Foi há 30 anos que nasceu Final Fantasy, uma das séries mais icónicas dos videojogos! Muitos são os recordam o lançamento de Final Fantasy VII, um jogo desconhecido mas que já causava furor, mesmo sendo o primeiro jogo da série a sair na Europa. O impacto foi tal que muitos passaram a chamar o género RPG de "Final Fantasy", vincando a sua influência. Vamos no 15.º "capítulo" dentro da série, que tem imensos spin-offs, sequelas e prequelas de alguns capítulos e ainda a sua presença no cinema e em salas de concerto. Foi na PSP que surgiu Dissidia, levando os heróis a arenas de combate criando uma série que já vai no 3.º jogo, lançado originalmente nas Arcadas (no Japão) e chegando finalmente à PlayStation 4.
Aqui a luta é frenética e cheia de ação, onde os vários personagens lutam entre si, enfrentando-se em cenários dos vários jogos. Trata-se de um jogo para os fãs, onde é possível recriar os combates entre os heróis contra os seus respetivos vilões, podendo até assumir a pele destes. É também interessante ver como os vários personagens interagirem entre si na história que Dissidia apresenta, mas enquanto que nos dois jogos anteriores (principalmente no segundo) em que o enredo era interessante, e que ser herói ou vilão não era tão preto e branco, Dissidia NT apresenta-se como uma versão muito, mas muito light disso, surgindo depois dos eventos dos jogos anteriores embora não seja preciso os ter jogado para a compreender. Até porque, sinceramente, não há muito para perceber.
A jogabilidade continua a parecer mais complexa do que é, resumindo-se a dois tipos de ataques: Bravery e HP. Os Bravery Attacks dão-nos uma espécie de pontos que ganhamos ao atingir os adversários, enquanto esses ficam os perdem. Mas para os derrotar é preciso usar os HP Attacks, e quantos mais "pontos" de Bravery tiver-mos maior será o dano provocado. A grande novidade deste jogo são as lutas agora (normalmente) no formato 3 contra 3, tornando o jogo um pouco caótico. Existem ainda habilidades extra como as EX Skills, que podem ser transformações ou ataques com vários efeitos, ou Common EX Skills que podemos equipar e se resumem a ataques com estados especiais como Poison, reduzir atributos tanto dos inimigos como melhoramentos nos nossos personagens, entre outros. Mas algo que pode facilmente decidir o resultado da batalha são os Summons, e cada equipa pode invocar um com resultados bastante devastadores.
É possível costumisar os personagens, mas enquanto que nos jogos anteriores haviam elementos mais ao estilo RPG, aqui o jogo tornou-se bem mais simples e mais focado no género de luta, sendo que é possível mudar os personagens mas não há assim tantas opções. Por um lado cada personagem está associada a um tipo de classe, mas nada ou pouco influenciam o jogo em si. Existem também poucos Summons limitando-nos a 7, um número reduzido atendendo que são fundamentais para o jogo e também um dos elementos mais icónicos da série. Já o leque de personagens é bastante diverso, com 28 disponíveis e ainda mais através de DLCs futuros. Mas enquanto que temos um protagonista por capítulo, mais Razma (Final Fantasy Tactics) e Ace (Final Fantasy Type-0), e ainda Kain como extra de Final Fantasy IV, o mesmo não pode ser dito para os vilões que são apenas 10, desequilibrando um pouco o roster.
Visualmente o jogo é fiel ao que a SquareEnix nos tem vindo habituar ao longo dos anos: gráficos polidos com personagens muito bem detalhadas. No início de cada combate temos uma breve fala dos personagens em que vemos o histórico elenco em todo o seu esplendor, mesmo que seja notório a redução de fotogramas face ao que temos presente em combate. Um "sacrifício" pouco irrelevante atendendo que o jogo consegue ao mesmo tempo ter uma belíssima apresentação (e uma abertura em Full Motion Video que deixa qualquer fã entusiasmado), e ao mesmo tempo respeitar os "60 FPS" quase que obrigatórios para o género de luta. Por outro lado toda a interface do jogo é fraca, desde menus básicos aos de seleção de personagens que deixam a desejar, e uma interface durante o combate que nos faz questionar o porquê de tanta coisa no ecrã, ao mesmo tempo, e sem conseguir prestar atenção a mais de metade dos elementos.
Foi um jogo feito a pensar nas Arcades, mas surgem toda uma quantidade de coisas questionáveis na adaptação algo infeliz para a PS4. Primeiro não temos um modo de história propriamente dito, este existe, mas são só um conjunto de cutscenes que vamos desbloqueando à medida que... as compramos: basicamente, após um conjunto de lutas vamos ganhando Memoria, uma espécie de moeda que gastamos para desbloquear as sequências. Estamos também limitados a um conjunto reduzido de modos de jogo, como batalhas Online e Offline (sucessivas ao estilo modo Arcade, ou individuais), e um Tutorial. São muito poucos modos, sendo notório quando comparamos com o que os jogos anteriores tinham para oferecer, e que nos fazia voltar ao jogo para desbloquear sempre um pouco mais. Em Dissidia NT o nosso único objetivo é combater, e nada mais temos para fazer para além disso.
É impossível não sentir que o jogo está incompleto, e que em apenas poucas horas já gastamos tudo o que o jogo tem para oferecer, fora o grind exaustivo de Memoria necessário para ver as cutscenes todas do jogo, e ter as (poucas) lutas especiais que surgem pelo meio. Mesmo a história em si é questionável, com diálogos fracos e uma relação constrangedora entre as personagens. Há muito para desbloquear, usando Gil para comprar fatos e armas dos personagens (embora sejam poucos itens) e músicas dos jogos que podemos depois ouvir enquanto combatemos, mas o custo de tudo é tão elevado e cada batalha dá tão pouco que se torna cansativo comprar tudo, se é que alguma vez o faremos. Piorando a coisa, existe também uma terceira moeda que são Treasures, que funciona como um gacha ou ao estilo loot box, com que desbloqueamos na maioria dos casos frases para os personagens e avatars para personalisar o nosso perfil de jogador. Muito raramente vi sair os preciosos fatos, armas e músicas. Falando em músicas, há uma forte vertente de música electrónica que pode não ser de agrado de muitos (até porque estamos habituados a músicas mais orquestrais), mas é possível fazer uma seriação de músicas que ouvimos, desde temas originais ou mais clássicos, e associar aos personagens ao estilo playlist.
O jogo incentiva a jogar no modo 3vs3, embora seja possível ajustar o número de personagens em combate, tornando-o menos confuso. O mapa sempre presente ajuda a ter uma noção de onde estão os personagens, mas há tanta coisa a acontecer na interface demasiado complexa que não sabemos ao que prestar atenção. O normal é passar a maior parte do tempo a perseguir e tentar atingir o adversário, que muitas vezes simplesmente foge e passamos grande parte do combate simplesmente a voar pelo cenário. Novamente comparando com os jogos anteriores, enquanto que era possível ter batalhas épicas nesses, aqui as batalhas são geralmente confusas, caóticas e resumem-se a premir constantemente os mesmos botões na esperança de derrotar os inimigos, sem que sejamos interrompidos.
Não consigo deixar de estar desiludido com o jogo, já que passei centenas de horas em ambos os Dissidia anteriores, mas ao que tudo indica o mesmo não deve acontecer com NT. Não tenho o mesmo entusiasmo que tive pelos anteriores, e mesmo configurando as batalhas de modo a ter um 1vs1, muitas foram as vezes que mais parecia estar a jogar às caçadinhas.
Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a PlayStation 4, gentilmente cedido pela Ecoplay.