Mandragora: Whispers of the Witch Tree
Um dos grandes clássicos que mais influenciou o nascimento de novos títulos no género metroidvania foi, sem sombra de dúvida, Castlevania. A sua premissa icónica, o caçador de vampiros solitário a enfrentar horrores góticos, alimentou o imaginário de jogadores durante décadas e abriu caminho para novas interpretações e IPs inspirados nessa fórmula. Para os fãs deste universo, títulos como Bloodstained: Ritual of the Night foram recebidos como verdadeiras bênçãos. Mas, e se vos disser que Mandragora: Whispers of the Witch Tree poderá ser a próxima pérola a descobrir?
Desenvolvido pelo estúdio húngaro Primal Game Studio, Mandragora é um action RPG em 2.5D que mistura exploração metroidvania com elementos de RPG clássico, ambientado num mundo que parece saído diretamente de um livro de contos sombrios. E é precisamente o seu estilo visual que salta imediatamente à vista, uma estética desenhada à mão, e que estabelece uma atmosfera envolvente logo desde os primeiros minutos de jogo.
A narrativa é escrita por Brian Mitsoda, conhecido pelo aclamado Vampire: The Masquerade – Bloodlines, e isso sente-se na forma como os diálogos, as personagens e o próprio mundo transmitem densidade e mistério. Assumimos o papel de um Inquisidor, servo leal do King-Priest de Faelduum, encarregado de erradicar bruxas e hereges. No entanto, tudo muda após uma missão que o leva a matar uma bruxa particularmente poderosa, um evento que abala a sua lealdade e o liga espiritualmente à entidade que deveria ter destruído.
A partir daí, a voz da bruxa passa a guiar o protagonista para norte, em direção a Wickham e ao pântano de Graveseep, alertando-o para uma ameaça maior: a Entropia, uma força corruptora que dilacera a realidade e liberta horrores impensáveis. O jogador vê-se assim envolvido numa espiral de dúvida, profecia e escuridão, onde cada decisão tem peso e onde nem tudo é o que parece.
O combate em Mandragora assume um estilo deliberado e estratégico, claramente inspirado na fórmula Souls. Gerir a stamina é essencial, bem como dominar os tempos de esquiva, parry e ataque. As lutas não são apenas testes de reflexos, mas sim pequenos puzzles táticos que exigem estudo dos padrões e escolhas cuidadas. É um combate metódico, que recompensa a paciência e o posicionamento.
Existem seis classes distintas, como o Vanguard (melee), o Spellbinder (mage), entre outros, cada uma com árvores de talentos profundas que permitem personalizar e até combinar estilos de jogo. A possibilidade de criar builds híbridas é particularmente interessante e dá origem a uma grande variedade de abordagens, seja apostando no dano direto, no controlo de terreno ou em magias elementais. Esta liberdade na construção da personagem é um dos pontos fortes do jogo, e dá vontade de experimentar novas combinações à medida que se desbloqueiam habilidades e equipamentos.
Ao longo da jornada, encontraremos diversas personagens intrigantes, algumas das quais até se juntam à nossa causa e passam a residir no acampamento central. Este acampamento funciona como hub principal de progressão, onde podemos melhorar equipamentos, criar poções, cozinhar refeições ou reforçar o nosso arsenal. Cada companheiro tem uma função específica, e para desbloquear itens de maior qualidade será necessário evoluir as suas bancadas, o que introduz uma componente de gestão e recolha de recursos.
É aqui que o jogo introduz uma das suas mecânicas mais discutíveis: o grind. A recolha de materiais espalhados pelos diferentes mapas é essencial para progredir de forma significativa, mas o ritmo a que isso acontece pode tornar-se algo moroso e frustrante. Aliás, o jogo exige bastante investimento para conseguir criar equipamentos realmente relevantes, o que pode quebrar o ritmo da aventura.
Outro ponto que merece destaque (e crítica) é a curva de dificuldade. Os inimigos tornam-se bastante difíceis de forma abrupta, e a falta de orbs de experiência após cada combate torna o avanço mais penoso do que necessário. Chega-se a um momento em que sentimos que batemos contra uma parede, a dificuldade sobe, mas as recompensas não acompanham, o que pode desmotivar jogadores menos persistentes.
Ainda assim, há que reconhecer a diversidade de inimigos e biomas, que mantém o ambiente fresco e visualmente apelativo. Destaco especialmente o Castelo do Vampiro, que é, para mim, o cenário mais cativante do jogo, tanto pela sua atmosfera gótica como pelo design de níveis.
Infelizmente, os bosses acabam por ser um ponto menos conseguido. Apesar de visualmente imponentes, alguns combates tornam-se repetitivos e poderiam beneficiar de mais criatividade mecânica, sobretudo ao fim de algumas horas de jogo.
Mandragora: Whispers of the Witch Tree é uma proposta ambiciosa e esteticamente arrebatadora, com uma história bem escrita, um universo coeso e mecânicas de combate sólidas que agradam aos fãs de Castlevania, Bloodstained e Dark Souls. Apesar de algumas falhas no ritmo de progressão e no equilíbrio da dificuldade, oferece uma experiência rica e desafiante para quem aprecia mundos densos em lore, combate exigente e liberdade de construção de personagem.
Se procuras um novo título para preencher o vazio deixado pelos clássicos do género, Mandragora merece, pelo menos, a tua atenção.