Detective Pikachu Returns


Ainda me lembro bem de olhar bem, mas mesmo bem de lado para o anúncio de Detective Pikachu na Nintendo 3DS. Certo, a série Pokémon tem mais spin-offs e projetos entre vários média e merchandise que sei lá o quê, mas ainda assim achava o conceito... estranho. Joguei-o com alguma curiosidade, algum receio mas até acabei por gostar, mesmo que não fosse a coisa mais memorável de sempre. Mas foi o suficiente para querer ver a adaptação ao cinema com bastante mais interesse do que quanto tinha sido com o jogo. E desde então pensava "mas, onde raio anda a sequela disto?", até porque bem sabíamos que era apenas uma questão de tempo... Mas pronto, eis que cinco anos depois chega Detective Pikachu Returns.


A aventura começa sensivelmente dois anos após os eventos do primeiro jogo, bem sumarizados pelo nosso detetive Pikachu que em poucos minutos nos mete a par dos momentos chave dessa aventura, fazendo com que não seja preciso jogar esse título. E caso só tenham visto a adaptação do jogo ao grande ecrã… convenhamos que o filme seguiu um rumo algo diferente, por isso não vale muito a pena lembrar-nos do que vimos lá. Temos então o Detective Pikachu de regresso, juntamente com o seu vício em beber café, uma incrível capacidade de dedução face aos mais variados mistérios e equipado com o seu icónico chapéu à Sherlock Holmes. Consigo tem o seu parceiro Tim Goodman, este que consegue perceber perfeitamente o que Pikachu está a dizer, uma incrível habilidade que os ajuda a desvendar os vários mistérios e crimes que Ryme City parece atrair. E logo no início temos um breve mistério para resolver, que nos apresenta as principais mecânicas do jogo na perfeição, naquela que parecia ser apenas uma cerimónia a honrar os feitos que o nosso duo de heróis conseguiram no jogo anterior. O mistério sobre o paradeiro de Harry Goodman, pai de Tim e um excelente detetive, continua a pairar nos pensamentos de todos, uma história que é agora aprofundada.

Sendo uma aventura gráfica, o principal sumo do jogo é andar pela cidade e recolher pistas que nos permitam, depois, construir um caso sólido para as nossas deduções. Partimos de um local de crime danificado e com pistas o suficiente para criar um fio condutor, sendo claro para onde temos de ir a seguir e encontrar mais pistas, sejam elas marcas ou provas deixadas por Pokémon ou pelos humanos. Por vezes temos de analisar a cena do crime, olhando para o ecrã à procura de algo que nos chame à atenção como se fosse um jogo point-and-click, que geralmente são elementos ou objetos bastante óbvios. Se são fãs de Ace Attorney a jogabilidade é, na prática, os momentos de investigação e exploração dessa série, com a adição de um momento de dedução onde construímos o nosso caso para chegar a uma conclusão. Equipados com um bom bloco de notas organizamos as nossas pistas, deduções e construímos um caso, mas mesmo que falhemos a escolher a dedução certa o jogo não nos penaliza e simplesmente indica-nos que não estamos a pensar bem. 


Exploramos bastante a Ryme City, interagindo com os seus habitantes muitas vezes à procura de soluções para o nosso caso. É uma exploração bastante linear, com uma câmara fixa que me recordava sempre das aventuras gráficas, onde um dos principais problemas do jogo é que estamos constantemente a andar para a frente e para trás e a repetir os mesmos cenários, muitas vezes porque alguém referiu algo e lá têm Tim e Pikachu de percorrer meia cidade para ir buscar uma pista concreta. São momentos onde geralmente controlamos Tim, acompanhado por Pikachu que por vezes nos chama à atenção de algo que quer partilhar, seja algo que tenha visto ou se tenha lembrado. Por vezes controlamos Pikachu ao “colo” de outro pokémon, usando as suas habilidades para encontrar pistas que Tim nunca conseguiria descobrir. São momentos interessantes que, embora não mudem muito o jogo, exploram os diferentes pokémon e tiram partido das suas capacidades, sempre dentro do tema de investigação e mistério. Há ainda breves momentos de ação, onde somos colados em sequências caricatas com vários Quick Time Events à mistura, algo que pensaria não ver nos tempos de hoje e que, sinceramente, não tenho saudades… mas aqui estamos.

Acima de tudo é uma aventura a pensar nos mais novos, os casos são do mais fácil e simples possíveis e é tudo sempre muito linear. Ao mesmo tempo sinto que é um jogo pensado num mercado mais ocidental, o estilo artístico e à semelhança do primeiro jogo que embora seja notório um salto de qualidade, não é de todo um jogo surpreendente, aproxima-se mais às séries de animação infantis que passam nas nossas televisões, que fogem muito aos visuais japoneses a que estamos habituados na série. Mesmo Ryme City lembra-nos muito facilmente de uma cidade que encontraríamos em França, por exemplo. Não é um jogo rico em detalhe, por vezes há cinemáticas mais detalhadas onde notamos que se trata mesmo de um vídeo, embora os visuais sejam idênticos ao da jogabilidade.


Já no campo audio o jogo apresenta-se e muito bem, com uma banda sonora que varia em belos temas de jazz e outros mais épicos, quando estamos prestes a desvendar o caso. É também um jogo rico em voice-acting mesmo em momentos onde esperaria ver apenas um balão de texto, mas é algo que conseguiram trazer e bem. Tendo dado oportunidade tanto às vozes inglesas como japonesas, ambas bastante boas, preferi jogar em inglês por sentir que se enquadrava melhor no espírito do jogo. Infelizmente é novamente uma oportunidade perdida em acrescentar mais línguas ao jogo, entre elas o português, mas esse já é uma história com barbas.

Os diálogos falados enriquecem muito a história do jogo, que conta com uma narrativa também ela a pensar nos mais novos, sem grandes surpresas ou plot-twists mas que está bem escrita, mesmo quando por vezes temos algo óbvio à nossa frente que os envolvidos ainda não se aperceberam (algo que também acontece em Ace Attorney ou outros jogos de dedução)a. E é uma história curta, quando damos por ela estamos a arrancar para os momentos finais, mas por norma em grande parte do jogo somos acompanhados por um interessante leque de personagens com quem vamos interagindo, entre eles a mãe e irmã de Tim que vêm dar uma certa ajuda ao nosso duo de protagonistas. Há algumas missões secundárias, breves casos que nos levam a conhecer ainda mais pessoas e os seus pokémon, mas que conseguimos resolver em breves minutos. Não vou revelar muito mais e recomendo vivamente que partam para o jogo sabendo o mínimo possível, mas não esperem daqui uma história que vos vá chocar, até porque muitas vezes já sabemos quem é são os responsáveis por determinados eventos bem antes de serem revelados como culpados.


Foram cinco anos de espera desde o jogo da 3DS, que resultam agora em mais casos para Detective Pikachu e Tim aperfeiçoarem os seus dotes de investigação. Se gostaram do primeiro jogo, ou até mesmo do filme, recomendo muito vivamente que joguem este título. Nem que seja para seguir os pequenos passos de um presunçoso Pikachu viciado em café!


Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Nintendo.

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