Os Meus RPGs III – Suikoden I & II
Suikoden tem uma história peculiar: é uma série que se tornou icónica, famosa ou muito aclamada já a série estava mais que enterrada. No meio de muitos RPGs que foram saindo para a PlayStation original e a sua sucessora, com spin-offs lançados para a Nintendo DS e ainda outros que nunca chegaram ao mercado ocidental, Suikoden numa foi muito falado. Era jogo de culto, desconhecido, discutido entre os fãs que o haviam jogado e pouco mais que isso. Uma história de rebelião onde as 108 Stars of Destiny enfrentavam um poderoso império que tentava dominar a região, mas, com forças místicas e muita estratégia militar, conseguíamos moldar o destino.
Foi série que conheci quando me emprestaram o primeiro jogo, numa fase da minha adolescência que tentava conhecer mais jogos do género a que muitos me perguntavam "que Final Fantasy é esse?", devido ao impacto que Final Fantasy VII havia deixado cá. De nome completo "Genso Suikoden" este era um RPG bem contido, praticamente todo em 2D fora as arenas de combate que mostravam um 3D muito simplista, entre outros elementos tridimensionais que tínhamos no jogo. Não era um jogo de impacto, a própria Konami falhava em publicitar o jogo, algo que a série sofreu em todos os títulos posteriores, para muita pena minha.
Tenho também uma história peculiar com este primeiro Suikoden, que há anos acaba por ser uma espécie de tradição, não sei porquê (manias as minhas, talvez), é uma série que jogo ano sim, ano não (às vezes anos seguidos) durante a época da Páscoa. É estranho, eu sei, não tenho motivos para tal, mas à semelhança de Final Fantasy que jogo sempre pela altura do Natal, recordando-me de quando me deram Final Fantasy VII e VIII como prenda então, surge uma tradição com Suikoden sem grande motivo.
Posso não ter um motivo válido, ou forte, ainda assim criou e mim uma espécie de memória sensorial. Quando me lembro de jogar Suikoden, lembro-me da chegada da primavera, das primeiras noites quentes do ano em que durante as longas sessões de jogo a essa hora, abria a janela (na altura tinha eu o meu quarto no sótão, que boas memórias deixa) e descansava assim por alguns momentos. Suikoden marca em mim o início do ano, a chegada dos jogos que começam a surgir por março, abril, após meses mortos sem grandes lançamentos fora um ou outro caso.
Sei que joguei o primeiro Suikoden vezes sem conta. Não tinha internet e tinha de descobrir onde estavam todas as 108 Stars of Destiny, sem guias, sem ajudas. Foi uma tarefa algo complexa, o jogo não tem assim tantas ferramentas que nos ajudem, mesmo havendo uma personagem que nos dá umas dicas sobre possíveis recrutas para a nossa base. Foi um feito enorme quando consegui completar o primeiro jogo a 100%, um Save que ainda guardo no meu cartão de memória da PlayStation original, até ao dia em que ele deixe de funcionar.
Este hábito de jogar um jogo inúmeras vezes tornava-se ainda mais forte com a chegada da sua sequela. Suikoden II foi um jogo que aguardei imenso desde que vi as primeiras notícias sobre o jogo numa revista, cujo nome agora escapa-me. A ansiedade pelo seu lançamento crescia no momento em que recebia um CD de demo com uma versão de demonstração construída propositadamente para promover o jogo. Espera esta que terminava no dia em que recebi a chamada da (extinta) loja Prameta que já tinham o Suikoden II que havia reservado à minha espera, ao que me apressei a ir buscar o mesmo no verão de 2000.
Sei que passei o verão inteiro agarrado ao jogo, terminava-o para o começar de novo. Pedia novamente emprestado o primeiro jogo para poder jogá-los de seguida, algo que recomendo muito caso tenham interesse em jogar este segundo título, bem aclamado como o melhor da série e um dos melhores RPGs alguma vez feitos, pois muitos dados do primeiro jogo passam para o segundo. Tal como no primeiro Suikoden, não descansava até ter as personagens todas, tarefa essa mais complexa agora que haviam personagens escondidas que não pertenciam às 108 Stars of Destiny.
Suikoden II brilha pela sua história, uma narrativa que não é tanto preto no branco, onde as motivações dos vilões não são serem simplesmente maus porque sim. A própria história das 27 True Runes, um dos pilares mais importantes da série, ganhava agora um propósito bem mais vincado, muito além de serem símbolos especiais cravados nas mãos das personagens, que davam alguns poderes. Tudo o que havia sido criado no primeiro jogo era melhorado no segundo, numa aventura mais longa, melhor estruturada e pensada para nos fazer sentir que fazemos parte daquele mundo, com rostos bem familiares da nossa primeira aventura, personagens que fazem questão de recordar que interagiram no passado.
E são jogos que nos marcam, não tenham dúvidas! Têm aqui dezenas de personagens bem moldadas inseridas numa espécie de jogo de coleção onde queremos desbloquear tudo, mesmo as mais inúteis que não parecem ter uma função, servindo apenas para desbloquear o final verdadeiro e ter direito a ver o seu destino contado nos créditos dos jogos. São ambos histórias bem políticas, bem construídas, com decisões que moldam (mesmo que ligeiramente) o fluxo do jogo, dependendo se queremos poupar a vida de determinadas personagens ou se optamos por fugir às nossas responsabilidades. Temos um estilo de combate único, numa equipa composta por 6 personagens e um sistema de combos para tirar partido do grupo. Não é desafiante, se há crítica que tenho de deixar ao jogo é a completa ausência de desafio, embora isso o torne uma boa recomendação aos que querem explorar o género.
A banda sonora é memorável, os visuais, mesmo em 2D são de um detalhe incrível, ajudando a criar momentos únicos no decorrer da história que nos marcam. É um jogo onde sentimos a evolução do mesmo, a progressão da nossa aventura que é refletida na evolução da(s) nossa(s) base(s), à medida que novas personagens se juntam à nossa causa. Personagens esta que o jogo não tem qualquer tema em matar definitivamente pela história, mesmo personagens vitais não escapam à morte, se assim a história do jogo entender. Ou, até mesmo, personagens que podem cair em combate nos momentos de guerra que temos no jogo, retirando-as por completo do jogo apenas para ver nos créditos em que momento morreram.
Hoje é um momento perfeito para muitos conhecerem o início da série, através de Suikoden I & II Remaster que está disponível em tudo o que é sítio (peço desculpa, dispositivos móveis), com features que tornam o jogo mais acessível e que fazem ambos os títulos envelhecer melhor. Perdem-se alguns exploits do segundo jogo, que nos permitiam quebrar por completo o mesmo, por outro lado ganhamos qualidade de vida neles, embora ache que podiam ter ido um pouco além e criar mesmo um remaster coeso, unindo ambos os jogos com sistemas semelhantes, pondo de parte os elementos que diferem entre eles. Foi um lançamento na altura certa, não saiu na Páscoa, mas chegou a mais que tempo para o jogar novamente na festividade este ano.
Concluindo, porque sei que já me estendi muito, mesmo sendo "o chato" que faz questão de falar constantemente de Suikoden até que não me possam mais ouvir (ou ler), celebrei e continuo a celebrar o momento em que a Konami se parece ter recordado que Suikoden existe, muito talvez pelo sucesso Kickstarter do seu sucessor espiritual Eiyuden Chronicles, criado pela equipa que trouxe Suikoden ao mundo. Temos um jogo gacha mobile (e PC) na calha, que me chateia sabendo que me vou agarrar ao mesmo assim que for lançado, uma série de animação e mais algumas coisas. Espero é, duas coisas: o lançamento de mais coleções de Suikoden, com os capítulos III ao V lançados para PlayStation 2 (juntamente com o spin-off Tactics) e, ainda, lançarem Suikoden Tierkreis para a Nintendo DS ou, até, jogos que nunca chegaram cá, como o título da PlayStation Portable, as visual novels para PlayStation 2 e o jogo de cartas para Game Boy Advance. Sei que é pedir muito, mas deixem-me sonhar…
Ou, quem sabe, lançarem individualmente ports de cada jogo, até porque quase todos são em 3D e ficaria feliz com uma simples melhoria na resolução. Até porque teria desculpa para falar de mais jogos Suikoden aqui, que ando a falhar. Prometo que o meu próximo RPG sairá em breve!
Obrigado, novamente, por acompanharem-me em mais uma aventura desde a última que falamos em Final Fantasy IX, que fez há pouco 25 anos. Até lá, têm acompanhado a Masmorra do Glitch? Com uma periodicidade bem mais saudável que estes artigos, os lançamentos são mensais. Deixo-vos com o terceiro episódio onde falamos de "RPGs sem magia", mesmo não estando relacionado com o jogo deste artigo, não quero fugir da ordem em que os episódios foram lançados (mas, prometo, que falo de Suikoden num dos episódios!):
Suikoden I&II HD Remaster Gate Rune and Dunan Unification Wars está disponível para Nintendo Switch, Nintendo Switch 2, PlayStation 4/5, Xbox One/Series X|S e PC, através de uma versão única com ambos os jogos.