The Last of Us Parte II Remastered

O meu primeiro playthrough de The Last of Us Parte II é uma daquelas experiências com videojogos que me marcou de forma diferente e que eu nunca esquecerei. Lembro-me de viver os primeiros momentos deste jogo pela primeira vez, e acho que estas são memórias que nunca esquecerei. Há uns meses, motivado pelo anúncio de uma segunda temporada da série The Last of Us, da HBO, escrevi um artigo em defesa daquele que é um dos meus jogos preferidos de sempre e, na minha opinião, uma obra prima de storytelling, construção de personagens e inversão de expectativas. Nesse artigo, descrevi The Last of Us Parte II como "a pior experiência que já tive com um videojogo" e "a coisa mais angustiante, triste e deprimente que já me obriguei a experienciar". Nada disso mudou e tão pouco mudou a minha adoração e admiração por esta obra.

O anúncio de um remaster de um jogo com pouco menos de 4 anos teve a reação que seria de esperar de uma comunidade que perceciona a atual época dos videojogos como uma altura em que os maiores estúdios da indústria procuram cada vez mais fazer dinheiro rápido e seguro, desenvolvendo remakes e remasters de trabalhos anteriores, em detrimento da criação de algo novo. Em 2020, quando foi lançado na PS4, The Last of Us Parte II era um jogo que, mesmo ignorando a sua história, ia para lá de tudo aquilo que parecia ser possível um videojogo fazer, quer a nível gráfico, quer a nível técnico, apresentando, por exemplo, um sistema extremamente desenvolvido para o jogador rastejar em vários ambientes, enquanto apontava a sua arma ou fabricava recursos, sendo todas estas ações totalmente animadas. Assim sendo, parecia difícil e, por isso, desnecessário, melhorar este jogo.

E, verdadeiramente, esta não é a razão para fazer o upgrade da versão original. Não que não existam melhorias, porque elas estão lá, ainda que sejam, por vezes, difíceis de notar a menos que estejamos propositadamente à sua procura. Destacam-se aqui melhorias nas texturas e partículas, sobretudo folhagem, bem como as luzes e sombras. Outro destaque técnico é a integração das características específicas do DualSense, em particular os gatilhos adaptáveis, que trazem todo um novo nível de imersão a um jogo que depende bastante do seu combate, campo que beneficia tremendamente do facto de cada arma transmitir uma sensação diferente quando é usada.


Mas a Naughty Dog não se limitou a dar-nos o mesmo jogo com alguns ligeiros melhoramentos gráficos e técnicos. Talvez a novidade para a qual eu estava mais entusiasmado seriam os Níveis Perdidos, secções desenvolvidas durante a produção do jogo que acabaram por ser cortadas do produto final, por uma razão ou outra. O remaster apresenta-nos 3 desses níveis (Festa de Jackson, Esgotos de Seattle e A Caçada), em fases diferentes de desenvolvimento, incluindo, cada um, um vídeo de Neil Druckmann e comentários dos desenvolvedores que acompanham o jogador ao longo no nível, oferecendo um nível de insight inigualável e absolutamente fascinante, principalmente para os maiores fãs que, como eu, apreciarão imensamente o novo entendimento sobre o processo de desenvolvimento de um jogo e as razões pelas quais estes níveis tiveram de ser abandonados.

No entanto, a cereja no topo deste bolo remasterizado é, sem sombra de dúvida, o novo modo roguelike, Sem Regresso. Este modo coloca-nos na pele das principais personagens de The Last of Us Parte II e desafia-nos a concluir uma série de encontros com os vários inimigos que ficámos a conhecer ao longo da história até alcançarmos o encontro final, com um boss. Cada personagem tem um estilo diferente de jogo, com características que favorecem um específico aspeto do jogo. Por exemplo, Abby favorece o combate corpo-a-corpo, enquanto que Dina é mais indicada para aqueles que preferem focar-se em fabricar upgrades e armadilhas e Lev privilegia uma abordagem furtiva. Em cada tentativa, terás a oportunidade de escolher uma personagem e uma dificuldade, que influenciará o multiplicador de pontuação.


Com essas seleções feitas, o progresso ao longo de uma determinada tentativa será moldado por ti, existindo, várias vezes, a possibilidade de escolher entre mais do que um encontro, cada um com características diferentes (inimigos, modificadores, localização, modo de jogo e recompensas), até chegares ao boss final. Entre cada encontro, serás transportado para um abrigo, onde terás a oportunidade de comprar recursos (novas armas, munição ou receitas), desbloquear novas habilidades e melhorar as tuas armas. Esta será, sem dúvida, a maior motivação para regressar a The Last of Us Parte II, principalmente pela componente de progressão aqui inserida. Cada encontro completado com uma determinada personagem é um passo na direção de desbloquear novas personagens, visuais ou até inimigos e modificadores que passarão a estar disponíveis em tentativas posteriores.


The Last of Us Parte II Remastered introduz também a possibilidade de tocar guitarra livremente, na pele de Ellie, Joel e até Gustavo Santaolalla, o compositor da banda sonora de The Last of Us e The Last of Us Parte II, e em vários locais pelos quais passamos durante a história.

Apesar da reação não totalmente positiva ao anúncio desta versão remasterizada de um jogo com menos de 4 anos, as melhorias técnicas e gráficas, juntamente com a inclusão dos Níveis Perdidos e, nomeadamente, o modo Sem Regresso, provam que The Last of Us Part II Remastered não é um simples money grab, e fazem do upgrade de 10€ simplesmente obrigatório para os fãs do original. Se, por outro lado, ainda não jogaste The Last of Us Parte II, é-me impossível não recomendar aquela que é, para mim, uma das melhores (se não a melhor) histórias algumas vez contadas nos videojogos, mas se isso não era suficiente, então as adições introduzidas pelo remaster, fazem desta obra prima ainda mais completa.


Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para PS5, gentilmente cedido pela SIEE

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