Endless Ocean Luminous


A Nintendo Wii foi aquela consola onde dava para experimentar tudo e mais alguma coisa, com jogos nunca antes pensados ou com estilos que fugiam aos tradicionais jogos de ação, desporto, aventura, entre outros. Foi a consola lançada com Wii Sports que nos fez levantar do sofá para jogar bowling e boxe, que mais tarde nos meteu a exercitar com Wii Fit, abrindo o potencial para jogos fora do comum. É neste espectro que surge Endless Ocean, um jogo de exploração marítima que nos levou a catalogar a vida animal lá do sítio, sem grandes aparatos e, ainda assim, nos conseguia incentivar a explorar um pouco mais. Não era um título assim tão arriscado, afinal foi o sucessor espiritual de Everblue, um jogo lançado em 2002 para a PlayStation 2 criado pela Arika, sempre responsável pelo desenvolvimento desta espécie de série, que chega agora à Nintendo Switch.


Série que regressa agora com Luminous, que nos leva novamente ao fundo dos mares na grande demanda que é catalogar tudo o que é bicho que por lá encontramos. Peixes de todos os tamanhos, mamíferos marítimos que nos graceiam com os seus sons profundos, assustadores tubarões que nos ameaçam, nem que seja simplesmente com o seu aspeto… Talvez não seja a demanda mais épica que podemos esperar de um videojogo, mas, como o mais recente membro da Ocean Research Project, cujo propósito é pesquisar e analisar a vida marítima, é um objetivo bastante extenso que inicialmente me parecia entediante, mas olhando para as horas que me dediquei ao jogo (sem dar por ela!), sem nunca me aborrecer, foi mais um caso onde as aparências enganaram-me.

Um jogo simples, sem grandes aparatos e que através do ecrã inicial podemos avançar logo para os principais modos. Em destaque temos Solo Dives, que nos lança para o mar e nos deixa, livremente, explorar tudo o que há por lá, nadando livremente por um mapa que vamos “abrindo” enquanto o exploramos. Há muitos segredos, uma quantidade enorme de peixes para descobrir e, através do nosso scanner, vamos conhecendo os animais. Não é uma aventura a sós, pois estamos sempre acompanhados por Sera, a nossa assistente de inteligência artificial equipada com todo o conhecimento necessário sobre a vida animal presente, descrevendo-nos factos sobre o que encontramos como se fosse uma enciclopédia.


O nosso objetivo vai bem além de simplesmente catalogar a vida animal, pois espalhado pelo fundo do mar estão pequenos objetos, items descartados que vão desde os mais comuns dos objetos como peças de roupa, a artefactos antigos e, todos eles, contam também com uma explicação sobre o seu uso. Há coisas bizarras, como puzzles incompletos a armaduras de séculos passados, todos eles representados com um simples brilho no ecrã e uma espécie de radar que nos indica que há itens presentes. Somos recompensados por este trabalho de limpeza, pontos que vamos ganhando para depois trocar por itens como cores de roupa diferentes para a nossa personagem, emotes que nos colocam nas mais variadas poses (para a fotografia) e stickers para decorar o nosso fato de mergulho.

Coisas que são, na prática, para mostrar aos outros jogadores, algo que podemos fazer através do modo Shared Dives onde podemos partilhar uma expedição com outros jogadores online, um grupo que pode ir até 30 pessoas! Não foi modo que usufrui nesta análise, uma expedição que conta com algumas vantagens do jogo a sós, como poder partilhar informação sobre o que há para descobrir no mapa, algo bastante útil quando há muita coisa para encontrar, agilizando muito este processo. Também é aqui onde exibimos a nossa personagem, nem que seja usar peculiares poses para tirar fotografias em grupo. Por falar nisto, não que o jogo tenha um extensivo modo de fotografia mas conseguimos captar bons momentos debaixo de água, podendo focar num dos animais que acabamos de catalogar e procurar o melhor ângulo para o mesmo, sem o perder de vista. Imagem que depois tanto é gravada na consola como pode alimentar a enciclopédia de criaturas que descobrimos, associando uma foto a cada uma delas!


Temos ainda o modo Story que recomendo muito explorarem antes de avançar para os restantes. É aqui que as bases do jogo são explicadas, capítulos que servem também como tutoriais para o jogo, ensinando-nos as mecânicas principais e como tirar partido delas. Não é fundamental, podemos saltar logo para um mergulho livre e descobrir como se joga, até porque este não é um jogo complexo, mas há coisas que fazem mais sentido quando as fazemos após determinados capítulos. Não são muitos, mas, foi aqui que descobri todo um novo jogo que não estava à espera. Antes de começar Endless Ocean Luminous contava com um pacato jogo de exploração e catalogar coisas, o que não esperava é encontrar todo um jogo de ficção científica com fenómenos bizarros e vida animal que toca no fantástico, coisas que estou habituado a ver nos mais bizarros filmes (que adoro) como Megashark, entre outros. Também não esperava lidar com toda uma história ligada a civilizações antigas que me deixavam a gritar “aliens!” sempre que encontrava um artefato perdido no mar, objetos estes que nos vão desvendando o que esconde uma curiosa pedra que parece um tabuleiro de xadrez, que encontramos num dos primeiros capítulos e esconde um misterioso segredo.

Um jogo que parece uma mistura entre National Geographic e as coisas absurdas que encontramos no Canal História, talvez inclinando mais para este lado até porque, se for a pensar bem no assunto, como é que peixes de água doce e salgada conseguem coabitar no mesmo bioma? Se bem que o jogo “inventa” muito e não é suposto pensar demasiado sobre o assunto… Também inicialmente sempre que avistava um assustador tubarão pensava ser melhor analisá-lo de longe, mas, por muito que tentasse nadar mesmo à sua frente, o ar de ameaçador não era mais que isso. Por muito que tentasse o jogo não nos coloca efetivamente em perigo e, cada mergulho, é uma experiência relaxante onde simplesmente vamos tentando descobrir os segredos dos mares.


E, sim, é um jogo mesmo muito simples, que não se apresenta como outra coisa e mentiria se não me diverti muito a catalogar a vida animal, procurar itens e debruçar-me a pensar o que raio a civilização antiga tem a esconder, ou as suas possíveis ligações aos fenómenos como animais gigantescos fora do normal. Por várias vezes aconteceu-me pegar no jogo, ir para uma Solo Dive e nadar livremente, usar o scanner em tudo e, quando dava por ela, já tinham passado duas horas e meias a fazer essas tarefas simples, sem ter noção do tempo que estava agarrado ao jogo. Talvez seja o meu gosto particular em explorar e descobrir tudo ao pormenor, algo que o jogo recompensou-me através do meu Rank que subia dezenas de níveis num único mergulho, algo que não me parecia normal, mas era possível.


Endless Ocean Luminous não tenta ser mais que é, com controlos bastante acessíveis para um jogo todo ele passado a nadar, mecânica que muitas vezes deixa os jogadores frustrados em jogos com secções ou partes dedicadas a isso. Um salto considerável ao seu predecessor, bonito, embora nada de extraordinário, que recomendo aos jogadores que têm o (bom) hábito de gostar de explorar tudo e mais alguma coisa, por muito repetitivas que sejam as suas tarefas.


Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Nintendo.

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