Star Ocean The Second Story R


Os que me conhecem talvez estejam a par do meu fanatismo por Star Ocean, série esta que parecia esquecida por completo pela Square Enix, mas que felizmente começou a voltar a ter o seu destaque recentemente. Quando anunciado, Star Ocean The Second Story R marcou o regresso àquele que, ainda hoje, é visto como dos melhores que a série trouxe, o favorito de grande parte dos fãs, onde eu me incluo. Quando o joguei originalmente na minha adolescência, cópia emprestada por um amigo, pois infelizmente nunca o consegui comprar, devorei o jogo por completo ao apresentar-me uma junção perfeita de um RPG com ficção científica, duas coisas que sempre adorei.


Foi a descoberta de uma série que me acompanha até hoje, que a cada novo anúncio aguardo impacientemente pelo seu lançamento, embora cauteloso após uma ou outra surpresa desagradável na série, como o quinto jogo ser um jogo bastante… infeliz. Série que me fez comprar uma Xbox 360 para poder jogar Star Ocean: The Last Hope, na altura exclusivo, série também que me lembro bem de ir a correr ao Norte Shopping para comprar First Departure e Second Evolution para a PlayStation Portable, nas respetivas datas de lançamento.

Surge agora o remake do segundo jogo da série, que nos leva ao clássico da (então) Enix nos finais da década de 90, na PlayStation. Atualmente é difícil, por vezes, perceber o que é um remake, remaster ou outras coisas que não têm propriamente uma definição concreta, mas The Second Story R é um remake. Pode usar os sprites da versão original do jogo, mas tudo o resto foi refeito, desde a sua apresentação em cenários totalmente tridimensionais, abandonando os fundos pré-renderizados em prol de uma estética 2.5D ou até mesmo aos jogos HD-2D que a Square Enix tem lançado. Vem acompanhado com um novo estilo artístico, sequências de animação totalmente novas e uma banda sonora trabalhada com banda ao vivo, onde Motoi Sakuraba volta a mostrar a sua mestria. Tudo isto sem nunca abandonar a essência do jogo original, pois constantemente enquanto jogava tinha a sensação que estava a jogar algo da era dos 32 bits, transportado para os tempos atuais. Sentimento esse curioso, pois parte do elenco japonês do original regressou para novas gravações.


Pontos técnicos à parte… então, que aventura é esta? Antes de a iniciar tinha uma grande decisão a tomar: que protagonista escolher. Esta é a primeira de muitas escolhas que o jogo nos apresenta, que moldam a história num rumo que leva a um dos quase (quase) 100 finais diferentes. Não é uma decisão assim tão dramática, pois no geral a história é bastante semelhante independentemente da escolha, onde muda apenas pela interação com as diferentes personagens que podemos ou não recrutar para a nossa equipa. Voltando aos protagonistas, por um lado temos Claude C. Kenny, filho de Ronyx e Illia, personagens principais do primeiro jogo. Um jovem que procura encontrar um rumo para a sua vida e sair da sombra do pai. A outra personagem é Rena Lanford, cujo passado e a sua origem são um mistério, inclusive para ela mesma, até porque possui poderes curativos que mais ninguém tem em Expel, o mundo que exploramos neste jogo. O destino de ambas as personagens é traçado quando Claude é misteriosamente teletransportado para o planeta de Expel, encontra Rena que pensa que estava perante o herói das lendas que aprendia desde criança, o responsável por salvar o mundo. E, assim, começa a nossa demanda.

Embora grande parte do jogo ambas as personagens andem juntas, são vários os momentos em que vemos apenas o ponto de vista daquela que escolhemos no início do jogo, algo que acaba por mudar bastante a aventura, mais do que todas as outras opções. Até porque as decisões que escolhemos na história vão refletir apenas um conjunto de pequenos trechos de história que surgem no final do jogo, que mudam dependendo da relação que fomos desenvolvendo entre as personagens da equipa. É algo que nos convida a jogar novamente o jogo, bastante simplificado pelo New Game + onde mantemos praticamente tudo de quando acabamos o jogo sem aumentar a dificuldade. À semelhança de First Departure R, senti a falta de uma espécie de cenário definitivo, onde seguíamos na totalidade a história de Claude e Rena, com a possibilidade de recrutar todas as personagens do jogo. Podia ser até mesmo um bónus por completar o jogo duas vezes, até porque sinto que não completei tudo por não ter todas as personagens à minha disposição. Mas a estrutura do jogo é assim mesma, com personagens que não ficam disponíveis caso tenhamos recrutado outras.


Pela frente temos uma aventura recheadas de surpresas, inimigos uns atrás dos outros, lidamos com eventos que colocam tudo em perigo e, quando pensamos que podemos respirar um pouco, surge um problema ainda pior. Encontramos uma espécie de mistura interessante onde, num momento estamos numa pacata vila medieval num canto do mundo, isolada de toda a confusão, como horas depois encontramos uma metrópole desenvolvida, com acesso a tecnologias quase que futuristas, que nos levam a pensar “que raio de evolução levou este povo?” Isto sem questionar se houve interferências de civilizações de outros planetas, algo muito normal de acontecer na série, mas, supostamente, são proibidas quaisquer interferências. É o tipo de mundo que eu gosto, mesmo que não faça sentido, onde lutava contra monstros que nada mais são que animais lá do sítio, espalhados por florestas densas, largas planícies e masmorras tenebrosas, que explorava a bom ritmo à procura de tudo o que era tesouro. Nunca deixava uma masmorra sem me certificar ter aberto todos os cofres.

Tudo isto acontece diante o nosso grupo de personagens, onde há uma grande interação entre elas durante o jogo todo, mesmo que praticamente todas as personagens sejam opcionais e, ainda assim, formam uma belíssima equipa que vamos conhecendo aos poucos enquanto avançamos de cidade em cidade, em que assistimos a vários momentos na história de cada personagem onde alguns destes acontecimentos levam-nos a missões secundárias. A exploração no jogo é bastante acessível, como podermos teletransportar em segundos para locais já visitados e sabemos sempre se há missões ou eventos de história em cada sítio através de um pequeno ícone presente no menu do mapa, algo muito essencial devido a acontecimentos que só podemos assistir em determinados momentos do jogo. É todo um conjunto de elementos, alguns deles acrescentados neste remake, que nos ajudam a lidar com a ansiedade de não querer perder nada.


Ansiedade esta algo normal na série, pois um dos pilares fundamentais dela é a criação de itens, através do menu de Crafting que todo ele parece um minijogo. Existem várias habilidades que podemos ensinar às personagens, skills à parte das que podemos usar em combate, que embora separadas também contribuem para melhorar o ataque ou defesa das nossas personagens. Podemos ensinar a cozinhar, criar equipamento, itens, peças de arte ou instrumentos musicais para chamar inimigos, outras que nos permitem duplicar itens, criar materiais para usar em equipamento útil para os momentos finais do jogo. Sobre isto tudo temos ainda a capacidade de criar itens em grupo, quando várias personagens são boas nos seus departamentos… e agora pensam “porra, que confusão”. Sim, e não… até porque à medida que progredimos no jogo acabamos por ensinar tudo a todos, e podemos ignorar todo este universo de criação de itens 90% do jogo, só sendo mesmo vital quando queremos combater contra bosses secretos, ou se queremos desbloquear os achievements in-game que nos dão alguns itens.

Mas a par destas habilidades, como descrevi há pouco temos também habilidades vitais para o combate. Além novos ataques temos também várias habilidades que tornam cada personagem num deus, ou quase, pois pode ganhar a capacidade de correr à velocidade da luz, ou desviar-se de ataques facilmente, enquanto contra-ataca atingindo os pontos fracos dos inimigos enquanto quebra por completo a sua defesa, tornando-os vulneráveis. Isto enquanto um mago da equipa é capaz de invocar as mais devastadoras magias, capaz de as invocar quase instantaneamente. Tudo isto me fez lembrar o quanto eu gosto de “destruir” o jogo, sentir-me extremamente poderoso ao aprender as habilidades certas para cada personagem, em fases diferentes do jogo. Neste remake temos ainda uma “barra” que vai aumentando à medida que somos eficazes em combate, que melhora a nossa prestação e apenas a perdemos se formos atacados de surpresa ou se a personagem morre. Outra novidade é poder invocar as personagens que não temos na equipa ativa, para fazer um ataque especial, mas o melhor deste sistema é que podemos desbloquear protagonistas dos outros jogos da série, mas é pena que se tenham ficado por apenas ter o protagonista de cada.


O que me atraiu na série mantém-se bem presente: uma aventura de ficção científica onde, na imensidão que é o espaço exploramos uma civilização menos avançada que a nossa. Um RPG tradicional onde os combates transportam-nos para uma arena, abandonando o sistema por turnos em prol de um jogo de ação frenético onde os ataques e habilidades especiais das personagens encadeiam umas nas outras. Se há algo satisfatório na série é ver o exagero de números que aparecem no ecrã enquanto destruo inimigos, ao ponto que mal consigo perceber o que está a acontecer, no meio de tantos ataques especiais que parecem querer destruir o planeta. Com 3 níveis de dificuldade diferentes o jogo é acessível mesmo para quem não esteja habituado ao género, no entanto, foram muito, mas muito poucas as vezes em que senti dificuldades, mesmo jogando no modo mais difícil. Até porque este remake conta com algumas novidades, como um conjunto de habilidades passivas nas personagens que, se usadas em conjunto, ajudam imenso a atingir níveis altíssimos acima dos 150. Sim, porque o máximo é de 255.

Esta é a versão que recomendo se quiserem explorar este capítulo da série, não só por estar agora disponível em formatos atuais como as versões anteriores serem bem difíceis, ou caras, de adquirir. Mas também por todo um conjunto de coisas que esta versão trouxe que torna o jogo muito, mas muito mais acessível mesmo para quem nunca tenha jogado um jogo da série sequer. Mesmo na Nintendo Switch o jogo corre bastante bem, por muito que não seja um título que “puxe” muito pela consola e conta apenas com uns loadings algo lentos em certas partes, joguei-o sem quaisquer problemas. Não é um jogo longo, mesmo sendo um RPG com 2 cenários diferentes e, sem termos batalhas aleatórias a empenar o caminho, a aventura faz-se muito bem.


2023 foi um ano recheadíssimo de incríveis jogos, onde muitos foram os que passaram despercebidos, onde senti que Star Ocean The Second Story R foi um desses exceto, talvez, para os fãs de jRPGs. No meio de tanto bom jogo (entre eles vários RPGs), este foi um dos jogos que mais me diverti a jogar o ano inteiro, muito por ser fã da série, mas principalmente porque adorava entrar em combate para destruir por completo bosses, pois havia pensado na combinação de habilidades, membros da equipa e ataques especiais para tal.

Nota: Análise efetuada com base numa cópia original do jogo para a Nintendo Switch, adquirido pelo autor do artigo.

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