Detective Pikachu Returns
Ainda me lembro bem de olhar bem, mas mesmo bem de lado para o anúncio de Detective Pikachu na Nintendo 3DS. Certo, a série Pokémon tem mais spin-offs e projetos entre vários média e merchandise que sei lá o quê, mas ainda assim achava o conceito... estranho. Joguei-o com alguma curiosidade, algum receio mas até acabei por gostar, mesmo que não fosse a coisa mais memorável de sempre. Mas foi o suficiente para querer ver a adaptação ao cinema com bastante mais interesse do que quanto tinha sido com o jogo. E desde então pensava "mas, onde raio anda a sequela disto?", até porque bem sabíamos que era apenas uma questão de tempo... Mas pronto, eis que cinco anos depois chega Detective Pikachu Returns.
Sendo uma aventura gráfica, o principal sumo do jogo é andar pela cidade e recolher pistas que nos permitam, depois, construir um caso sólido para as nossas deduções. Partimos de um local de crime danificado e com pistas o suficiente para criar um fio condutor, sendo claro para onde temos de ir a seguir e encontrar mais pistas, sejam elas marcas ou provas deixadas por Pokémon ou pelos humanos. Por vezes temos de analisar a cena do crime, olhando para o ecrã à procura de algo que nos chame à atenção como se fosse um jogo point-and-click, que geralmente são elementos ou objetos bastante óbvios. Se são fãs de Ace Attorney a jogabilidade é, na prática, os momentos de investigação e exploração dessa série, com a adição de um momento de dedução onde construímos o nosso caso para chegar a uma conclusão. Equipados com um bom bloco de notas organizamos as nossas pistas, deduções e construímos um caso, mas mesmo que falhemos a escolher a dedução certa o jogo não nos penaliza e simplesmente indica-nos que não estamos a pensar bem.
Acima de tudo é uma aventura a pensar nos mais novos, os casos são do mais fácil e simples possíveis e é tudo sempre muito linear. Ao mesmo tempo sinto que é um jogo pensado num mercado mais ocidental, o estilo artístico e à semelhança do primeiro jogo que embora seja notório um salto de qualidade, não é de todo um jogo surpreendente, aproxima-se mais às séries de animação infantis que passam nas nossas televisões, que fogem muito aos visuais japoneses a que estamos habituados na série. Mesmo Ryme City lembra-nos muito facilmente de uma cidade que encontraríamos em França, por exemplo. Não é um jogo rico em detalhe, por vezes há cinemáticas mais detalhadas onde notamos que se trata mesmo de um vídeo, embora os visuais sejam idênticos ao da jogabilidade.
Já no campo audio o jogo apresenta-se e muito bem, com uma banda sonora que varia em belos temas de jazz e outros mais épicos, quando estamos prestes a desvendar o caso. É também um jogo rico em voice-acting mesmo em momentos onde esperaria ver apenas um balão de texto, mas é algo que conseguiram trazer e bem. Tendo dado oportunidade tanto às vozes inglesas como japonesas, ambas bastante boas, preferi jogar em inglês por sentir que se enquadrava melhor no espírito do jogo. Infelizmente é novamente uma oportunidade perdida em acrescentar mais línguas ao jogo, entre elas o português, mas esse já é uma história com barbas.
Os diálogos falados enriquecem muito a história do jogo, que conta com uma narrativa também ela a pensar nos mais novos, sem grandes surpresas ou plot-twists mas que está bem escrita, mesmo quando por vezes temos algo óbvio à nossa frente que os envolvidos ainda não se aperceberam (algo que também acontece em Ace Attorney ou outros jogos de dedução)a. E é uma história curta, quando damos por ela estamos a arrancar para os momentos finais, mas por norma em grande parte do jogo somos acompanhados por um interessante leque de personagens com quem vamos interagindo, entre eles a mãe e irmã de Tim que vêm dar uma certa ajuda ao nosso duo de protagonistas. Há algumas missões secundárias, breves casos que nos levam a conhecer ainda mais pessoas e os seus pokémon, mas que conseguimos resolver em breves minutos. Não vou revelar muito mais e recomendo vivamente que partam para o jogo sabendo o mínimo possível, mas não esperem daqui uma história que vos vá chocar, até porque muitas vezes já sabemos quem é são os responsáveis por determinados eventos bem antes de serem revelados como culpados.
Foram cinco anos de espera desde o jogo da 3DS, que resultam agora em mais casos para Detective Pikachu e Tim aperfeiçoarem os seus dotes de investigação. Se gostaram do primeiro jogo, ou até mesmo do filme, recomendo muito vivamente que joguem este título. Nem que seja para seguir os pequenos passos de um presunçoso Pikachu viciado em café!
Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Nintendo.