Lisboa Games Week: Indie Dome 2017


O público vai ao Lisboa Games Week ou a eventos do género para ver, jogar, sentir os jogos do momento, os chamados jogos AAA; para ter o privilégio de ser um dos primeiros a jogar aquele jogo antecipado que ainda não foi lançado. Filas, filas e filas para cinco minutos ou menos. Portanto foi com um enorme prazer que vi as mesas da Indie Dome com muitos entusiastas que não estavam perdidos, mas queriam mesmo ali estar.


A Dome contou com alguns convidados internacionais como Klaus Lyngeled (Zoink Games), Brjánn Sigurgeirsson (Image & Form), Tyron Janse van Vuuren (Output Games), Tracey e Dave McCabe (Spooky Doorway), que trouxeram os seus jogos mais recentes a Lisboa; os PlayStation Talents que foram privilegiados com um espaço amplo e exposto e inúmeros outros estúdios internacionais e equipas nacionais com as suas criações. E fui atrás deles. Sim, sou tendencioso, e quis saber o que andamos a fazer cá dentro. Escrevo a palavra “andamos” muito libertinamente porque não ando a fazer nada, mas as pessoas com quem tive o prazer de falar fazem-no. Fazem-no bastante, bem e com coração.

Havia de tudo para todos, vários géneros em exposição e possíveis de experimentar: RPG, Terror, Puzzle, Tower Defense, Competição, Sidescroller, etc. Não há uma proverbial sombra da bananeira, mas um céu infinito de possibilidades e inúmeras fontes de inspiração. Em conversa informal com o David Andrade, da Fabula Epica, falámos dessas inspirações para o seu Guardians of Arcadia. Final Fantasy IX é uma e concordo porque é um dos melhores Final Fantasy de sempre. Puxei o fio ao título e pesquei um aceno a Skies of Arcadia, um favorito da equipa Nintendo. Trazer um RPG para um evento onde as atenções são efémeras é complicado, não há setpieces, é preciso sentar e ter paciência, mas ainda havia quem passasse por lá e o David soube receber bem as pessoas para explicar o seu jogo. Eu fiquei vendido e fiz a pergunta da praxe: poderá sair na Nintendo Switch? Houve aquela pausa, mas um certo desejo de ver o jogo na Nintendo – no fundo, não depende só da boa vontade, mas da grande N.

Fiz a mesma pergunta a todas as pessoas que me queriam ouvir e a resposta era unânime. Há imensa vontade de lançar na Switch e, alguns, já tinham começado o diálogo com a Nintendo. Muitos conheciam o David Amador e o seu Quest of Dungeons na Switch, tomam-no como exemplo e também querem deixar a sua marca – por mim, quantos mais melhor, mas quantidade não significa qualidade, atenção, e nem estou preocupado.


Vi muitos jogos que me deixaram satisfeito. Por exemplo, eu tenho um péssimo sentido de orientação e enquanto andava a filmar a Indie Dome perdi-me e encontrei uma passagem estreita nada suspeita. Segui-a e fui dar à secção assustadora. Que medo, mas lá fui encontrar o Insurrection, da 8-bit Forgers, um sidescroller de ficção científica que estive a ver a ser jogado. Nota-se o namoro ao retro através da pixelart, a dificuldade elevada, o enredo minimalista e gostei – é tudo tão fácil hoje em dia que faz falta jogos assim. Havia um grupo de rapazes que o estava a experimentar, e estava divertido a partilhar feedback (um deles parecia o Corey Feldman em Goonies), que me seguiu enquanto falava com os outros devs na sala. Jogaram o Ashes, da WindLimit, que me lembrou o Amnesia com pitadas de Hexen – um jogo de suspense e de exploração lenta.

Passaram ao Dark Things About e aproveitei para saber mais deste jogo e respectivo conceito de terror a duas mãos. Por norma, um jogo de terror cria mais tensão quando jogado sozinho. Partilhar a experiência quebra o ambiente, mas convenceram-me que este jogo iria ser diferente. Ponto número um, os jogadores teriam poucos recursos, tornando-os dependentes um do outro para se defenderem, completarem puzzles e chegarem ao fim. Ponto número dois, co-op local! A aposta vai ser no sofá e para puxar pela interacção à moda antiga. Depois de recolherem o feedback do grupo e algumas influências que sugiram em conversa, avançámos para a mesa do Those Who Remain, um jogo na primeira pessoa que bebe imenso de Silent Hill 2 e Alan Wake. Aqui a luz é uma das personagens principais e os setpieces da demo eram brutais que até deixaram os nossos amigos agitados. Queria contar mais, mas não quero estragar a surpresa.

Agora, estes jogos não estão acabados, alguns estão longe disso – a falta de tempo, pessoas, verba são factores que ditam o destino de muitos destes jogos. Há quem estude ou trabalhe e só tenha tempo para trabalhar no jogo fora de horas; há quem invista do próprio bolso porque o nosso país ainda não considera os jogos arte e depois a única publicidade vem destes grandes eventos, do boca-a-boca, de artigos como este. É preciso saber que eles existem, que estão criar com dedicação, que adoram jogos como nós e querem fazer jogos para nós. Saí da sala assustadora, passei pela foto do Trump na mesa da WindLimit e despedi-me com palavras de motivação (e que os esperava ver na Switch).


Algo curioso que reparei é que os jogos estavam em inglês ou a apostar nesta língua como idioma principal, como se já soubessem que é lá fora que vão singrar. Limitarem o jogo apenas ao nosso mercado seria ter vista curta e condená-lo ainda antes de sair. Apesar do amor que tenho ao meu país, entendo que o sucesso não comece aqui, mas sim lá fora – mas que seria um plus o jogo ter o nosso idioma para ensinar qualquer coisa pelo mundo seria. Deambulei pelas mesas, tirei mais fotos aos jogos e às pessoas a jogar e não pude deixar de reparar nas famílias que jogavam juntas. Podia ser um jogo single-player, mas estavam todos à volta do monitor que para mim era uma dupla vitória: para o LGW, que acaba por ser um evento familiar, e para o Indie Dome, que atraiu um público bastante diverso. E penso: será que muitas destas famílias já não eram jogadoras e vieram à procura de algo que pensavam ter perdido?

Também vi que alguns estúdios já estavam a apostar no VR e não era incomum ver alguém a andar ou a mexer-se de costas para a televisão. O futuro nacional também passa pela Realidade Virtual ou é a nossa vez de experimentar o gimmick? Infelizmente não consegui experimentar nenhum dos jogos porque as filas ainda eram compostas, mas bom sinal! Queria ter conversado com a equipa da Massive Galaxy Studios porque adoro tudo o que seja ficção científica ou space opera e este jogo chamava por mim; vou estar de olho nele e esperar que saia para o poder experimentar com mais… privacidade.


Destaco ainda o divertidíssimo Super Nanny Sleepytime, Hovershock (onde perdi miseravelmente), Keep the Keep, Ganbatte que tem uma premissa fora deste mundo, Ellie Moon e Ako: Journey to the Spirit Realm.

Senti-me em conflito quando me aproximei da equipa da Not a Game Studio, se por um lado adorava ter trocado umas palavras sobre o Vinyl, por outro quis deixá-los trabalhar em paz. É que este pessoal teve a bela ideia de criar um jogo de raiz durante todos os dias do evento e quem passasse por lá podia vê-los a trabalhar. Ficamos à espera do resultado final para saber se a decisão de me afastar foi boa.

Não minto quando digo que me queria sentar com cada dev e conversar sobre os seus jogos. Notei e espero que tenham notado o entusiasmo mútuo – nada nos dá mais prazer do que falar das nossas paixões e do que gostamos de fazer. Despeço-me e espero que estas minhas últimas palavras deixem algum alento: não parem por aqui. As coisas poderão piorar antes de melhorarem, mas não desistam! Espero ver-vos no próximo Lisbon Games Week ou já lançados no mercado. Mais, espero que a minha insistência em lançarem na Switch tenha algum sucesso. Pensem nisso, pode ser?

Até lá, votos de sucesso e um óptimo trabalho!

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