Planet of Lana

É nos tempos mais tranquilos e serenos da nossa vivência e em que tudo parece dado como garantido que a vida se lembra de nos recordar do valor dela. Por norma essa lembrança traz consigo provas de superação que levam a momentos em que a dúvida se instala, mesmo no coração dos mais bravos e corajosos. A maneira com que cada um de nós lida com a adversidade é que determina o maior ou menor sucesso com que chegamos àquilo que nos traz felicidade ou o quão rápido regressamos aos braços dos nossos entes queridos.

É isto que o estúdio Wishfully traz para cima da mesa com o seu primeiro jogo, Planet of Lana.
Uma aventura sci-fi que tem como personagem principal, Lana, uma menina que faz parte de uma tribo que habita um pacífico planeta e que goza de uma paz só ao alcance de uma civilização ainda num estado embrionário onde o passar dos dias ainda se foca muito na sua própria organização e capacidade de sobrevivência.

Um certo dia, toda esta paz é interrompida com a chegada de robots alienígenas que começam a raptar todos os habitantes da tribo incluindo Ilo, a sua irmã. Escapando a todo este tumulto, Lana começa assim a sua demanda para encontrar e recuperar a sua irmã e respectiva tribo. Não está sozinha, pois logo encontra um companheiro de seu nome, Mui. Uma criatura com poderes especiais que lhe vai ajudar a ultrapassar todos os obstáculos que esta aventura lhe irá apresentar.

Com uma história bastante linear mas de uma cadência que vai gradualmente aguçando o interesse e que alterna a sua evolução com os desafios e puzzles que vamos encontrando ao longo do caminho, o jogo encontra assim um equilíbrio que nunca deixa uma parte sobrepor-se à outra conferindo ao mesmo uma constância cíclica que vai gerindo os altos e baixos mas sempre deixando migalhas que fazem avançar a história e criando pontes de ligação umas vezes em formato de cut–scenes, outras através de flashbacks jogáveis.

Neste tipo de propostas que não têm qualquer tipo de confrontação física e gozam de ausência de combate, os puzzles são a principal fonte de desafio e aqui o estúdio foi beber inspiração aos clássicos do género. Os desafios dividem-se entre puzzles mais cerebrais e o uso de evasão e precisão temporal onde podemos usufruir das habilidades de Mui e da sinergia que tem com Lana. Os puzzles são variados e interessantes, no entanto, durante a normal travessia dos vários cenários a dificuldade e variedade dos obstáculos que encontramos acabam por se resolver sempre a mover caixas, escalar obstáculos, esconder dos inimigos ou algo semelhante. Um pouco simplista, mas num jogo de apenas 4 horas sinto que é quase mais uma implicância da minha parte do que propriamente um problema de maior e as habilidades de Mui até dão uma certa diversidade neste campo. A ultrahand do Tears of the Kingdom não pode estar em tudo o que é videojogo. Ok?

Para mim o que acabou por ser um dos pontos altos do jogo foi, imagine-se, uma sequência de perseguição que nos leva ao capítulo final do jogo e que vai buscar os velhinhos e mal amados QTE's (Quick Time Events) que por norma nos videojogos são mais uma muleta do que outra coisa qualquer mas que nos dias de hoje ainda encontram algum do seu propósito em partes mais cinemáticas.
É o caso desta sequência onde a energia da música casa perfeitamente com o trabalho de câmera que nos apresenta a frenética ação da perseguição e onde aqui e ali, sempre de maneira inesperada, somos solicitados a ser puxados para dentro dela.

O que é realmente material de primeira página é toda a construção visual e estética deste mundo. Embora digitalmente, quase tudo foi desenhado à mão, enaltecido com um uso criativo de iluminação dinâmica e o conhecido efeito parallax que dá a sensação de aparente deslocamento de objetos aos nossos olhos tem aqui uma das melhores utilizações em jogos deste género.
O estilo artístico usado é de certa maneira inspirado nos estúdios Ghibli tal como muito outros videojogos independentes nos dias de hoje mas em boa verdade... desde quando é que isso é um problema?

Tudo em Planet of Lana serve para conferir uma determinada emoção, seja ela visual ou auditiva, e é neste ultimo aspeto que este jogo brilha mais intensamente. Takeshi Furukawa, que compôs a banda sonora para The Last Guardian, regressa em grande forma com a sua orquestra e aumenta a sensibilidade de cada cena independentemente do foco emocional que esteja em questão. Para mim é uma das candidatas a OST do ano na indústria dos videojogos.

Planet of Lana é uma aventura maravilhosa e emotiva que é enaltecida pelo seu refinado requinte visual e sonoro. A personagem principal gera empatia logo a partir dos primeiros momentos da história e o seu companheiro de viagem apanha desprevenido até o mais insensível dos jogadores. Como se isso não bastasse, ambas as personagens têm uma excelente química quer em termos de narrativa, quer em termos de jogabilidade e resolução de puzzles o que torna o acompanhamento desta aventura quase isento de frustração dando espaço a que possamos contemplar tudo aquilo que o estúdio Wishfully criou para este mundo.

Quem é fã dos clássicos modernos Limbo ou Inside vai-se sentir completamente em casa e com toda a segurança poderá desfrutar de um jogo que embora não seja tão misterioso e acutilante como os referidos (principalmente na conclusão da sua narrativa), consegue elevar-se em todos os outros aspectos e estar no mesmo patamar onde esses mesmos clássicos se encontram.

Planet of Lana está disponível desde 23 de maio de 2023 para Xbox Series X/S, Windows PC e está incluído no Xbox Game Pass para ambas as plataformas.

Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a PC, adquirido via Game Pass.


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