Ni No Kuni II: Revenant Kingdom


Ni No Kuni, lançado inicialmente em 2010 para a Nintendo DS no Japão e depois para a PlayStation 3 em todo o mundo, foi uma bem sucedida colaboração entre a Level 5 e um dos estúdios de animação com melhor reputação, Studio Ghibli. Entre relançamentos e localizações, passaram oito anos até recebermos uma sequela, agora com a Level 5 a solo neste novo Ni No Kuni II: Revenant Kingdom.

Tudo começa no mundo "real", quando Roland, o presidente de uma união de países, presencia um devastador ataque à cidade da qual se aproxima na viatura oficial. Quando dá por si, Roland está em Ding Dong Well, no quarto do jovem rei Evan, ainda criança. Curiosamente, também aqui está a ser preparado um ataque contra o rei e, embora consigamos ajudar Evan, mas a custo de ter de abandonar o reino. A trama é mais complexa, mas em suma e sem desvendar muito, o jogo coloca-nos ao lado de uma criança que é um rei sem reinado, mas que não procura a vingança. O rei Evan quer, sim, criar um novo reino onde todos possam viver felizes para sempre.


Simples, inocente até, este jogo procura trazer um rasgo de optimismo num universo de jogos sombrios, quando o próprio género de RPG japonês em que se insere foi um dos primeiros a procurar a história mais trágica possível. Revenant Kingdom é um conto de fadas sobre a construção de um reino, uma agradável aventura que não procura ser épica, mas consegue ser lindíssima. O jogo é simplesmente deslumbrante, com um grafismo cel-shaded que recria na perfeição o estilo de animação dos estúdios Ghibli. Curiosamente, o jogo combina esse estilo com cenários pseudo-realistas, dos quais nos apercebemos melhor quando estamos a controlar a personagem pelo mundo exterior.

Passo a explicar. Ao longo do jogo, iremos alternar constantemente entre duas perspetivas e estilos artísticos. A primeira, em terceira pessoa, acompanha de perto as nossas personagens e parece-se tal e qual com um filme de animação. É a que visualizamos nas partes importantes do jogo, seja em vilas ou em grutas, sequências de história e batalhas. É lindo! Honestamente, o jogo não é muito exigente mesmo para correr com tudo no máximo, mas visualmente é mesmo impressionante. Cores vibrantes, personagens detalhadas e efeitos de luz por todo o lado durante o combate... não me canso de o dizer: é lindo!

A outra perspetiva foi algo que me assustou à primeira vista, mas eventualmente me conquistou. Quando estamos no mundo exterior, ou seja, o "overworld" do jogo, temos uma perspetiva vista de cima, com as personagens em formato chibi, corpos pequenos e cabeças grandes. Podemos ver os inimigos pelo mapa e, tal como em qualquer JRPG tradicional, entrar em batalha com eles com uma transição de perspetiva. É visualmente inconsistente, mas uma forma inteligente de evitar grandes problemas de fluidez ao renderizar um mapa tão expansivo, além de potenciar outras funcionalidades e mecânicas importantes do jogo. Além disso, quando todos os grandes títulos procuram uma experiência de mundo aberto, é agradável testemunhar uma abordagem tão "retro".


Sendo um RPG japonês de ação, as batalhas são uma componente fundamental para que o jogo se mantenha interessante. O sistema tem algumas particularidades, mas é fácil de aprender. Resumidamente, cada personagem conta com três armas de curto alcance, as quais irá alternando ao longo da batalha, e uma de longo alcance. Os movimentos são rápidos e, além de atacar, podemos optar por bloquear um ataque ou simplesmente desviar. Há ainda um conjunto de "skills" para utilizar ataques especiais com caraterísticas elementais, o equivalente às magias neste jogo.

Mas não é tudo: além das personagens da equipa, temos também um conjunto de pequenas criaturas, chamadas higgledies. Estas agem de forma autónoma e vão atacando os nossos adversários, mas também criam oportunidade de lançar ataques especiais muito fortes, sendo que teremos de nos aproximar delas e comandar o ataque quando surge a oportunidade. Nada que vá ser muito difícil pois o jogo, em geral, é muito fácil. Houve aqui algum zelo, talvez demasiado, em assegurar que o jogo não seria frustrante e que os jogadores mais novos o pudessem passar sem grandes problemas. Na realidade, para encontrar o ecrã de Game Over, tive de me aventurar contra um inimigo 15 níveis acima da média da equipa, pelo que a maioria dos jogadores não terá dificuldade em avançar pela história principal. O lado positivo é que os inimigos muito mais fracos também não atacam, poupando a canseira de entrar em batalha em zonas previamente exploradas.


Evan não quer combater, mas o jogo a isso obriga, pois um reino não se constrói só porque o rei assim o deseja. Por esse motivo, deverá construir um exército para defender o reino e combater em diversas escaramuças que vão surgindo. Estas são muito peculiares, pois ocorrem no mundo exterior com os exércitos "chibi" a combater. Em parte, é como um minijogo dentro do jogo, mas está bem integrado na história e temática de erguer um reino e elevar a sua reputação.

O mais importante, claro, é a construção do reino propriamente dito. Este não se trata de um jogo de contrução ao estilo Minecraft, diga-se, até não há muita personalização a fazer. Conforme se avança na história, os dramas que se vão desenrolado envolvem principalmente a procura de alianças para o crescimento do reino. Ao mesmo tempo, os habitantes do novo reino vão ocupando os diversos edifícios que vamos construindo, permitindo criar novos itens como armamento ou alimentos, por exemplo.

Quanto mais melhoramos o reino, maior será a sua reputação e mais personagens se irão mostrar dispostas a ir para lá viver e trabalhar. Muitas delas, porém, irão pedir a resolução de alguma side quest antes de as podermos recrutar. Felizmente, para os menos pacientes, existe um mecanismo de resolução rápida destas missões, que nos recompensa com tokens de felicidade que, por sua vez, nos deixam recrutar mais rapidamente novos elementos. Quanto mais gente a viver no reino, mais dinheiro e recursos este irá gerar, ficando assim mais perto da prosperidade.


À data desta análise, não terminei ainda a história principal, embora a estrutura do jogo permita facilmente estimar uma duração entre as 30 e as 40 horas. Entre avançar na história propriamente dita e cuidar da gestão do reino, o jogo oferece um ritmo calmo, sem urgência. É um jogo fácil, mas com uma jogabilidade interessante que mantém a experiência agradável. Ao mesmo tempo, pela sua estrutura, recupera muito do que era bom nos clássicos de séries como Final Fantasy ou Dragon Quest, apesar de muitos elementos modernos na jogabilidade.

Ni No Kuni II: Revenant Kingdom é um dos jogos mais bonitos dos últimos anos, combinando a inspiração no universo Ghibli com os grandes clássicos do género. Embora seja especialmente acessível a um público mais juvenil, não deixo de o recomendar a todos, independentemente da idade, pois o seu charme irá agarrar qualquer um até ao fim.

Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para PC via Steam, gentilmente cedido pela Bandai Namco Entertainment.

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