Trifox

Trifox é um platformer ao estilo twin stick shooter que segue a aventura de uma raposa cujo dia é interrompido por saqueadores que não só atacam a sua casa, como também lhe roubam o comando da televisão. Quem seria capaz de cometer tamanha maldade?

Trifox dá ao jogador a escolha inicial entre 3 classes: guerreiro, mago e engenheiro. Esta escolha apenas determina as primeiras habilidades que recebemos e que serão usadas durante o tutorial, já que, quando este termina, desbloqueamos uma base de operações que, entre outras coisas, serve para comprar novas habilidades com as moedas recolhidas nos diferentes níveis. Cada classe apresenta um conjunto de 10 habilidades, totalizando um total de 30 habilidades que cada jogador pode misturar e combinar de forma a criar o loadout que melhor se adeque a cada um. Estas habilidades são atribuídas pelo jogador aos gatilhos (L1, L2, R1 e R2), conforme a sua preferência. Este aspeto é talvez o ponto mais forte do jogo, dando a cada jogador a oportunidade de este personalizar totalmente o seu estilo de combate, não forçando os jogadores a comprometerem-se com uma única classe.

Infelizmente, esta é a soma das palavras positivas que eu tenho a dizer sobre o combate de Trifox, já que este rapidamente se torna bastante repetitivo. Em parte, isto deve-se à pouca variedade de inimigos, mas, na minha opinião, evidencia também o dececionante design dos níveis de Trifox.

Trifox apresenta um sistema de níveis reminiscente daquele que encontramos em Crash Bandicoot: existem 3 mundos (4, se contarmos com o do boss final), cada um deles com 3 níveis mais um 4º nível que consiste num boss. Os níveis iniciais são curtos e começam por ser divertidos, mas acabam por se tornar cada vez maiores e desnecessariamente mais complicados, devido ao truque exaustivo e irritante de nos fechar numa arena com um número exagerado de inimigos. Este aspeto está mais presente no 3º mundo, onde cada um dos níveis pode demorar entre 30 a 40 minutos a completar, e onde há demasiadas secções que consistem em repetir uma ação 4 ou 5 vezes, sendo cada uma destas vezes separada por um combate com um número crescente de inimigos. Um exemplo deste tipo de gameplay é um nível onde, a um dado momento, damos de caras com 4 portas que se seguem umas às outras e que devemos abrir para prosseguir. Como podem imaginar, cada uma destas portas tem de ser aberta separadamente, obrigando-nos a visitar 4 distintas partes do mapa, cada uma com um cristal que devemos destruir para abrir a porta correspondente. E quando digo que visitamos "4 partes distintas", isto significa apenas que vamos a 4 sítios, mas na verdade há pouco que distinga estes locais. E claro, de cada vez que destruímos um cristal, surge um grupo cada vez mais numeroso de inimigos que devemos derrotar. São situações como esta que, frequentemente, fizeram de Trifox uma experiência que tive de aguentar, em vez desfrutar.

Na minha opinião, mais do que qualquer outro aspeto, o fraco design dos diferentes níveis é o principal responsável pela repetitividade do combate, já que raramente somos presenteados com uma nova forma de derrotar um inimigo ou uma set piece que não seja uma arena com demasiados inimigos na qual morremos de forma quase imediata, ou então conseguimos muito lentamente ir desbastando as barras de vida dos vários inimigos.

As secções de platforming proporcionam algumas pausas muito necessárias do combate, mas também estão longe de serem perfeitas. Senti que os controlos podiam ser mais polidos, já que é fácil ficar preso numa plataforma ou falhar um salto, apesar da existência de uma marca que mostra onde vamos aterrar. Estas secções fazem uso da habilidade de duplo salto, bem como de uma habilidade de movimento que é diferente para cada habilidade: o guerreiro consegue fazer um dash, o mago teletransporta-se e o engenheiro tem umas hélices que lhe permitem fazer um pequeno voo. Trifox conta também com alguns puzzles aqui e ali, mas nenhum que seja complicado ou interessante o suficiente para merecer qualquer tipo de destaque: a maioria consiste em levar um objeto até uma determinada superfície ou ativar certos interruptores para desbloquear uma passagem.

No entanto, a minha maior crítica foca-se no movimento demasiado lento da raposa que controlamos. A ausência de um botão designado para andar mais rápido ou correr significa que todo o movimento é feito com os dois analógicos. Enquanto que o analógico esquerdo faz exatamente aquilo que seria de esperar, o direito é usado para direcionar o movimento e os ataques que efetuamos. O movimento em geral é bastante lento, acelerando apenas depois de cerca de 1 segundo e meio a andar na mesma direção. Infelizmente, até esta aceleração está longe de ser suficiente e basta uma ligeira mudança de direção para que se perca todo o ímpeto, o que nos traz de volta ao movimento lento.

Por outro lado, algo que apreciei foi o design das personagens e de alguns dos ambientes, ainda que ambos deixem algo a desejar em termos de variedade, principalmente no sentido em que a maioria dos bosses é bastante genérico. Alguns dos inimigos têm designs engraçados, mas seria certamente positivo se houvesse uma maior variedade dos mesmos, principalmente entre os diferentes mundos. Ainda assim, apesar de o estilo gráfico não ser bastante desenvolvido, achei que era satisfatório.

Em termos de narrativa, Trifox oferece muito pouco. Para além da sequência cinematográfica que dá início ao jogo, a única coisa que dá seguimento à história são transmissões televisivas dos vilões depois de cada nível.

Infelizmente, em última análise, não consigo recomendar Trifox. Apesar de alguns momentos de notável diversão, uma premissa simples e um estilo gráfico interessante, um pobre design dos níveis, um combate repetitivo e alguns momentos desnecessariamente difíceis acabam por fazer de Trifox uma experiência muito menos agradável do que aquela que nos é prometida. Enfim, Trifox deveria ser um jogo com todas as suas ideias removidas, à exceção das positivas, mas infelizmente parece que os desenvolvedores tiveram alguma dificuldade em perceber quais as partes que funcionavam e quais as que não tiveram tanta sorte. Se estás à procura de um platformer com combate mediano, liberdade na escolha do loadout e alguns momentos divertidos, não ficarás desiludido. No entanto, se estás à espera de horas de combate e platforming inovativo, então terás de continuar a procurar.


Nota: Análise efetuada com base em código final para PS5, gentilmente cedido pela Pirate PR.


Latest in Sports