Banner of the Maid
Desenvolvido pela Azure Flame Studio, Banner of the Maid é um RPG de estratégia, lançado em 2020 para a Nintendo Switch. O jogo passa-se numa versão alternativa da França no final do século XVIII, bem no meio dos caóticos tempos da Revolução francesa e da campanha militar na península itálica.
Para os conhecedores de história, figuras reconhecíveis, como o famoso
Napoleão Bonaparte e o jacobino Robespierre, assim como o monarca Louis XVI e
a sua esposa, a rainha Maria Antonieta (esta tem um papel bastante relevante
no desenrolar da história do jogo), entre muitas outras figuras importantes da
época, marcam presença no jogo. Contudo, e ao contrário do que seria de se
esperar, o protagonista (ou devo antes dizer a protagonista), não é nenhuma
destas figuras de maior relevo, mas antes a relativa desconhecida irmã mais
nova de Bonaparte.
Pauline não podia ser mais distante da sua versão histórica. Em Banner of the
Maid ela não é de todo uma figura frívola e com pouca instrução, mas antes um
génio militar que quase chega a igualar o do seu irmão mais velho. Para além
disso, ela é uma das místicas Maidens, mulheres de inigualável poder místico
cujas origens vêm dos tempos da Joana D'Arc. Apelidada de Maiden de Toulon e
com a capacidade de levantar a moral do seu exército para níveis quase
estratosféricos, Pauline vê-se envolvida na malha de intrigas políticas de
Paris, no segredo por detrás do poder das Maidens e em campanhas militares
dentro e fora das fronteiras francesas. Felizmente, ela não terá de lidar com
isso sozinha, uma vez que ela conta com um largo contingente de aliados para a
auxiliar. Mais de 30 personagens poderão ser recrutadas para fazer parte do
seu exército. Cada qual com as suas próprias habilidades e classes militares.
A forma como esses se juntam vai depender do desenrolar da história e das
opções que o jogador, na pele de Pauline, tomar. Para se conseguir algumas
personagens, outras ficarão necessariamente pelo caminho. Entre as personagens
é possível desenvolver laços de afecto, o que por sua vez permitirá aceder a
missões extra, fora do contexto geral da história.
Em Banner of the Maid existem, com já referido, diferentes classes, que partilham entre si um sistema de pedra, papel, tesoura, como forma de decidir qual é a mais eficaz contra qual. Temos a infantaria, na qual se insere a nossa heroína, que conseguem atacar de perto e à distância, servindo-se maioritariamente de mosquetes. Estas unidades são particularmente eficazes contra cavalaria pesada, mas fracos contra o outro tipo de infantaria, a ligeira. Segue-se a unidade mais móvel da cavalaria pesada, que normalmente se serve de espadas como arma preferencial. Estas são unidades de close combat, cuja força do ataque será proporcional à distância percorrida entre eles e o adversário escolhido. Bastante úteis como "tanques kamikazes", a cavalaria pesada é bastante útil contra a sua contraparte ligeira, se bem que é extremamente vulnerável a ataques provenientes da infantaria de linha. A cavalaria ligeira é mais móvel que a pesada, sendo fortes contra a infantaria ligeira. Este tipo de unidades contra com duas subcategorias, uma delas serve-se de sabres e ataca de perto (uma das minhas personagens favoritas deste jogo, a trágica Charlotte, faz parte desta classe), ao passo que a outra ataca à distância, com espingardas.
A infantaria ligeira é outra classe, com duas subdivisões. Altamente móvel em cada uma delas, este tipo de infantaria tem unidades que primam pela sua extraordinária capacidade de evasão (como D'Eon ou Adelaide) e outras cujo foco passa por um killer instinct devastador (caso em questão, a jovem Cosette), que é ainda mais aprimorada com o potencial de atacar à distância. Ainda dentro desta classe existe uma outra subcategoria exclusiva de uma das personagens secretas do jogo, que lhe permite combinar o uso de sabres e armas de fogo. Segue-se a artilharia, unidades sem uma vulnerabilidade específica, mas que sofrem com a sua pouca mobilidade e que os deixa expostos a ataques inimigos, se deixados para trás. Munidos de canhões, as personagens pertencentes a esta classe conseguem atacar a grande distância e atingir múltiplos inimigos (contudo, as suas munições são normalmente escassas).
Por último, temos as bandas militares (que podem surgir a cavalo ou a pé), sem
qualquer capacidade ofensiva, mas com um importante papel de apoio. Elas são
as curandeiras deste jogo. Cada classe tem pelo menos um upgrade, que pode ser
acedido a partir do momento que a personagem em questão alcance o nível 15.
Contudo, isto varia conforme a mesma, uma vez que haverá personagens sem
upgrade de classe e outras com a possibilidade de escolher entre três classes
superiores. A própria evolução no nível 15, não é uma regra definitiva, uma
vez que há personagens nas quais a mesma será apenas feita quando o nível 19
for atingido. De salientar que esta evolução é feita mediante a obtenção de
medalhas próprias para cada tipo de unidade (o nível máximo deste jogo é o
30).
Para além das características da sua classe, cada personagem tem um conjunto de skills, que lhe podem dar um edge importante no campo de batalha. Existe uma skill primária, que não pode ser alterada, e outras cinco, que podem ser alternadas por outras à medida que formos desbloqueando novas habilidades, via a subida de níveis ou a sua aprendizagem na chamada École Militaire (sobre isso falaremos mais adiante). Para além disso, novas habilidades podem ser ainda obtidas via objectos especiais que podem ser equipados. Esses objetos vão alternar entre medalhas de valor, velas de prata, chapéus militares, relógios, sabres cerimoniais e pendentes, até mantos, monóculos, pés de coelho , livros, moedas e bandeiras (entre muitos outros).
Cada personagem pode carregar até quatro objectos (ou menos), alternando entre armas e itens para encher a energia, levantar a moral ou melhorar status. Falando de status, as personagens têm os típicos níveis de ataque, defesa (resistência a armas de fogo) e velocidade (se for maior do que a do oponente permite-nos atacar duas vezes), assim com uma barra de energia (que uma vez reduzida a zero resulta na sua derrota). De igual modo contam com um nível de movimento (que representa o espaço que a personagem em questão se pode mover), scouting (quanto mais alta melhor, uma vez que os hit points dependem disto), liderança (importante porque dela estão dependentes muitos dos outros stats) e armadura (resistência a espadas e bolas de canhão).
De suma importância, sobretudo no campo de batalha, será a barra de moral. Esta representa a confiança das nossas tropas e pode ser elevada para o seu nível estrela através do consumo de certos itens ou ao eliminar adversários no campo de batalha. Uma vez conseguida a dita estrela, é-nos possível fazer um ataque especial, que será particularmente útil para abater os bosses (mas cuidado que os inimigos, mesmo os grunts, também têm esta habilidade).
No campo de batalha teremos que lidar com diferentes tipos de adversários, que vão de adversários normais, até situações onde teremos mais que um boss. O exército inimigo, aqui representado por figuras opostas dentro de França (liderados por uma misteriosa figura), os seus aliados prusssianos e austro-húngaros (assim como certas brigadas britânicas e alguns ladrões), é bastante numeroso e supera sempre o nosso número de aliados. Em muitas ocasiões eles contam com reforços (representados na figura de pegadas que surgem no mapa), o que vem aumentar a dificuldade de alguns mapas. Estes adversários partilham as mesmas classes do jogador e podem ter uma atitude mais ou menos ofensiva, dependendo da missão em questão. Algumas das missões (que iremos aceder via a Caserne) pedem ao jogador que elimine o general adversário, resista durante um número de turnos, derrote todos os adversários, alcance um determinado local no cenário ou salve um aliado sob fogo. Para dificultar isso, temos as vantagens e desvantagens geográficas do terreno, assim como a existência de nevoeiro, chuva intensa, nevascas ou lama. Tudo isso serve para não apenas diminuir a mobilidade das nossas unidades, como também interferir com a eficácia de algumas delas em combate (para além de provocar dano físico, no caso das nevascas). Contudo, nem tudo é mau ou aleatório no campo de batalha. Temos fogueiras, que podemos acender de formar a encher a energia dos nossos combatentes, trincheiras a ocupar (para conseguir vantagem defensiva), arcas de tesouro escondidas para encontrar, assim com certas habitações para explorar.
Muita atenção ao número de usos das armas, uma vez que estas ficam
inutilizadas (na missão) se chegarem a zero. De igual importância será a boa
gestão dos reduzidos fundos monetários que teremos disponíveis durante o
jogo.
Os cenários de batalha, que em muito fazem lembrar séries como o Final Fantasy Tactis ou Ogre Battle, são bastante variados, alternando entre batalhas na cidade, catacumbas, barcos, florestas, aldeias, palácios, entre muitos outros.
Para além desta componente de estratégia (magnificamente representada por uma animação de combate), que em muito lembra o Fire Emblem, Banner tem ainda uma forte vibe de visual novel, com a nossa personagem a ser colocada num hub que tem por base a cidade de Paris. Aqui teremos muitas áreas para visitar (à medida que formos avançando no jogo) e diferentes facções revolucionárias com as quais lidar. O Malmaison Salon, de Joséphine de Beauharnais, será a nossa área inicial e dar-nos o contacto com a facção dos Malmaison. Aqui teremos acesso a missões extra que permitirão explorar mais a história individual de cada personagem e treinar unidades mais fracas. É também aqui que nos é possível ver qual a nossa reputação em Paris, assim com aceder aos nossos troféus de jogo e galeria de personagens. Segue-se o insalubre Club des Jacobins, onde poderemos comprar (e vender) armas de fogo e bolas de canhão. Depois temos o Cabinet, do aristocrático Mirabeau. Neste local é possível descobrir mais sobre as Maidens, assim como comprar pautas de música (usadas pelos nossos curandeiros) e manuscritos para aumentar os nossos status de forma definitiva. De seguida temos a Magasin, onde as espadas podem ser obtidas, assim como outros tipos de mantimentos como pão e bebida para aumentar a energia e a moral respectivamente. O Palais des Tuileries coloca-nos em contacto com o que resta da alta nobreza e monarquia francesa, permitindo-nos obter medalhas (para subir de classe), assim como certos itens especiais. Por último temos a École Militaire, que servirá para aprender novas skills.
Com mais de 30 personagens no seu roster, Banner of the Maid é um jogo bastante desafiante, com imenso conteúdo e com uma banda sonora clássica que nos remete para os tempos revolucionários de séculos atrás. Um desafio exigente, particularmente em missões mais avançadas, Banner não tem a temida morte definitiva (na maior parte das vezes), mas pode ter alguma punição nas recompensas obtidas no final de cada batalha a cada retirada de personagem. Contudo, tudo isto irá depender da escolha de dificuldade inicial. Temos o extremamente fácil story mode, o mediano officer mode e o mais desafiante general mode.
Um magnífico jogo para a Nintendo Switch e uma agradável surpresa.
Nota: Análise efetuada com base numa cópia adquirida pelo autor do artigo,
para a Nintendo Switch.