Super Mario Bros. Wonder


Super Mario: um nome que não precisa quaisquer apresentações, que com quase 40 anos desde a sua estreia na NES tem vindo a acompanhar gerações de jogadores, através das mais variadas consolas lançadas pela Nintendo. Está sempre presente, quer através de jogos de plataformas ou nos imensos spin-offs lançados, ou até este ano na sua grande estreia no cinema de animação, cujo sucesso foi imediato. Uma série que me acompanhou a vida toda, mesmo quando em criança jogava principalmente Sonic the Hedgehog, um rival à altura mas que agora até se vai cruzando com o canalizador. No meio de tantas experiências, mundos e universos a que Super Mario foi exposto, temos novamente um jogo que volta às origens da série com Super Mario Bros. Wonder, jogo que antes do seu anúncio, enquanto era apenas um rumor, eu estava bastante cético!


Muito honestamente, a série New Super Mario Bros. cansou-me... Mas esperem, o original na Nintendo DS foi um dos jogos que mais joguei na plataforma, nem que fosse pelo modo Vs. ou os minijogos que vinham incluídos, um vídeo que levava sempre comigo para umas partidas "amigáveis" nos cafés do Porto. Mesmo a sua sequela na Wii agarrou-me, pois podia jogar um clássico de plataformas com mais 3 amigos. O meu cansaço veio nos lançamentos para a 3DS e na Wii U, este que recebeu ainda um port para a Nintendo Switch. Foi aí que olhava para a série New e pensei que já chegava, já era demais. Repetir exatamente os mesmos cenários, níveis parecidos numa premissa quase igual, matou muito do meu entusiasmo em receber novos jogos de plataformas 2D de Super Mario.

Um sentimento agridoce que me ficou, assim, meio que adormecido, até que surgem os primeiros rumores de um novo jogo em 2D. Disse para mim mesmo "não é preciso, já chega, façam um novo Odyssey, Galaxy ou algo completamente diferente", pois não queria mais um New. Só que... tudo mudava com o primeiro trailer desta nova aposta, que relembro ter sido lançado apenas há 4 meses. Sim, era um novo Mario de plataformas "à antiga" onde 4 jogadores podiam jogar ao mesmo tempo, mas a sensação que aquele pequeno, mas eficiente trailer me transmitiu, é que efetivamente estava perante algo novo, muito devido às mecânicas apresentadas como a de Wonder, que dá nome ao jogo, ou a direção artística do jogo que me convenceu de imediato.


Tudo acontece numa simples visita ao Reino Flor, vizinhos do Reino Cogumelo e uma boa mudança de ares para que, como eu, já está um pouco farto que todos os problemas têm de acontecer no reino da Peach. Mario e companhia são recebidos pelo Príncipe Florian que apresenta a misteriosa Flor Fenomenal, momento rapidamente interrompido pois Bowser surge, rouba essa mesma flor e, através do seu poder, funde-se com o castelo do reino, semeando logo o caos por toda a região através de um conjunto de… megafenómenos. Ultrafenómenos? Bem, adiante. Em poucos minutos temos Mario e companhia prontos para a ação e salvar esse reino das garras de Bowser. É uma aventura onde além de Mario e Luigi podemos jogar com Peach, dois Toads, Toadette e estreando-se pela primeira vez num jogos de plataformas, Daisy! Há ainda o Yoshi com diferentes cores à escolha e o Coelharápio, também jogáveis, personagens estas que não podem usar os poderes especiais do jogo, mas são invencíveis contra danos provocados por inimigos, sendo a escolha perfeita para quem não esteja habituado a jogos de plataformas ou para os mais novos. Aqui todas as personagens são viáveis, nenhum nível é impossível completar por termos usado um Yoshi, embora vários dos segredos do jogo são apenas possíveis pois temos o poder especial certo para os conseguir.

Mas, afinal, o que mudou face aos New Super Mario Bros.? Bem, tudo! Começando pelo essencial, Super Mario Bros. Wonder é uma recriação perfeita da jogabilidade dos Mario de plataformas clássicos onde os controlos são precisos e temos uma perfeita noção de como movimentar a personagem, seja a correr, saltar, ao mudar de direção ou quando usamos as transformações. Não tem aquele “deslize” muito característico da série New que levava as personagens a derraparem sempre, nem temos os encontrões ou o poder agarrar nos outros jogadores, eliminando frustrações frequentes, algo que parcialmente até sinto algumas saudades, mas boas notícias para quem jogar comigo. Há também uma direção artística incrível que vai até ao mais pequeno detalhe onde, por exemplo, tanto as personagens como os inimigos foram feitos em 3D, mas desenhados de modo a serem vistos nas perspectiva 2D apresentada pelo jogo, como se fossem sprites de um jogo da Super Nintendo.


São imensos os pequenos detalhes que tornam o mundo vivo, as reações dos inimigos quando nos vêm derrotar alguém mesmo à sua frente, ou quando uma bola de fogo ameaça as suas vidas, apenas para passar por cima deles. Tudo é extremamente bem animado, como se tratasse de ilustrações ou filmes de animação tradicionais, desde o salto que nos lembra das capas dos jogos de Super Mario para a NES, o correr onde há um exagero no número de pés apresentados, ou um simples entrar (e sair) de um tubo conta com pequenas interações diferentes. Se há estilo a ponderar para uma transição da série Mario & Luigi para o 3D, temos aqui um exemplo perfeito de como o fazer!

Visuais à parte, o que mais me agarrou em Super Mario Bros. Wonder foram os seus níveis e os layouts dos mesmos. Entre todos os níveis disponíveis, fora um ou outra excepção nunca senti que eles se repetiam, em todo o jogo haviam sempre novas surpresas únicas daquele nível, ou no caso de repetirem surgiam adaptadas ao novo nível em questão. Mesmo dentro de cada zona do mapa os estilos dos níveis variavam imenso, não repetindo pela enésima vez o mesmo nível de deserto até nos vermos livres daquela região, ou não nos fazendo atravessar a mesma planície vezes sem conta. É fácil recordar-me de diferentes momentos nos níveis, lembrar-me quase de cor onde estão os segredos que me fizeram pensar um bom bocado, até descobrir a sua solução. Algo que nos New não acontecia, onde confundia sempre os níveis. Não sentia algo assim desde Super Mario World, jogo que devorei por completo, que o sei de cor de uma ponta a outra, onde sempre que volto recordo-me perfeitamente onde estão os segredos todos e, agora, sinto que o mesmo acontecerá com Wonder.


O que seria um Super Mario sem os seus poderes especiais entre fatos e transformações. Em Wonder temos o regresso da flor de fogo, que não poderia faltar, tal como o Supercogumelo ou a icónica super estrela de invencibilidade. Há um leque de novos poderes especiais como a flor de bolha, que nos permite lançar bolhas para pender inimigos ou usá-las como plataformas, o cogumelo broca que nos faz andar pelo chão ou teto mas, o mais icónico é sem dúvida o poder da maçã elefante, onde nos transformamos num elefente com grande poder destrutivo e podemos até usar a nossa tromba para transportar água! Acompanhando isto tudo temos as insígnias, poderes especiais extra que podemos equipar para usar uma habilidade especial como um parachapéu que nos permite planar, outra que nos permite nadar como um golfinho, um lança-trepadeiras para nos agarrarmos às paredes… são várias as insígnias e nenhuma é obrigatória, fora para níveis temáticos que põem em prática a nossa destreza com certas habilidades, mas são uma ajuda fundamental. Há ainda outras insígnias com poderes que nos indicam onde há segredos, outras que criam blocos nos níveis ou ainda uma que nos dá moedas sempre que derrotamos inimigos e, ainda, insígnias avançadas como uma que nos torna totalmente invisíveis (até para nós) ou outra que nos faz correr sem parar, criando desafios adicionais.

E o que torna Wonder tão… bem… Maravilhoso? Em cada nível temos uma Flor Fenomenal que muda completamente o jogo, desde efeitos visuais a mecânicas que mudam a forma de jogar! A nossa primeira introdução a este fenómeno dá vida ao cenário, animando canos que parecem minhocas a rastejar pelo chão… e isto foi das coisas mais normais que vi no jogo todo. Temos chuva de hipopótamos, manadas de criaturas, níveis que mudam completamente a perspectiva, onde as paredes são o chão, podemos até mesmo ser transportados para uma realidade completamente diferente, ou simplesmente assistir a um concerto onde temos de saltar ao ritmo da música. Há ainda todo um leque de transformações que mudam não só o nosso aspeto como a jogabilidade, transformando-nos em rochas, uma gosma ou até mesmo um goomba! E, por algum motivo, as flores tagarelas presentes em literalmente todo o lado do jogo perguntavam-me a que é que eu sabia, quando assumia estas novas formas. Houve uma que me questionava mesmo se tudo o que tinha acontecido era uma alucinação, palavra mais que certa para descrever todos estes momentos do jogo.


Aproveitando esta deixa algo… bizarra, temos aqui um Super Mario localizado em português, tanto de Portugal como do Brasil! Ter os jogos na nossa língua tem sido um pedido constante desde o lançamento da Switch, que via apenas alguns jogos localizados em ports de jogos Wii U que já tinha recebido esse trabalho originalmente. Certo, este não é propriamente um jogo pesado a nível de texto, nem conta com diálogos extensos, mas no decorrer dos níveis somos acompanhados pelas tais flores tagarelas que têm por hábito comentar o que está a acontecer, dar-nos ânimo e algumas dicas, lançam perguntas ao ar ou expõem para todo o mundo os seus pensamentos mas profundos. E caso elas vos irritem, podem desativar as suas vozes e até mesmo esconder os seus diálogos. Mesmo sendo de menor quantidade, está aqui um ótimo trabalho de localização que espero que se mantenha bem presente nos próximos jogos da Nintendo, pois peca apenas pela demora. Falando ainda de vozes, esta foi a estreia de novidades no elenco como a de Kevin Afghani, que substitui Charles Martinet no papel de Mario e Luigi e, sem sombra de dúvidas, que fez um trabalho incrível onde sinceramente não sentia que havia esta mudança, se não tivesse sido anunciado. Referindo ainda a localização em português, ela é muito bem vinda para convidar os jogadores mais novos ao mundo de Super Mario, onde facilmente vejo os fãs dos jogos originais, que agora são pais, a partilharem a sua aventura com os seus filhos.

Este é um jogo multijogador local, mas há uma forte mecânica de jogo online que, bem, na prática é como se estivéssemos a jogar multijogador online. A principal diferença ao jogar online, onde podemos criar uma sala para jogar entre amigos, é que os outros jogadores são silhuetas que não interagem diretamente conosco, mas quando um jogador perde ele transforma-se num fantasma que pode ser resgatado e, inclusive, podemos partilhar os nossos power-ups com os restantes jogadores. De resto podemos ainda tornar o nível numa corrida para ver quem chega mais depressa à reta final, mas o que mais gostei do modo online e da interação com os outros jogadores era quando deixava painéis com a minha personagem, podendo dar a dicar que saltar num sítio específico apresentava um bloco escondido, ou dar a ideia que um precipício era na realidade um caminho secreto. Lembrou-me de certo modo da série Dark Souls onde os jogadores partilhavam dicas para certas partes dos níveis e, à semelhança do jogo da From Software, nada nos impedia também de trollar os restantes jogadores, pois afinal aquele buraco no chão era efetivamente uma queda e o seu destino a morte. Mas conto sempre com a boa fé dos jogadores, até porque recebemos um ranking no jogo pelas nossas boas ações.


Onde senti que o jogo pecou foi na quantidade de bosses, que são muito poucos e, embora contem com mecânicas diferentes, alguns parecem repetidos. Mesmo alguns níveis contam com um desafio final que não é bem um boss, embora me recorde muito dos combates nos castelos do primeiro Super Mario Bros., mas que concluí sem quaisquer dificuldades. Ainda assim, e mesmo que simples, o combate final é incrível e deu-me uma boa dose de hype enquanto combatia, muito devido à direção artística do jogo e o que estava a acontecer no cenário. Mas faltaram mais combates assim, diferentes e, ainda, com alguma dificuldade acrescida, para um jogo que foi buscar tantas influências à série inteira, faltou olhar para os bosses de Super Mario Galaxy ou Odyssey e pensarem "como transformar este boss incrível, num Mario em 2D?"

Até porque Super Mario Bros. Wonder nem é um jogo muito desafiante. Ou melhor, chegar ao fim é possível com uma ou outra more registadas. Nem temos de fazer os níveis mais complicados para apanhar as Sementes Fenomenais que nos abrem caminho para progredir no jogo, pois há muitas outras À disposição. O desafio surge quando queremos fazer tudo a 100%, enfrentar os níveis de maior dificuldade, ou conseguir encontrar todas as sementes e as três decamoedas flores, muitas delas escondidas de tal forma que me fez estar sempre equipado com a insígnia que apitava sempre que havia um segredo. Difícil ou não, há imenso replay-value neste jogo, por nos escapar algo, ou apenas para jogar com amigos pois este é um jogo extremamente divertido. E mesmo que os Yoshi possam ser vistos como personagens para tornar o jogo mais acessível, contam com as suas próprias habilidades de engolir inimigos ou até poderem ser usados tal como em Super Mario World, onde Mario andava às cavalitas do Yoshi, só que desta vez controlado por outro personagem e… até mesmo Yoshis podem andar às cavalitas de outros.


Em palavras que vejo ecoar nestes dias, Wonder é a verdadeira sequela de Super Mario World, que surge 33 anos depois, com direito a passar a tocha pois é, sem dúvida, o melhor Super Mario 2D desde então. Dos controlos aos cenários, o modo como navegamos pelo mapa do mundo que nos permite, até, escolher entre níveis diferentes ou até mesmo explorar o mapa por uma ordem diferente. Há níveis que nos recordam do clássico da Super Nintendo, são muitos os segredos à nossa espera tanto nos níveis como no mapa do mundo, até os momentos de conclusão de cada área me fazia viajar no tempo, quando via Mario destruir mais um castelo onde tinha acabado de resgatar um ovo de Yoshi. Tenho estado extremamente nostálgico nestes dias muito por causa deste jogo e, à semelhança do World, não vou descansar até descobrir todas as surpresas do jogo, até o completar a 100%.

Este tem sido um ano incrível para os fãs de videojogos, onde pensei que todos os meus favoritos já estavam mais que definidos até que aparecem belas surpresas pelo caminho, sejam de estúdios grandes como dos mais independentes. Super Mario Bros. Wonder é mais um jogo obrigatório deste ano e que me deixa extremamente feliz, pois é a prova que ainda se fazem incríveis jogos de plataformas 2D!

Nota: Análise efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Nintendo.

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