Avatar: Frontiers of Pandora


Lembro-me de ir ver o primeiro Avatar ao cinema. Com apenas 7 anos, estava certo de que era a melhor coisa que já tinha visto (vá, atrás de Star Wars). Com o passar do tempo, confesso que a magia do filme e desse universo desapareceu em quase todos os aspetos, mas num manteve-se firme: o mundo de Pandora. Este mundo belo, vibrante e incrivelmente vivo capturou a minha imaginação como poucos outros, e a sua magia perdurou por muito mais tempo do que qualquer interesse que eu tivesse na história do filme que, na minha opinião, não é particularmente interessante ou nas suas personagens, que são pouco memoráveis. A verdade é que, apesar de todas as minhas reservas quanto ao universo de Avatar, o mundo de Pandora parece ter sido construído para acolher um videojogo.

É este mundo que me parece ser o ponto mais forte de Frontiers of Pandora, mas não consigo deixar de pensar que, mesmo assim, é um conjunto de oportunidades perdidas. Pandora é um mundo incrivelmente vivo, principalmente no que toca à sua fauna e flora, que é surpreendentemente diversa e contribui bastante para vender a ideia de que Pandora é um local real. Esta é, também, a vantagem de situar um jogo num universo pré-existente da autoria de James Cameron. No entanto, não consigo deixar de pensar que a mão da Ubisoft neste mundo acaba por lutar contra os seus pontos mais fortes. Um mundo belo e vibrante, peca por ser demasiado grande e indistinguível para o seu bem, com poucas distrações dignas do nosso tempo, fazendo com que viagens por este mundo parecessem quase intermináveis, mas também tornando a exploração para lá da história principal muito menos apelativa do que em outros mundos abertos.

A navegação pelo mundo de Pandora não é ajudada pela decisão de não fornecer ao jogador pontos de referência claros e objetivos entre missões, dando, ao invés, indicações vagas da direção em que devemos procurar o nosso próximo objetivo, como, por exemplo, "a nordeste do Posto Inimigo X" ou " a sul da Comunidade Y". Esta ideia, em si, não é, de todo, má, e eu estaria disposto a aceitar e elogiar a dedicação de um jogo em contrariar a tentação de inundar o HUD com indicações e, assim, não só cortar a imersão do jogador como desencorajar a exploração de um mundo detalhado. No entanto, estas indicações tornam-se difíceis de seguir quando nos deparamos com um mundo que se provou, pelo menos para mim, indistinguível. A um certo ponto, tive até de procurar um vídeo que me explicasse onde era, de facto, o local que eu procurava e como chegar lá. E não estamos a falar de um colecionável intencionalmente difícil de encontrar, mas sim do início de uma missão relativamente cedo no jogo.

Se algo tornou a minha jornada por este mundo mais tolerável e até divertida foi a satisfatória agilidade da personagem principal, aliada a um conjunto de controlos altamente responsivos que permitem correr, saltar e trepar pelo ambiente, que também conta com bastantes ferramentas que possibilitam um movimento fluído e quase instintivo, como enormes folhas que nos lançam pelo ar e outras que amparam as nossas quedas, videiras que permitem rapidamente subir e descer de árvores e outras plantas que expelem esporos quando passamos por elas, aumentando temporariamente o nosso ímpeto.


Como já referi, é a fauna e a flora de Pandora que fazem este mundo parecer supreendentemente vivo, e ambas merecem ser propriamente enaltecidas. Talvez o meu detalhe preferido - e parece até errado rotular esta mecânica como um detalhe - é a colheita de recursos que faz total uso dos gatilhos adaptáveis do DualSense. Para lá das plantas que nos ajudam a movimentarmo-nos pelo mundo, encontrei também bastantes plantas com frutos que podia recolher e, mais tarde, utilizar na confeção de receitas. No entanto, ao contrário de qualquer outro jogo, no qual bastaria um simples clicar de um botão para recolher estes ingredientes, Frontiers of Pandora apresenta-nos todo um "minijogo" em que temos de encontrar o ângulo certo para puxar o fruto da planta e depois a força exata (com ajuda dos gatilhos) para o conseguirmos adicionar ao nosso inventário. Esta pequena adição é extraordinariamente significante, contribuindo não só para uma maior sensação de imersão mas proporcionando também uma necessária pausa do ritmo muitas vezes frenético do movimento e combate do resto do jogo.

A fauna também pode ser caçada para utilizar a sua carne em receitas, mas foram raras as ocasiões em que, voluntariamente, cacei com esse intuito, resultando os ingredientes no meu inventário mais frequentemente de situações em que tive de me defender de matilhas de viperwolves. Ainda assim, não é difícil apreciar a forma como Frontiers of Pandora populou este mundo com uma impressionante variedade de espécies animais, bem como a sua atenção no desenvolvimento de um sistema que recompensa uma morte limpa e respeitosa de cada animal, garantindo a melhor versão da sua carne. Igualmente, colher um fruto numa certa altura do dia e sob determinadas condições meteorológicas fará com que este proporcione resultados mais positivos quando cozinhado.

Se estavam à espera que a falta de incentivo à exploração, garantia, pelo menos, uma narrativa principal cativante, recheada de personagens interessantes e uma boa dose de conflito, então lamento informar não é esse o caso. A história contada pela Ubisoft não reinventa a roda no que toca a histórias contadas no universo de Avatar: a força colonizadora humana oprime a população Na'vi e explora Pandora pelos seus recursos, motivando os locais a unirem-se para recuperarem a sua terra. Frontiers of Pandora introduz, no entanto, um twist interessante, colocando-nos na pele de um Na'vi criado em cativeiro pela RDA (Resource Development Administration), concedendo-nos uma perspetiva singular em relação a este conflito, bem como um conhecimento do armamento Na'vi e humano. Ao longo do meu tempo com o jogo, tive dificuldade em sentir-me investido nos acontecimentos ou qualquer tipo de ligação a alguma das personagens que ia conhecendo, muito porque estas partilhavam com o ambiente à sua volta essa tal qualidade de indistinguibilidade.

Um dos pontos altos da história acontece ao fim de 5 ou 6 horas, quando finalmente estabelecemos ligação com um ikran, os famosos predadores aéreos nativos de Pandora. Aqui, o mundo atinge todo um novo nível de beleza e encanto, elevado pela magia de viajar nas costas daquilo que é o equivalente de um dragão em Pandora. Apesar de isto significar que abdicamos da velocidade do movimento terrestre, há poucas coisas mais emocionantes do que saltar de uma ravina e chamar o ikran com apenas um botão. A partir deste momento, foi rara a ocasião em que me desloquei de qualquer outra forma.


No que toca ao combate, Frontiers of Pandora adota uma abordagem relativamente simples segura. O arsenal de armas a que temos acesso é relativamente limitado, mas nunca senti que fosse insuficiente em qualquer um dos vários encontros com as forças militares da RDA, nos quais dependi quase exclusivamente do arco longo para atacar soldados e os mechs que patrulham as inúmeras instalações inimigas. Para derrotar os últimos, foi especialmente útil o sentido Na'vi, uma habilidade que permite descobrir pontos fracos nas suas armaduras, onde basta um tiro certeiro para os eliminar. O acesso a armamento humano, particularmente uma assault rifle e uma shotgun, foi uma boa ajuda, especialmente para destruir as aeronaves da RDA à distância. Ao longo do jogo é possível encontrar versões melhoradas destas armas, bem como peças de vestuários e modificações que permitem melhorar a vitalidade, bem como várias outras estatísticas, dependendo da preferência do jogador.

No todo, Frontiers of Pandora é um jogo que se destaca, inicialmente, pela sua escala e visuais verdadeiramente impressionantes, sendo impossível não ficar instantaneamente maravilhado pelo aspeto vibrante do mundo de Pandora. Infelizmente, a Ubisoft é incapaz de aproveitar esta primeira impressão para criar, a partir daí, uma história cativante e personagens distintas e interessantes ou, até para compelir o jogador a explorar esse mundo. Com um combate simples, que não mostra grande evolução ao longo da história, Frontiers of Pandora perde a oportunidade de criar algo verdadeiramente estimulante. No final de contas, deparamo-nos com um jogo que apresenta alicerces promissores, mas que acaba por ser um conjunto de oportunidades perdidas, deixando um sabor agridoce na boca de qualquer jogador à espera de algo remotamente especial.


Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para PS5, gentilmente cedido pela Ubisoft.


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