Outward Definitive Edition

A Prime Matter e o Nine Dots Studio trouxe-nos este ano, para a Switch, a versão definitiva de Outward, um jogo que teve a sua versão original lançada no mundo pré-pandémico de 2019, para as plataformas PS4, Xbox One e Windows. Contudo, a diferença reside no facto da versão da Switch, cujo port foi realizado pela Sneakbox, incluir todos os DLCs disponíveis, logo desde o início. 

Um rpg de sobrevivência, Outward coloca-nos na pele de uma personagem sem nome e totalmente customizável pelo jogador, que tem aquilo que se chama de dívida se sangue, o Blood Price, que foi-lhe transmitida pelos seus antepassados. Ora é precisamente para pagar este Blood Price que o jogador embarca numa viagem naútica que acaba em desgraça, com o barco a ficar destroçado nas rochas, a poucas milhas da cidade de Cierzo (situada na vasta terra de Aurai), que é nada mais, nada menos que a cidade natal do mesmo. Com excepção do jogador, todos os restantes tripulantes falecem e o dinheiro que havíamos trazido para pagar a referida dívida desaparece no fundo do oceano. É precisamente no meio dos escombros do barco que a nossa personagem desperta, sem nada mais do que a roupa interior. Desprovidos de itens e dinheiro, cabe-nos fazer a curta travessia da praia para a cidade (a caminho da qual podemos reunir alguns dos nossos primeiros itens, assim como nos podemos cruzar com os nossos primeiros adversários, se nos aventurarmos muito na exploração). 

Em Cierzo, à porta da nossa habitação (um farol), iremos descobrir que apesar do nosso infortúnio, a dívida mantêm-se, com uma parte dos nossos conterrâneos a mostrarem-se um pouco sedentos de sangue, em virtude de termos sido o único sobrevivente do desastre. Felizmente, para a nossa sorte, a mayor da cidade, Rissa Aberdeen, dá-nos a oportunidade de saldarmos a nossa dívida de duas formas. Via dinheiro (que de início não temos e que pode ser obtido fora das muralhas da cidade) ou via um favor a um cidadão da cidade (este dar-nos-à um voto de confiança). Contudo, tal pagamento tem um tempo limite, que se não for respeitado resultará na perda da nossa habitação. O limite em questão é de cinco dias! Esta será a nossa primeira missão, num longo, longo jogo, onde o nosso protagonista (que como já referi, começa despojado de bens) terá a oportunidade de os ir recolhendo durante o jogo, das mais diferentes maneiras. 

Alguns itens podem ser encontrados em baús, espalhados no chão, nos restos mortais dos nossos adversários, ou mesmo extraídos de rochas, árvores e rios. Os mesmos são também bastante variados. Temos diferentes tipos de armas, que podem ser usadas para combater os inimigos que iremos encontrar pelo percurso, desde espadas, lanças e machados, até cajados, arco e flecha, juntamente com diferentes tipos de roupa e armadura, que poderemos equipar para nos proteger de ferimentos e de intempéries. Para além disso, convém não esquecer o escudo, que pode ser usado para aplacar eficazmente o ataque adversário (se bem que tal pode ser feito também com a arma que tivermos à nossa disposição)! Convém salientar que o uso do escudo apenas pode ser feito se tivermos nas mãos uma arma que o possibilite: arcos ou lanças, por exemplo, obrigam-nos a usar ambas as mãos, não permitindo, por isso, o uso dele. De referir que diferentes tipos de armas, levam a diferentes skills, que podem depois ser usadas para o nosso benefício em combate. Igualmente no nosso rol de habilidades está a capacidade de colocar armadilhas e esperar que os inimigos caiam nelas. Para complementar o aspecto atacante da nossa personagem temos ainda magia, ela que pode ser aprendida mais adiante no jogo, sendo útil não apenas em situações de combate directas, mas também de natureza mais defensiva ou utilitarista (como, por exemplo, acender uma fogueira).

Outro tipo de equipamento que poderemos encontrar será a cana de pesca, usada em leitos onde haja peixe, a picareta, com a qual podemos minar pedra, de forma a encontramos algumas matérias primas, que por sua vez podem ser usadas em actos de alquimia, mais à frente, o machado que também pode ser usado para conseguir madeira das árvores e as tochas, que serão particularmente úteis, uma vez que nos irão dar luz, nas noites muito sombrias de Aurai. Para além disso, poderemos ainda encontrar comida na natureza, retirando carne de monstros derrotados ou de peixes, bagas de arbustos ou cozinhando os nossos próprios pratos, usando para isso especiarias e as receitas que podem ser obtidas das mais diversas formas. De salientar que para isso teremos ainda que ter uma cozinha à nossa disposição (no nosso farol temos uma, por exemplo). 

Felizmente, nem tudo tem que ser encontrado lá fora, muitos artigos podem ser comprados nas muitas cidades que iremos visitar no decorrer da nossa aventura, mais propriamente, junto dos inúmeros comerciantes que iremos encontrar (desde que tenhamos dinheiro no bolso, isto é). Para guardar tudo aquilo que iremos encontrar e que não dê para equipar logo de início, teremos os bolsos da nossa roupa, que não aguentaram muito, e uma mochila, que pode sofrer upgrades mais adiante, via outros modelos. Para além disso, temos ainda diferentes baús pessoais nos quais pode ser guardado algum do equipamento que não necessitemos para a missão que tivermos em mãos. O mesmo pode ainda ser deixado em qualquer lado do cenário, convindo é claro que nos lembremos onde é que o deixamos.   

A nossa personagem é totalmente customizável. À nossa disposição, ainda antes do começo da aventura, é-nos dada as opções de escolher a face, o penteado e as cores da nossa personagem, assim como se esta será feminina ou masculina. Um aspecto standard neste género de jogos, mas que aqui nos é apresentado de forma algo datada, uma vez que as escolhas à nossa disposição não são nem muitas, nem variadas. Ainda assim, é totalmente possível fazermos uma personagem decente com as ferramentas que nos são dadas. Muito mais importante que o aspecto da nossa personagem será o mundo à sua volta e a forma como iremos lidar com os muitos problemas da "vida real" que teremos pela frente. Como em muitos outros rpgs, a nossa personagem começa bastante fraca. Contudo, aqui, e em virtude deste jogo ser também ele de sobrevivência, a fraqueza da nossa personagem é elevadíssima. Numa fase inicial (e mesmo mais adiante), qualquer encontro com a mais simples das criaturas pode resultar na nossa morte ou, na melhor das hipóteses na vitória, com alguns ferimentos ligeiros. 

Não ter o equipamento correcto dar-nos-à menor capacidade de resistirmos às investidas dos nossos oponentes (e sofrermos golpes que poderão infeccionar e deixar-nos num estado precário), assim como poderá limitar-nos os movimentos numa luta (uma mochila com excesso de peso, por exemplo, pode mesmo deixar a nossa personagem incapaz de se mover). Para além de termos que estar sempre de olho na nossa barra de energia (que é curta), temos ainda que ter em especial atenção a nossa barra de stamina. Esta, ao contrário da de vida, irá restaurar-se se estivermos parados, mas pode facilmente ficar a zeros se tivermos que correr ou situações de combate (nas quais o desviar e fazer parry é fundamental). Outra barra a ter em atenção, embora não de início, é a de mana, de onde sai a magia que iremos usar. Outros aspectos a ter em atenção, no que ao combate diz respeito, é a escolha adequada do equipamento (mediante os inimigos que iremos encontrar) e a verificação do estado dos mesmos, uma vez que estes vão desgastando rapidamente com o uso. Igualmente importante é o uso das Quickslots e do sistema de lock on no adversário. Nas Quickslots, ao atribuirmos uma acção para um determinado botão, garantimos que estamos prontos para qualquer eventualidade. Algo fundamental, se tivermos em mente que mesmo no nosso menu da personagem estaremos expostos a ataques repentinos dos adversários. Outro ponto a ter em atenção é o estado da nossa personagem. Garantir que ela está sempre bem alimentada (evitar carne crua, uma vez que esta pode deixar-nos doentes) e sem sede (com água que deve ser apanhada em bolsas próprias junto a rios de água doce). 

A nossa personagem deve estar também bem descansada e para tal necessita de repousar de tempos a tempos. O repouso, que permite o restaurar da nossa barra de energia, assim como recuperar o equipamento que estiver deteriorado. Contudo, tal não se faz automaticamente, sem um custo. É necessário escolher o que queremos fazer e qual a percentagem que queremos colocar de esforço nessa actividade. Podemos optar por concentrar tudo numa noite bem dormida ou em fazer apenas em fazer os reparos necessários aquilo que estiver a ficar desgastado. Contudo, mesmo isso tem o que se lhe diga, uma vez que tudo depende do local que vamos escolher para dormir. Se optarmos por uma estalagem ou pela cama do farol, teremos uma noite sem sobressaltos. Todavia, o mesmo não pode ser dito de uma noite passada ao relento ou dentro de lugares perigosos, como grutas ou masmorras. Para além de necessitarmos de um saco de dormir, temos que manter o olho meio aberto para a possibilidade de uma emboscada. De igual modo, convém sempre ter em atenção as alterações climáticas à nossa volta, de forma a evitar gelar ou esturricar (por exemplo, devemos evitar dormir demasiado perto da fogueira, para não aumentar a nossa temperatura corporal). 

Os inimigos que teremos pela frente são bastante variados. Na primeira área, por exemplo, iremos deparar-nos com alguns duendes, nas cavernas da nossa cidade natal, assim como com perigosos crustáceos eléctricos nas regiões junto à praia ou cães selvagens nos vastos campos verdejantes fora dos muros citadinos. Os inimigos são insistentes no seu ataque e bastante furtivos (particularmente de noite, que é de tal maneira escura, que por vezes nem de tocha ou lamparina conseguimos obter luz decente). Podemos ter a sorte de ter que lidar com apenas um de cada vez ou em grupos. Por vezes, até pode ocorrer grupos de inimigos estarem a lutar entre si. Nessas situações o aconselhável será deixarmos eles desgastarem-se e depois derrotar o vencedor. 

Todas estas opções que temos que ter em conta, se quisermos sobreviver num jogo com alguma curva de aprendizagem (com um excelente tutorial inicial, não obrigatório, para quem for mais inexperiente nestas lidas), podem mostrar-se um pouco difíceis e não agradar a alguém que esteja à procura de um rpg de acção, no qual não estamos tão condicionados por estes elementos de vida real. Aqui a nossa personagem é, de facto, uma pessoa comum, sem grande habilidade. Até mesmo a forma como "morremos" (não há uma morte per se, apenas uma derrota) deve ter-se em conta, uma vez que o nosso respawn não será sempre o mesmo. Por vezes podemos ter a sorte de ser resgatados por um npc benevolente (a mim aconteceu-me ter sido salvo por uma aventureira e mais tarde por um comerciante) que nos irá devolver à cidade mais próxima (ou mesmo à nossa habitação), com o nosso loot intacto, outras vezes o azar é grande e somos capturados por bandidos e damos por nós sem equipamento nenhum e a ter que escapar de uma prisão.  

O grande ponto fraco deste jogo está na sua apresentação gráfica. Esta surge muito datada, com pouco detalhe nos cenários e personagens, sobretudo comparado com outros rpgs do género. As áreas apresentadas são vastas, mas é uma vastidão que se apresenta como um pouco vazia e desprovida de vida. A música, felizmente, é boa, ajudando de certa forma a aplacar este sentimento um pouco. Outra coisa a ter em conta, embora seja algo bastante menor, reside no tempo dos loadings, que é elevado e que exige que carreguemos num botão para seguir em frente.

Um jogo de save automático, Outward em ainda a por esta altura já tradicional opção de jogo online, assim como um nível de longevidade bastante elevado, uma vez que facilmente nos perdemos nas muitas sidequests que o título oferece e sobretudo no fortalecimento (e sobrevivência) do nosso avatar. 

Um jogo a ter em causa para fãs dos rpgs do género Dark Souls, com um gameplay bastante desenvolvido, mas que graficamente deixa bastante a desejar. Provavelmente outros fãs de rpgs, que não os deste sub-género, terão algumas dificuldades em conseguir apaixonar-se por este título, uma vez que pode-se mostrar lento e complicado para iniciantes. 

 

Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para Switch, gentilmente cedido pela Prime Matter.

 

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