The Cub

Desenvolvido pelo Demagog Studio e publicado pela editora Untold Tales, The Cub é uma das primeiras propostas indie de relevo a ser lançada em 2024.

Este jogo leva-nos a um planeta Terra já em ambiente pós apocalíptico onde a raça humana se viu a braços com um desastre ambiental e onde apenas os ricos e mais abonados tiveram condições para sair do planeta e procurar refúgio em Marte, deixando o resto da população à mercê da catástrofe.

Citando a famosa frase de José Rodrigues dos Santos; “Morreram todos!”. Menos o nosso pequeno herói mutante (e mais alguns amigos...) que, por via do acaso, desenvolveu resistência e imunidade ao ambiente hostil e impróprio para seres humanos enquanto era criado por uma matilha de lobos. E é durante o dia-a-dia do nosso pequeno protagonista que começa esta aventura que dura cerca de 3 horas e onde na maior parte delas estaremos a fugir de um grupo de exploradores humanos vindos de Marte que, durante uma missão de reconhecimento, encontram o pequeno sobrevivente e procuram capturá-lo. Esta perseguição leva-nos a conhecer vários locais, lutar contra vários inimigos e acima de tudo, ficar a conhecer os eventos que levaram à extinção da raça humana no nosso planeta azul.

Para surpresa minha confesso que, mais do que o desenrolar da história que faz avançar o jogo, aquilo que me cativou neste jogo foram as migalhas de lore que íamos encontrando pelo caminho em forma de colecionáveis; e-mails, jornais ou excertos de filmes exibidos em televisões.

Numa clara tentativa do estúdio em despertar no jogador a nostalgia que a cultura pop vai semeando ao longo dos tempos, há um pouco de tudo e para todos. Desde excertos de filmes que são facilmente reconhecíveis mas suficientemente alterados para evitar problemas de copyright, pedaços de jornais onde de forma bastante crítica certos eventos que aconteceram mesmo, são contados e adaptados à realidade do jogo e até mesmo e-mails e mensagens que vão descrevendo situações do lado mais mundano da vida das pessoas.

Quererei dizer com isto que a história do jogo fica um pouco aquém do expectável? Em parte sim, porque não encontrei nela aqueles momentos que nos fazem verdadeiramente entrar dentro do enredo e o fio condutor da mesma é tão direto que mais parece estar tudo em piloto automático até às fases finais do jogo. Não quero dizer com isto que a história seja dececionante, apenas não me cativou da mesma maneira que outros importantes jogos de plataforma lançados nos últimos anos o fizeram. O final, no entanto, compensa a viagem.


Fortemente influenciado pelos jogos de plataformas 2D que dominaram a atenção dos jogadores na década de 90 - principalmente os fãs da SEGA - tais como Aladdin, Duck Tales ou The Jungle Book, este jogo foge à tendência atual dos jogos de aventura 2D onde a presença assídua de puzzles que se vai entrelaçando com a história que vai sendo contada.
The Cub pede ao jogador mais destreza nas mãos e menos linha de pensamento pois vive muito das habilidades de parkour e da agilidade de movimento do nosso pequeno sobrevivente. 

Era isso que estava no "papelinho das instruções" mas na realidade é aqui que o jogo tem o seu maior percalço para mim. O jogo nunca consegue arranjar um equilíbrio entre o casual e o desafiante, sendo que a sua dificuldade pende sempre para o lado mais facilitador de progressão à exceção de dois ou três momentos que fazem suar um pouco mais as mãos. São nestes raros momentos onde a mecânicas de jogo variam um pouco e tornam a jogabilidade mais desafiante e divertida.

Para os mais distraídos, The Cub acontece na mesma realidade que outro jogo do Demagog Studio, o Golf Club Nostalgia, e vai beber toda a inspiração em termos de arte visual e sonora a esse jogo para recriar novamente esse mundo. A arte visual é excelente e exibe uma paleta de cores muito vibrante.
O que não deixa de ser curioso é que este mundo visualmente tão cheio de cores acaba por contrastar com uma história toda ela com tons bem mais acinzentados.

Curiosa também é a abordagem às músicas e palavras que nos acompanham enquanto percorremos Alphaville. Bem cedo no jogo deparamo-nos com um "marciano" já defunto e o nosso "Mogli" apanha o seu capacete para o enfiar na cabeça. Surpresa das surpresas, temos transmissão radiofónica!
A Radio Nostalgia (também já existente no já referido Golf Club Nostalgia) tem emissão em direto de Tesla City em Marte (de onde é que este nome virá...) e é transmitida também para os capacetes dos seus exploradores durante as suas visitas à Terra. Conversas, telefonemas de ouvintes ou anúncios de serviço publico que nos dão a conhecer como é a vida dos colonos e são intercalados com músicas eletrónicas que não seria de todo a minha escolha para banda sonora de um jogo pós-apocalíptico mas após o impacto inicio foi uma surpresa muito bem-vinda.

Esta transmissão da Radio Nostalgia juntamente com os itens colecionáveis são uma fonte importantíssima de conhecimento para quem quer ficar a conhecer os factos que dão origem e servem de base para a história que nos estão a contar.


Pujante na sua mensagem ambientalista e na crítica aos comportamentos da sociedade atual, The Cub aproveita um cenário futurista e pós apocalíptico para apontar dedos ao mundo de hoje. Fá-lo de uma forma simples e até eficaz mas falha em provocar pensamento com uma história demasiado direta que dispensa atenção mas que está envolta em pedaços de lore deliciosos quase sempre sustentados na sempre eficaz nostalgia.
A combinação entre uma arte visual que exulta qualidade e uma banda sonora que primeiro se estranha mas depois se entranha, serve de base a uma jogabilidade que a espaços se propõe a oferecer desafio ao jogador mas que de uma maneira geral se remete a dar a melhor experiencia possível ao jogador mais casual.

Entre altos e baixos, The Cub pode não ser uma daquelas entradas de luxo a que estamos habituados no panorama do largo nicho das aventuras de plataformas 2D mas não deixa de ser suficientemente competente e divertido de jogar.


The Cub sai dia 19 de janeiro de 2024 para PS5, PS4, Switch e PC.


Nota: Análise efetuada com base em código final para PC, gentilmente cedido pela Untold Tales.

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