Children of the Sun

Nesta nova proposta do catálogo da Devolver Digital acompanhamos a viagem psicadélica e até algo sobrenatural de uma adolescente que tem o poder de controlar as balas que saem da sua arma. Inundada por um sentimento de raiva e vingança, é através desta personagem que acompanhamos o percurso de alguém que não vai olhar a meios na sua luta contra um culto maléfico que tanto mal já fez a todas as pessoas com quem esta adolescente convivia e a si própria.
Children of the Sun é violento, grotesco, desprovido de remorsos e isso sente-se ao longo das 3 horas de jogo e das mais variadas maneiras. As cutscenes que antecedem as matanças preenchem o nosso imaginário com bocadinhos de lore e deixam espaço para uma interpretação pessoal de todo o enredo, mas sempre acompanhados por um fio condutor que nos guia até à conclusão da história.
Sem diálogos, a apresentação de toda a história é totalmente gráfica, particularmente violenta a nível psicológico e faz-se acompanhar de paredes de som cheias de distorção que complementam e aumentam uma experiência já por si intimidante.

Nada em Children of the Sun foi criado para nos fazer sentir bem ou para ter algum impacto ou mensagem positiva em quem o joga.

Toda esta descida ao purgatório motivada pela sede de vingança leva a nossa protagonista principal aos mais variados locais e situações. Desde complexos habitacionais, fazendas, postos de abastecimento de combustível até a perseguições de automóveis, não importa o local, importa sim eliminar todos os elementos da seita até chegar ao seu líder.


Cada mapa apresenta vários elementos do culto espalhados em vários pontos do mesmo. O objetivo é obviamente eliminar todos apenas com uma bala. Cada vez que eliminamos um cultista ganhamos a oportunidade de fazer seguir a bala em direção a outro e assim sucessivamente até não restar nenhum nessa instância. Parece fácil e ao inicio é, mas à medida que vamos progredindo, os obstáculos ambientais e a própria natureza dos vários tipos de inimigos vai-se diversificando e dificultando a nossa tarefa. Mas se a natureza deste quebra-cabeças tende a aumentar de dificuldade, também a progressão no jogo nos traz novos upgrades que nos ajudam a lidar com novos tipos de ameaça.

Rapidamente adquirimos a habilidade de controlar a direção da bala (muito Angelina Jolie em Wanted), aumentar-lhe a velocidade de modo que possamos eliminar inimigos com armadura ou até ganhar a habilidade de saber quais os pontos críticos dos alvos a abater. Tudo isto a acompanhar de forma harmoniosa o escalar de dificuldade do jogo.

Um dos pontos mais surpreendentes dentro de tudo o que são mecânicas de jogo é a simplicidade das ferramentas que temos à nossa disposição para desarmar toda a complexidade dos desafios de cada nível. Podemos usar apenas o rato (e apenas um botão dele) para passar o jogo inteiro.

A beleza das mecânicas de Children of the Sun está mesmo na soma das partes e na forma como nos incentiva a ser inventivos e criativos na nossa abordagem a cada situação que aparece à nossa frente.
Jogar com as habilidades e com as oportunidades que o ambiente em volta torna a jogabilidade muito cerebral e a sensação de terminar um nível é bastante gratificante.

Quem quiser adicionar desafio e longevidade à experiência, o jogo disponibiliza um sistema de ranks online onde podemos competir com outros jogadores pelo número maior de pontos em cada nível. Uma bela adição para quem procura retirar algo mais competitivo desta matança toda.


Children of the Sun é mais uma prova inequívoca da excelente seleção que a Devolver Digital tem feito ao longo dos anos e do cuidado que tem quando resolve adicionar videojogos ao seu já extenso e diverso cardápio enquanto editora.

Este jogo de René Rother oferece ao jogador uma história pesada e uma atmosfera intimidante onde todas as componentes visuais/sonoras provocam uma constante inquietude à nossa experiência e casam na perfeição com uma jogabilidade e resolução de puzzles completamente imersiva, visceral e brilhantemente implementada.

Devido à sua natureza violenta e mecânicas muito próprias que impõem ao jogador algum planeamento e uma boa dose de paciência, Children of the Sun nunca será mainstream nem nunca constará de nenhuma lista de melhores jogos do ano, mas será sempre uma excelente surpresa para quem for curioso e destemido o suficiente para experimentar algo diferente.


Children of the Sun saiu no dia 9 de abril de 2024 e está disponível para PC.


Nota: Análise efetuada com base em código final para PC, gentilmente cedido pela Devolver Digital.

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