Foamstars


Andamos em tempos onde os jogos online são uns atrás dos outros, experiências competitivas ou cooperativas que nos aliciam com um season pass ou tentativas de injetar conteúdo por tempo limitado, de modo a tentar-nos agarrar para não perder nada. É uma aplicação prática de FOMO (Fear Of Missing Out), ou seja, estamos lá no momento certo ou podemos-nos arrepender para sempre, não tendo conteúdo num jogo que, entretanto, se tornou popular. Já fui “vítima” deste hábito, são alguns os jogos que tenho pena não ter determinados itens por participar em certos eventos, embora não seja isso que me tire o prazer de os jogar. Season pass é outra constante, vários dos jogos que possuo o têm embora nunca costume cair na tentação de os adquirir.


Dentro deste espírito surge Foamstars, a nova aposta online da Square Enix com um jogo que, no seu anúncio, foi rapidamente aclamado de “Splatoon da Wish” ou de outras lojas online reconhecidas pelos seus produtos baratos e de qualidade questionável. Foi uma revelação que me deixou curioso, muito de pé atrás, pois já tinha visto o desastre que foi Chocobo GP para a Nintendo Switch, um jogo com um potencial tremendo que só correu mal pela ganância ao aplicar season pass e micro-transações, incentivando custos adicionais para adquirir icónicas personagens facilmente. Algo que correu mal, em poucos meses deixaram de adicionar novo conteúdo, com uma atualização lançada posteriormente para ter tudo desbloqueado sem custos adicionais. Tudo isto estava bem presente na minha mente enquanto olhava para Foamstars, uma Square Enix que não tem propriamente boa experiência neste tipo de jogos, basta olhar para todos os jogos para dispositivos móveis que lançaram e terminaram os serviços pouco depois.

Igualmente difícil foi olhar para Foamstars e não pensar imediatamente em Splatoon. O aspeto colorido onde duas equipas de 4 membros cada lutam pela vitória, com tiros frenéticos a voar em todas as direções, balas inofensivas feitas apenas de água colorida, que aparentam ser incapazes de ferir alguém letalmente, mas tiros certeiros levam-nos à vitória. Tudo isto acompanhado por uma banda sonora eletrónica, frenética, que fica nos ouvidos, entre os gritos e sons de explosões e mil outros efeitos incríveis provocados pelos ataques especiais de cada um dos jogadores. De forma geral, as comparações até acabam por aqui, pois Foamstars segue muito a sua onda, inspirado por vários outros jogos de ação que muitos de nós conhecemos.


Algo que gosto particularmente em Splatoon é o modo como o mundo do jogo foi pensado, um cenário pós-apocalítico com imensas referências à nossa realidade. Tudo parece pensado ao detalhe, a moda e tecnologia não são só aparato como também têm influência nas partidas online, onde a roupa que vestimos conta com habilidades próprias. Foamstars não tem nada disso, tudo é aparato onde por detrás dos neons coloridos há um vazio de imersão. O palco é Bath Vegas, um trocadilho com a cidade norte-americana e nada mais que isso, servindo de motivo para adornar as diferentes arenas com casino onde tudo parece uma saída à noite, com cores garridas e muito dourado. É aqui onde um grupo de atletas, as personagens do jogo, tentam ser a próxima superestrela através do Foamsmash Tournament, que premeia os mais habilidosos (e carismáticos) concorrentes, sagrando-os Foamstars. No meio disto tudo a cidade é atacada por um grupo de bizarras e adoráveis criaturas que vêm para estragar a festa, espalhando o caos e a destruição. Isto é explorado nas missões de um jogador ou nas cooperativas onde 4 jogadores, em conjunto, lidam contra uma enchente de inimigos que não dão trégua. Tudo parece terrível, mas… bem, no pior dos cenários Bath Vegas transforma-se numa exagerada festa de espuma. O resultado nem parece terrível, embora não queira imaginar a dor de cabeça que seria limpar aquilo tudo.

Ao entrar em sessões competitivas senti jogar mais uma espécie de Overwatch ou Valorant, numa versão bem mais simples e sem estar tanto dependente de táticas precisas ou coordenação de equipa, para atingir a vitória. Um sentimento fortemente suportado pelo leque de 8 personagens disponíveis no lançamento (agora 9), cada uma com as suas forças e estilos de jogo diferentes, armas e ataques especiais únicos. Logo aqui tive encontrei o meu primeiro problema, uma espécie de competição dentro da minha própria equipa para ser o mais rápido a escolher aquela personagem que eu mais gosto, não fosse alguém escolher primeiro. Aqui não há personagens repetidas na mesma equipa. Um stress que nunca senti em Splatoon, pois as armas e vestimentas que tenho na minha personagem não estão limitadas pelas escolhas de terceiros e divertia-me à grande. Não sendo possível escolher a minha personagem favorita ia para a segunda opção… ou terceira, deixando-me frustrado. Quando podia, acabei por dedicar-me mais a Agito, um pro-player e conhecedor de videojogos com todo um estilo inspirado por tubarões com uma jogabilidade que gostei mais. Fora ele… ninguém me puxava, honestamente.


Umas partidas e algumas horas de jogo via bem como o jogo se afastava de Splatoon: enquanto que no jogo da Nintendo o principal objetivo é pintar a arena no máximo da nossa cor possível, ao mesmo tempo que lidamos com os nossos adversários com a mesma missão, resultando num colorido caos onde tudo pode mudar no último segundo, esta aposta das Square Enix é mais simples, onde o objetivo é simplesmente derrotar os nossos adversários. Sim, enchemos as arenas com espuma da nossa cor, permitindo-nos navegar nela rapidamente trazendo imensa vantagem em combate. Mas é para isto que a espuma serve, melhorar o nosso movimento e dificultar a vida aos adversários que, embora não seja normal, podemos ganhar mesmo quando a maioria da arena está com espuma da equipa adversária.

De fora estão os Inklings e Octolings criados e vestidas por nós de Splatoon, em prol de um leque de personagens com o seu próprio estilo de jogo. Cada um é uma superestrela lá do sítio, desde jogadores do mundo dos Esports a ídolos de moda, inventores e heróis da cidade. Vamos-os conhecendo melhor à medida que jogamos as missões de um jogador, não através de grandes sequências de história e sim pelos diálogos interruptos por personagens que têm de expor literalmente TUDO sobre com quem jogamos, ao que aquele que escolhemos para estas missões também entra na conversa. É chato, é horrivelmente chato e não foram precisos mais de 5 minutos para ficar com saudades de personagens mudas! Ainda por cima as personagens são… desinspiradas, genéricas, parece que criaram uma checklist de coisas cliché a colocar em cada uma delas para tentarem ser o mais cool possível. Não são terríveis, atenção, cada uma tem a sua cena e funciona bem, só que todos aqueles diálogos enquanto fazia as missões criaram uma certa aversão em mim. Muita da conversa entre personagens deixava-me a suspirar, rebaixava a cabeça enquanto pensava se não haveria modo de os silenciar a todos. No meio disto tudo há uma tentativa de criar uma história, tão importante e bem construída que rapidamente me esquecia que ela existia.


Também não ajuda que, num mundo cheio de festa contamos com um número bem reduzido de personagens jogáveis, com algumas que já aparecem pelo jogo, mas não as podemos escolher, o que não me admirava se pudéssemos jogar com elas no futuro. Não deixa, ainda assim, de lembrar-me do que aconteceu com Chocobo GP, até porque Foamstars teve gratuito no seu lançamento durante tempo limitado, agora tendo um custo associado. Um jogo online, competitivo que pouco ou nada é falado, exclusivo numa plataforma e que já parece estar mais que morto e sem jogadores. De forma quase hostil mais rapidamente chegamos à loja do jogo, onde podemos gastar dinheiro (real) para comprar diferentes roupas e equipamento com preços elevadíssimos, do que aceder a menus para ver as nossas estatísticas ou entrar num dos modos de jogo. O preço de alguns destes conjuntos de fatos, acessórios e literalmente skins é mais elevado que o custo do jogo em si, só para dar um exemplo.

Existem 3 modos de jogo competitivo, onde praticamente só conseguia jogar o Smash the Star, pois os outros 2 não tinham muitos jogadores ativos. Foi onde passei a maior parte do tempo quando joguei, onde competimos contra a equipa rival derrotando os seus elementos de equipa consecutivamente. Sempre que eliminamos alguém o número de “vidas” da equipa adversária ia reduzindo, até só restar uma. Numa espécie de (tentativa de) reviravolta o jogador com melhor prestação, da equipa prestes a ser derrotada, torna-se na estrela do grupo, ficando mais forte e com mais vida. Só quando derrotamos este valioso jogador é que conseguimos a vitória e, estando nesse papel de protagonismo umas quantas vezes admito ser stressante, mas nada de mais. De resto temos também o modo Happy Bath Survival onde, à vez, 2 jogadores lutam contra outros 2 adversários, sendo que cada equipa é apoiada à distância numa arena à parte. Por último há Rubber Duck Party onde no centro da arena está um pato de borracha valioso que temos de adquirir e proteger, uma espécie de capture the flag que os veteranos deste género de jogo estão habituados.


Como tive algumas dificuldades a encontrar outros jogadores para partidas online, este último modo consegui jogar um total de… 2 vezes. Foi isto, ainda tentei por várias vezes, entre ficar à espera longos minutos ou encontrar um erro e ser desconectado, não foi fácil. Depois mesmo ao entrar no modo Smash the Star outro ponto irritou-me consideravelmente… As arenas são praticamente todas iguais, com layouts extremamente semelhantes sem grandes mecânicas ou elementos que os distingam. Os visuais cheios de neons de discoteca, os dourados e temas de casino não contribuíam para que achasse que estivesse sempre a jogar no mesmo sítio, mesmo quando não era o caso. Depois há um certo contraste, estranho, entre as personagens coloridas e os cenários. Por muitos neons que encontremos os cenários parece que se aproximam de uma estática realista que as personagens, criando um contraste estranho entre tudo.

Com o lançamento da mais recente personagem ainda fui tentar mais uma ou outra partida, no entanto, nunca foi rápido entrar no jogo para mandar uns tiros e sair, então desisti. O matchmaking demorava, levando-me a crer que não há mesmo muita gente que ainda esteja dedicada ao jogo, o que, sem dados oficiais, não é algo que consiga afirmar. Foi apenas o que senti. Foamstars parece-me moribundo, questiono-me até quando a Square Enix irá continuar a injetar conteúdo ou quando, ou se, ou quando, irá terminar o serviço do jogo à semelhança de muitos jogos para dispositivos móveis que lançou. Também deveria ter-se mantido como gratuito, tal como no lançamento, pois agora o seu custo no que aparenta ser um típico jogo free-to-play, pode fazer perder qualquer réstia de interesse que possa provocar no consumidor.


Foamstars pareceu-me divertido quando o vi inicialmente, comparações a Splatoon de parte, pois tudo o que parece, muitas vezes, nem o é. E honestamente até me diverti um par de horas em partidas contra outros jogadores, infelizmente a frustração de não poder livremente escolher uma personagem, num jogo onde a tática não é propriamente vital, é o sentimento que mais me perdura. Com muitas poucas opções de jogo, muito pouco para desbloquear sem custos adicionais, uns combates para um que deixam a desejar e personagens que não sabem estar caladas durante 20 segundos, não creio que alguma vez volte a jogar Foamstars. A não ser que a Square Enix se lembre que tem imensas séries populares e faça colaborações que me pisquem o olho, mas… talvez nem assim.

Nota: Análise efetuada com base em em jogo para a PlayStation 5, adquirido via PlayStation Plus.

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