Fort Solis


Fort Solis traz-nos uma espécie de curta cinematográfica onde acompanhamos Jack Leary e Jessica Appleton, dois técnicos que fazem parte de uma expedição científica e que são interrompidos por um sinal de alarme numa das estações do complexo. Com uma tempestade a aproximar-se, Jack resolve ir ver o que se passa e prestar auxilio e é a partir do momento em que entramos no átrio de Fort Solis que tudo verdadeiramente começa. Jack encontra uma estação vazia, sem movimento e aparentemente deixada ao abandono. Daí para a frente todo o enredo vai escalando até ao final da noite e se estão todos vivos, todos mortos ou nem uma coisa nem outra, cabe a quem o vai jogar saber por si próprio.

Fort Solis proporciona uma experiencia de sensivelmente 4 horas, absolutamente linear e atmosférica.
A história é na maior parte das vezes contada através de vlogs e soundbites que foram deixados para trás pelos ocupantes da estação e que lentamente levantam o véu sobre a razão de todas estas incidências.

Tudo demora o seu tempo em Fort Solis e isso acontece em quase todos os aspetos do jogo. Esta lentidão toda acaba por ter o seu expoente máximo no simples caminhar da nossa personagem que é bastante vagaroso. Penso que muita gente vai implicar com esse facto, no entanto esta opção por parte do estúdio aumenta a sensação atmosférica que se quer demonstrar no jogo. Se tivéssemos a opção de correr esse intuito caía por terra.

A progressão pelo complexo é feita sem grandes complicações pois tudo aquilo que é necessário para progredir é encontrado durante o desenrolar normal dos desenvolvimentos, deixando um pouco de parte a exploração. Sem grande variedade em termos de mecânicas, são os quick time events que ganham grande destaque que mesmo assim são poucos e sem consequência alguma. O maior desafio que encontrei foi mesmo um cubo mágico que dava para resolver mas deixei a meio porque se não tinha paciência pra eles quando era novo, muito menos tenho agora. Outro belo desafio recreacional (que me propus a mim mesmo) foi ver quanto tempo eu aguentava a ver Jack a dar goles numa cerveja fresquinha enquanto curtia a sua solidão sem ir buscar uma para mim. Não me aguentei muito e lá fui eu ao frigorifico pois já diz o ditado; "A miséria ama companhia!"

Brincadeiras à parte, o intuito do estúdio com este jogo não é de todo dar uma experiência lúdica no sentido tradicional de um videojogo, foca-se sim em criar o ambiente necessário para que desfrutemos de uma história que facilmente teria lugar como minissérie num qualquer serviço de streaming que por aí anda nos dias que correm.


Roger Clark, Julia Brown e Troy Baker encabeçam o elenco de luxo que dá voz às personagens principais de Fort Solis. Enaltecidas por excelentes animações faciais e corporais e de uma escrita bastante competente, as performances são porventura aquilo que mais se destaca neste jogo, chegando mesmo a ser o único aspeto verdadeiramente a ter em conta e que vai empurrando um desenrolar de história algo cinzento até ao seu fim.

Num jogo com dificuldade em achar uma identidade própria, acaba por ser nos aspetos técnicos que estão todos os seus pontos fortes. Graficamente e visualmente Fort Solis é uma formidável tech demo que mostra ao mundo aquilo que, neste momento, o Unreal Engine 5.2 é capaz. Perfeito em todos os aspetos, o deleite visual oferecido é uma das melhores experiências que um videojogo pode oferecer em 2023.

Esse aspeto em particular ganha ainda mais relevo pelo facto de não ser preciso um PC de topo para poder ter direito a essa experiência. Os requisitos recomendados anunciados mostram-se humildes tendo em conta a tendência inflacionária que percorre as listas atuais de requisitos de sistema no PC e apenas tenho a necessidade de dar um destaque menos positivo às abruptas quebras de frames que se faziam sentir cada vez que o jogo (em segundo plano) carregava o nível para o qual estaríamos a entrar. Normalmente acontecia cada vez que descia ou subia um andar do complexo. Apontamento que tenho necessariamente que fazer mas que se torna secundário tendo em conta que o jogo não tem um único ecrã de loading que quebre a tão importante imersão neste tipo de experiências.

A banda sonora que nos acompanha durante esta viagem cinemática é sólida e bastante atmosférica. Serve de dama de companhia e complementa a viagem visual mas falha em ter elementos de verdadeiro destaque. Existe, cumpre e pouco mais.


Fort Solis nem carrega muito no sal, nem tão pouco na pimenta. A sua narrativa, apesar de inicialmente captar a atenção e interesse do jogador, acaba por se revelar pouco audaz e isenta de emoção. Sem grande variedade na sua jogabilidade e resolução de puzzles, rapidamente o jogo se torna num "walking simulator" onde se anda sempre muito devagarinho à espera daquilo que nunca acaba por acontecer. Fica a sensação de que o estúdio Fallen Leafs não quis que o jogador se distraísse com muita coisa para que apreciasse sem interrupções o magnífico feito visual que este jogo é, muito graças ao uso da mais recente iteração do motor de jogo Unreal Engine.

Apesar de tudo, a história deste jogo chega ao seu destino carregada por um excelente desempenho por parte dos atores, boa escrita e magníficas animações e capturas de movimentos. Fica no entanto a sensação de que, com mais um pouco de amor e carinho, a estrutura e desenvolvimento da narrativa teria sido melhor potenciada.


Fort Solis foi lançado no dia 22 de agosto de 2023 para Playstation 5, PC e a versão Mac OS tem data marcada para 26 de outubro de 2023.


Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para PC, gentilmente cedido pela Dear Villagers.

Latest in Sports