Persona 5
É difícil nunca ter ouvido o nome Persona, um RPG onde adolescentes são capazes de invocar demónios enquanto vivem o seu dia-a-dia normalmente indo às aulas, fazendo exames e lidar com todo um leque de dramas pessoais e dos que os rodeiam. Foi com Persona 3 na PS2 que a série recebeu um bom boost de popularidade, principalmente por cá, e agora conta com uma boa legião de fãs que aguardam o próximo capítulo, enquanto vão recebendo jogos de dança, luta, séries de animação e até mesmo RPGs alternativos, como Persona Q.
A primeira reação ao jogo são os visuais, que para um jogo de PS3 (com melhorias na PS4) está incrível! Há imenso detalhe desde os personagens aos cenários, criando uma grande imersão no jogo que é ajudada pela banda sonora, que troca o pop de Persona 4 por jazz e funk, enquanto passeamos pela cidade. Todo, mas todo o jogo grita estilo, com um design excelente desde os simples huds às transições entre menus que são todos animados, juntamente com transições fluídas entre ecrãs. Durante as mais de 120 horas que tive de jogo não contei com um único momento parado, aborrecido ou estático, em que até mesmo os loadings (rápidos) são animados e demonstram bem o quotidiano em Tóquio, tal como vão dando breves dicas sobre o desenrolar da história.
Tal como nos restantes capítulos há um grande hábito de criar e explorar mitos urbanos, o que me agarra imenso, e tal é devidamente explorado numa cidade habitada por milhões de habitantes! Encontrei-me no meio de dois acontecimentos: um em que algumas pessoas ficavam estranhas, apáticas, levando até mesmo à sua morte, e outro dos misteriosos Phantom Thieves, o grupo composto pelos protagonistas, que são o tema central do jogo. Eles aparecem como uma espécie de justiceiros, capazes de roubar corações no sentido que conseguem mudar qualquer pessoa de modo a expor os seus crimes ou segredos mais obscuros. A sua popularidade tem muita importância no jogo, e estes Phantom Thieves são capazes de entrar em Palaces, representações do subconsciente dos seus alvos, habitados por inúmeros demónios. A exploração destas masmorras é bastante boa, com alguns puzzles simples mas interessantes, e salvo raras ocasiões não era repetitivas.
As habilidades dos personagens são vitais nos combates e Persona 5 mostra bem as suas raízes da série SMT, onde temos de criar vantagem sobre os inimigos tirando partido das suas fraquezas, de modo a ganhar turnos extra. O jogo demonstra na perfeição como fazer um bom RPG à antiga por turnos com um sistema de menus acessível e extremamente rápido de usar, o que faz com que as batalhas tenham um excelente ritmo e fluidez, sem um único momento lento. Dá um prazer enorme enfrentar inimigos quer pela velocidade das batalhas, e também devido às excelentes músicas. Algumas batalhas, principalmente os bosses, foram as mais memoráveis dos meus últimos anos dentro do género!
Tal como os outros main characters, Joker é capaz de invocar e usar vários personas durante o combate e fazer fusões entre eles, mas para tirar partido disto tudo convém estabelecer fortes laços sociais com os vários personagens que vamos conhecendo ao longo do jogo, sejam jogáveis ou não. Estes já tradicionais Social Links conseguiram-me cativar imenso no jogo, tendo gostado de praticamente todos ao contrário do que aconteceu com os 2 jogos anteriores! Desta vez também não perdemos afinidade caso ignoremos um ou outro personagem, o que para mim foi um alívio pois com tantas atividades por onde escolher acabava por não ter tempo para tudo. Até porque convinha aumentar os parâmetros do personagem através de estudos ou comer hamburgers gigantes, de modo a ser devidamente respeitado e desbloquear ainda mais Social Links, entre outras coisas.
Mas algo que tenho vindo a referir durante a análise é a banda sonora, sem dúvida a minha favorita do ano! Desde os vários temas enquanto andamos a explorar a cidade ou masmorras, mas principalmente as músicas das batalhas, são todas memoráveis e encaixam perfeitamente no espírito do jogo. É daquelas bandas sonoras que dá vontade de ter e ouvir casualmente durante o nosso dia-a-dia, deixando alguma vontade de voltar ao jogo! A série habituou-nos a um bom voice acting e assim continua, desta vez com a opção de poder jogar em inglês ou japonês, e dei por mim a jogar com as vozes em japonês pois senti que se enquadrava melhor, embora não percebesse o que estava a ser dito em algumas situações (vozes de fundo, algumas frases nas batalhas) por não ter legendas.
Não podia haver melhor celebração dos 20 anos da série, e Persona 5 é um jogo obrigatório para os fãs do género, e também um ótimo título para os que habitualmente não jogam RPGs (principalmente japoneses) e querem experimentar algo dentro do género. Um jogo que nos chega numa altura em que os RPGs mais tradicionais parecem estar fora de moda, e que demonstra que ainda é possível fazer grandes jogos dentro do género com um aspecto muito moderno, sem um único ponto enfadonho nas imensas horas de jogo pela frente. A sensação que tive ao concluir o jogo (que me parece ser o consenso geral entre os fãs) é a de saudade e despedida de um bom grupo de amigos, ficando uma grande vontade de voltar ao jogo, aproveitar o New Game Plus e explorar ao máximo tudo o que deixei passar no jogo.