chave da história, mas também porque o seu estilo de jogo foi o que mais me agradou. Aloy usa o seu arco, como seria de esperar, enquanto que Varl utiliza lanças que funcionam, na prática, da mesma forma que as flechas de Aloy. Enquanto isso, os ataques de Teersa resumem-se, por alguma razão, a atirar objetos aleatórios, traduzindo-se em ataques de área de efeito. Erend, por sua vez, foi provavelmente a minha segunda personagem favorita para utilizar, já que é o único com recurso a ataques corpo a corpo com o seu martelo, mas, ainda assim, não dispensando também ele de um ataque de área.

Para além destes ataques e armas básicas, podemos encontrar ao longo dos níveis variantes de cada arma, que, ao estilo de Horizon, aplicam efeitos de fogo, gelo e eletricidade, bem como arcos que disparam várias setas da mesma vez ou um martelo capaz de causar terramotos. A cada momento podemos equipar a arma básica, com munição infinita e uma destas variáveis, com usos limitados que podemos recarregar apanhando mais munição. Juntamente, podemos equipar também umas "cenas" (palavra do jogo, não a minha), uma espécie de arma secundária, também com usos limitados, que pode trazer todo o tipo de ajudas, como um separador de peças (uma arma corpo a corpo que causa bastante dano) um ataque de área de gelo, ou um armadilhador. Mais uma vez, isto traduz-se num sistema de combate surpreendentemente profundo e complexo.


Mas falemos mais desses níveis. Como era comum nos jogos LEGO antigos, aqueles que passei a primeira parte deste artigo a relembrar com nostalgia, Horizon Adventures apresenta-nos um design simples, mas eficaz, com um hub world, neste caso, a primeira aldeia que encontramos em Zero Dawn, Coração da Mãe, a partir do qual podemos aceder os vários níveis. A aldeia de Coração da Mãe é composta por 4 áreas, cada uma evocativa de um ambiente diferente do mundo de Horizon: as planícies verdejantes do início de Zero Dawn, o deserto que serve de casa aos Carja, as montanhas nevadas das Frozen Wilds e as florestas que encontramos um pouco por todo o mapa. A partir de cada uma destas áreas podemos aceder a um conjunto de níveis que devemos completar para desbloquear a área seguinte.

E, apesar de não podermos repetir estes níveis, assim que damos por concluído um conjunto de níveis abre-se a possibilidade de, na mesma área completarmos um tipo diferente de níveis, as caçadas às máquinas superpredadoras, que se resumem a uma batalha com um mini-boss, e deixem que vos diga, não estava ciente que o combate num jogo destes podia ser tão desafiante. Eu escolhi jogar na dificuldade média e a verdade é que tive uns quantos momentos difíceis, em que tive de repetir lutas uma e outra vez até ser capaz de derrotar alguns bosses. Após concluirmos todas as caçadas numa área, somos livres de a explorar sem limites.


A conclusão de níveis não serve apenas para perseguirmos o fim da história, no entanto. Por cada nível concluído recebemos uma peça dourada e quanto maior a nossa coleção destas peças, mais opções de customização se tornam disponíveis, incluindo fatos para as nossas personagens jogáveis inspirados tanto no universo Horizon, como noutros universos LEGO, como LEGO City e Ninjago. Mas estas opções de customização não se limitam à aparência das personagens. O grande foco da customização encontra-se no próprio Coração da Mãe, que podemos decorar à nossa imagem, fazendo deste local o que quisermos, desbloqueando a possibilidade de construir novos edifícios e decorá-los à medida que progredimos na história.


Com o excelente sentido de humor que já esperamos de um jogo LEGO, um sistema de combate que captura aquilo que fez do original o destaque de Zero Dawn e Forbidden West e opções de customização capazes de satisfazer qualquer um, LEGO Horizon Adventures é um sucesso inequívoco e consegue para lá de dúvidas encontrar o equilíbrio certo entre ser um excelente ponto de partida para novos fãs ou fãs mais novos, não preparados ainda para um jogo mais complexo, e ser um complemento valioso para aqueles que já desbravaram terreno nesta franquia e ainda anseiam por algo mais.

Acima de tudo, aquilo que me ficou na mente foi a ideia de que Horizon Adventures procura cumprir a mesma função que um jogo como Astro Bot, uma homenagem, por vezes cómica, por vezes sincera, a um jogo e às suas personagens que possuem um certo significado para quem o jogou, transportando-as para um meio e um contexto em que as possamos ver com diferentes olhos. E, nessa nota, é inevitável desejar que outras icónicas franquias da PlayStation recebam este tratamento, sejam aquelas das quais sou há tanto tempo fã, como Uncharted, God of War e The Last of Us, como aquelas pelas quais ainda não me aventurei, como Tomb Raider, Bloodborne e Ape Escape.


Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para PS5, gentilmente cedido pela SIE



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