THE FINALS
Juro que invejo a coragem de quem, por estas alturas, ainda se arrisca a dar um mergulho no mar infestado de tubarões que é o panorama dos jogos como serviço. Sejam eles mais ou menos competitivos... ele é Fortnite, Apex Legends, Call of Duty: Warzone, PUBG, Overwatch 2, Destiny 2, Warframe, Final Fantasy 14, Pokemon Go, GTA Online, DOTA 2, Valorant, League of Legends, Counter Strike 2, EAFC, Rocket League, Sea of Thieves e estes foram os que me vieram à cabeça assim de repente. Existem outros mil certamente...
Cheios de confiança nas suas capacidades de entrar de rompante neste mercado, a Embark Studios foi fundada em 2018 por ex-veteranos da DICE, com o intuito de poder entregar aos jogadores experiências online com novas mecânicas na tentativa de provocar disrupção num mercado há muito saturado mas sempre na mira das grandes companhias da indústria dos videojogos.
Vamos lá então ver como se joga e se vale a pena jogar este THE FINALS!
Existem atualmente três modos em THE FINALS:
- Quick Cash: Cada equipa (3v3v3) compete para agarrar num cofre de moedas e depositá-lo num local aleatoriamente designado no mapa. Como toda a gente inevitavelmente irá convergir nessa zona, a ação rapidamente escala e o controle desse deposito entra num sistema de rotação frenética pois com tanta batalha a acontecer, o depósito vai mudando de donos rapidamente. Aqui as batalhas tornam-se mais cerebrais mais para o fim dos jogos.
- Bank It: O modo do "porquinho mealheiro". Cada jogador carrega moedas virtuais consigo, e podemos ganha-las, matando inimigos ou apanhando de cofres que aleatoriamente vão aparecendo pelo mapa. Quando possível ou consoante a nossa vontade temos de ir depositar os nossos espólios. Nós e as outras três equipas que fazem parte do jogo (3v3v3v3). Quando mais guardamos mais arrecadamos mas se nos matarem, mais esses ficam a ganhar. Este é o meu modo preferido atualmente e proporciona grandes momentos de adrenalina e de risco.
- Solo Bank It: Este modo foi adicionado muito recentemente e é em tudo igual ao modo original mas em modo Free for all, ou seja, sozinhos contra o mundo.
Os dois primeiros modos estão bem estruturados e são muito divertidos. No Quick Cash contamos mais com o sentido táctico e estratégico das equipas, principalmente no final das mesmas enquanto que Bank it é mais caótico, aleatório e energético. Ambos os conceitos estão bem implementados e cumprem bem os objetivos a que se propõem. O único problema aqui, e será mais um problema para um futuro próximo, é que me parecem poucos modos (dois) e poucos mapas para os jogar (quatro). Enquanto tudo é novidade, tudo está bem mas quando o sentimento de novidade começar a dissipar-se e a demanda de conteúdo novo começar a vir ao de cima, terá que haver mais conteúdo para solidificar o jogo. A Embark adicionou o Solo Bank It em resposta aos pedidos da comunidade.
Para jogar estes dois modos que referi, THE FINALS tem três classes à disposição do jogador: "Leve", "Média" e "Pesada";
- A classe "Leve" é a mais veloz de todas e permite uma travessia pelo mapa muito mais rápida que as outras embora tenha muito menos vida para despender em combates e é especialista em travessia em slide\tirolesa e conta com opções de invisibilidade e desorientação.
- A classe "Média" (a minha preferida) tem função de suporte, apresentando a opção de equipar um arma que lança um feixe que cura, turrets, plataformas de salto e desfibriladores para reanimações rápidas.
- A classe "Pesada" é a mais lenta e também é o tanque do jogo tendo vida que por vezes parece que nunca mais acaba. Podemos equipar nesta classe, RPG's, C4, um escudo de energia ou uma marreta (que é muito fixe de jogar). É a classe que oferece mais poder de destruição.
Cada uma destas classes é muito satisfatória de jogar e de explorar, oferecendo inúmeras possibilidades e sinergias que nos podem dar momentos espetaculares, cómicos ou ambos.
Por ser um jogo altamente focado em cumprir objetivos e trabalhar as sinergias de cada uma das classes, a colaboração entre elementos da própria equipa é essencial para ganhar jogos. Apesar de gostar bastante de jogos que, não deixando de lado a skill individual, privilegiam execução de objetivos, poderá estar aqui neste elemento chave do jogo o seu maior desafio em termos de captação de jogadores de outras franquias. As opções são muitas e a maior parte delas já existem há muitos anos.
Graficamente THE FINALS é soberbo mas o destaque vai mesmo para a destruição em tempo real que não sendo novidade, especialmente para quem já jogou as últimas iterações de Battlefield, é de salutar o quão avançado tecnicamente este jogo está nesse campo, principalmente em questões de performance. Quando ouvi falar pela primeira vez da destruição em tempo real neste jogo pensei logo; "Vem aí um rebenta PC's!" Mas não! O jogo é super fluido e muito menos pesado para um PC de média gama do que eu estava à espera. Faz todo o sentido visto pois se o objetivo é agregar massas para o jogar, alienar mais de metade da população do PC que habita nesta comunidade online de shooters por causa de hardware, seria um tiro no pé.
O elefante na sala quando falamos deste jogo acaba por ser a componente áudio. A qualidade da mesma é irrepreensível e cheia de detalhes que são sempre importantes num jogo competitivo e que dão ao jogador importantes informações sobre o que se está a passar à sua volta sem que tenha de usar a visão.
No entanto a Embark Studios fez saber que usou a tecnologia de AI para gerar áudio em vários diálogos que nos acompanham no desenrolar das partidas. Não será certamente este o lugar para a discussão sobre se a utilização de AI é ou não bem-vindo na nossa indústria e qual o seu impacto na mesma mas vou dar ênfase aqui à gramática; é conteúdo gerado e não criado ou inventado. Ok? Sobre este caso em particular, confesso que se não soubesse de antemão deste tipo de conteúdo que foi gerado para este jogo, nem sequer me tinha prestado atenção tal o caos que se instala no meio das partidas.
THE FINALS é uma lufada de ar fresco no panorama bafiento e aborrecido onde se encontram os "Games as a Service", onde as formulas são constantemente repetidas e perpetuadas de forma a não mexer muito no status quo e a mexer muito na carteira dos jogadores. Rápido, energético e caótico, este jogo conta com um gameplay e gunplay muito sólidos, dois modos de jogo divertidos que se dividem por quatro mapas e um nível de performance que, quer nas consolas, quer no PC, é fabuloso tendo em conta toda a destruição em tempo real que acontece no mapa. É claramente fruto dos anos de experiencia e conhecimento que os seus criadores adquiriram durante o desenvolvimento dos projetos onde estiveram envolvidos.
É fácil divertirmo-nos a jogar THE FINALS, difícil é entrar num "lobby" para o fazer. Os problemas de conexão são demasiados frequentes, o que num jogo deste tipo é quase um pecado capital. As classes precisam de um toque para equilibrar melhor a balança entre elas e o sistema de progressão e acumulação de XP é demasiado penoso e lento mas isso é mal geral no que toca a este tipo de propostas, sempre prontas a assaltar a carteira do jogador que quer atalhar caminho.
THE FINALS, à data desta análise, tem uma estrutura sólida que merece ser evoluída, resta saber se evolui na direção certa e se o número de jogadores diários se mantem grande o suficiente para evitar que daqui a uns tempos vá parar ao já gigante, cemitério dos "Live Services". O futuro o dirá.
Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para PC, adquirido pelo autor do artigo.