Inspector Zé e Robot Palhaço em: O Assassino do Intercidades


Detective Case and Clown Bot in: The Express Killer é o título que chegará a mais pessoas no mundo, mas não há que enganar, Inspector Zé e Robot Palhaço em: O Assassino do Intercidades é um jogo bem "tuga"! Desenvolvido pela Nerd Monkeys, este point-and-click é uma sequela do já clássico Crime no Hotel Lisboa, um dos pioneiros da nova vaga de jogos indie desenvolvidos em Portugal. Mas será este um jogo do catano?

A história passa-se pouco tempo depois do primeiro jogo, quando o Inspector Zé é abordado pela Polícia com a notícia de que um assassino anda a espalhar o terror a bordo do comboio Intercidades. Apenas Zé e o seu companheiro Robot Palhaço poderão resolver este mistério! A aventura começa ainda na estação de comboios, onde Zé vai conhecendo as personagens e adquirindo um maior contexto sobre o que se poderá passar. Sendo um jogo de cariz humorístico, obviamente as coisas não vão correr todas da melhor forma.


Quem faz muitas viagens de comboio entre o Porto e Lisboa irá facilmente perceber que este é um trajeto regular de vários elementos da Nerd Monkeys. Desde os clichés de personagens típicas destas viagens até à estrutura do comboio com a famosa carruagem bar, a familiaridade deste jogo é um aspeto muito bem conseguido. Claro que há imensas liberdades criativas, especialmente a luxuosa carruagem da primeira classe, mas também nunca foi prometido um simulador. O elenco de personagens é bastante variado, especialmente no que diz respeito aos suspeitos - e para este inspector, quase todos são suspeitos!

O núcleo central do jogo está em investigar as carruagens do comboio de forma a recolher o maior número de pistas possíveis, de forma a conseguir abordar os suspeitos e lançar-lhes um interrogatório. Alguns irão exigir a resolução de um minijogo primeiro, havendo alguns bem criativos pelo meio, outros um pouco mais banais. O interrogatório é o mais importante e pode ser conduzido tanto pelo Inspector Zé como pelo Robot Palhaço, com diferentes abordagens que tanto podem levar ao sucesso como ao fracasso. O objetivo é, com base nas evidências recolhidas, fazer as perguntas certas às personagens de forma a descobrir se serão ou não o procurado assassino.


A recolha de pistas, então, torna-se o ponto central deste jogo e, em geral, é um processo muito divertido de prestar atenção ao cenário e explorar as diferentes interações possíveis com os elementos presentes. Uma destas pistas, porém, é um conjunto de dentes perdidos de uma dentadura, cuja representação é praticamente do tamanho de um pixel. Enquanto se vai jogando e encontrando os vários dentes, é uma curiosidade divertida, mas tudo parece descarrilar quando apenas falta encontrar um dente no comboio para poder interrogar a última personagem. De repente, o jogo transforma-se numa enorme frustração sem qualquer indicação de ajuda. Talvez o Robot Palhaço pudesse indicar o número de dentes por encontrar em cada carruagem? Ou simplesmente informar quando já não há novas pistas a encontrar num certo sítio? À parte esta questão em particular, a dificuldade do jogo é bastante acessível.

Sem querer revelar a história ou até mesmo as personagens, que são sempre o mais interessante do jogo, as caraterizações são excelentes. O grande destaque vai obrigatoriamente para o inspetor Zé, um verdadeiro "tuga" com trejeitos de Nuno Markl (cum catano!) e que, como qualquer bom detetive, não larga nunca o seu cigarro. As interações são realmente divertidas e as próprias animações dão imenso carisma às personagens. Outro pormenor divertido é o aspecto sitcom, pautado por uma audiência que ocasionalmente reage às piadas mostradas no ecrã. Infelizmente, o Robot Palhaço só sabe piadas secas. Sendo um jogo "tuga" em Português, é natural que as piadas funcionem, mas ao experimentar a versão inglesa pode-se perceber que houve um cuidado em localizar (não traduzir) o humor do jogo. Justin Case.


Quer tenham jogado anteriormente o Crime no Hotel Lisboa ou não, O Assassino do Intercidades é uma óptima recomendação a todos os fãs de jogos point-and-click. Aliás, para quem viaja frequentemente de comboio este é praticamente obrigatório! Apesar de ainda ter algumas arestas por limar, é já um sério candidato a jogo português do ano, o que hoje em dia já é muito bom sinal. Confirma-se: é do catano!

Nota: Esta análise foi efetuada com base em código de pré-lançamento do jogo para o PC via Steam, gentilmente cedido pela Nerd Monkeys.

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