Stellar Blade
Stellar Blade é a grande estreia do estúdio Shift Up que, com o apoio da SIE/PlayStation nos trazem um jogo de ação agora exclusivo para a PlayStation 5, lançando-nos o desafio de aniquilar inimigos uns atrás dos outros. A narrativa é simples: a Terra é um cenário pós-apocalítico onde os humanos encontram-se à beira da extinção, num planeta destruído por uma espécie de monstros impiedosos chamados de Naytibas. EVE, a nossa protagonista, é uma das inúmeras guerreiras que têm como missão erradicar estas criaturas, que rapidamente se vê sozinha a enfrentar este mundo. Toda a sequência inicial do jogo cativou-me, o caos e a destruição andam de mãos dadas enquanto via todo um exército de personagens irrelevantes a cumprir o seu propósito, o de serem esquartejados e empalados no ecrã, entregando um modesto banho de sangue que me deixava a pensar “isto promete”!
Se jogaram Sekiro vão sentir-se em casa, o jogo de bloqueios constantes acompanha-nos do início ao fim, onde é recomendado dominar isto. Stellar Blade dá o seu toque ao género acrescentado todo um leque de combinações de ataques e movimentos, que os conseguimos fazer através de um golpe normal e forte. Não é algo extenso, dei por mim a usar apenas duas combinações o jogo todo, onde uma era quando estava frente a frente com um adversário, enquanto que a outra combinação era para lidar contra grupos de vários inimigos. Não senti precisar fazer mais que isto, o que juntamente com os Beta Skills, ataques especiais que ia aprendendo e melhorando aos poucos eram mais que o suficiente para lidar com grande parte dos combates. A chave está mesmo no parry, mecânica bem simples de aplicar até porque a previsibilidade dos inimigos era elevada. Mas muito mesmo, entre padrões de ataques previsíveis com poucas variações, mesmo quando por vezes o timing dos movimentos era estranho até me habituar, em poucas horas senti que já estava capaz de enfrentar tudo e todos!
Como dizia, existem coisas difíceis, frustrantes, mas não do género em que falhava uma mecânica contra bosses que me dá pica para ir lutar novamente em seguida. É triste, mas por muitas vezes os combates contra 3 ou mais inimigos básicos era mais difícil que a luta contra alguns bosses, até porque houveram bosses que matei à primeira… Mas contra grupos de inimigos comuns? Foram várias as vezes em que me defendia de um, só para ser atingido de imediato por outro ataque e sem poder escapar da situação, onde tudo piorava quando estava em espaços fechados onde a câmara também não era a melhor. Fora estes momentos, os combates contra bosses, os Elite ou Alpha Naytibas, estão muito bem conseguidos, onde tudo parece orquestrado e soube bem defletir vários ataques seguidos, desviar-me de outros ataques ou tirar partido de habilidades que fui ganhando ao longo do jogo. E, sim, ainda usei o famoso Skin Suit que “despe” EVE, à procura de um aumento de dificuldade, só que este desafio é completamente artificial, onde a única coisa que faz é eliminar um escudo que EVE tem, barreira protetora esta que num jogo normal desaparece após sermos atingidos por alguns ataques e, mesmo sem ela, não quer dizer que morremos logo se formos atingidos.
A inspiração mais forte neste jogo nem é com base num dos vários jogos da From Software, mas NieR:Automata. Tendo jogado (e adorado) a obra de Yoko Taro é muito, mas muito difícil não ver todas as referências que se baseiam para Stellar Blade, o que por vezes se tornou gritante. Começamos pela banda sonora que, por muitas vezes parecia mais cópia do que uma simples inspiração, com músicas muito idênticas à aventura de 2B enquanto ela explorava cenários onde a civilização havia sido erradicada. O mais gritante é capaz de ser a história, sem entrar em muitos detalhes, pareceu usar referências “a mais”. Também em Stellar Blade contamos com um Pod flutuante que nos vai ajudando a percorrer os mapas, fazendo um scan ao cenário à procura de itens, cadáveres para extrair dados e ainda inimigos, o que parece meio inútil até certo momento no jogo em que ele o podemos usar como uma arma, munida com alguns tipos de projéteis, implementando uma certa jogabilidade de shooter que deixa algo a desejar. É com esta jogabilidade de tiros que parece que foram buscar outra inspiração, a de Resident Evil (os mais recentes), tentando criar momentos de terror no jogo com cenários mais fechados onde não é possível usar a espada de EVE, juntamente com jumpscares fáceis e espetáveis. Também tal como este clássico da Capcom, contamos com alguns quebra-cabeças que pouco ou nada trazem aqui.
Se há algo em que Stellar Blade tem valor, fugindo a todas as influências que parece ter ido buscar, é ser um jogo muito, mas muito divertido. Mesmo que o tenha achado fácil deixou-me empolgado, com missões opcionais que fiz questão de tentar concluir o máximo possível, dando-me a conhecer um pouco mais sobre o mundo do jogo e todas as personagens que lá habitam, levando-me ainda a fazer limpar o mapa de uma ponta à outra, à procura de tesouros escondidos. Infelizmente conta com muitos momentos mortos, muito devido a um par de cenários mais abertos onde caminhamos o tempo todo e nada acontece, problema que desaparece a partir do momento que descobrimos mais Supply Camps e cabines telefónicas que nos permitem transportar em segundos entre sítios. Fora isso muitas das áreas e cenários são bem interessantes, que fora as zonas de deserto que me parecem todas iguais temos locais que nos deixam bem impressionados, que acompanham muito bem a sensação de aventura até aos créditos do jogo. No final contamos diferentes conclusões para a história, o que também não querendo entrar em detalhes, não foram assim tão bem implementados embora tenha ficado curioso com o que acontece nos outros.
Foram precisas cerca de 25 horas para chegar aos créditos do jogo, mas não fiz tudo e há coisas que quero explorar mais a fundo, agora que sei o que acontece no jogo e posso esmiuçar todos os mapas ao pormenor, se bem que talvez espero mesmo por uma atualização ao jogo que inclua um New Game + em condições, que me permita jogar em hard e, pelo menos, fazer skip às várias sequências que já conheço o seu desfecho. Não há nenhuma recompensa propriamente dita para o jogar novamente, nem sou de andar à caça das Platinas nos jogos, só que sinto que esta não é mesmo a última vez que vá jogar o jogo, só descansando quando fazer tudo, mas tudo o mesmo o que o jogo tem para dar.
Concluindo, Stellar Blade é uma nova e grande aposta por parte de um estudo sem grande experiência aparente, um projeto suportado pela Sony que ainda vai dar que falar, mesmo que seja pelo aspeto físico de EVE do que propriamente pelo muito divertido jogo que temos aqui. Visualmente bem trabalhado, mas que nada faz de extraordinário ou se destaque face a outros títulos na PlayStation 5, mas todo o jogo é fluído, sem grandes pontos de performance a apontar (ou terem-me marcado). Fica em aberto se será uma nova série ou não, mas cá espero por uma sequela, aprimorada e conseguir destacar-se por mérito próprio, mais que as várias influências que parece ter absorvido!
Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a PlayStation 5, gentilmente cedido pela SIE.