Destiny 2 - The Final Shape

Quando me vejo no fim de algum ciclo pessoal ou de algum projeto onde esteja envolvido, tenho por hábito olhar para trás, celebrar os pontos altos, avivar a memória em relação aos mais baixos, olhar para as pessoas que conheci e para as experiências que partilhei com elas para depois assimilar todas essas memórias, olhar em frente e abraçar o desconhecido.

Sempre achei este processo de validação pessoal importante porque resumir as nossas experiências a vitórias ou derrotas é demasiado redutor e injusto para com a magnitude de experiências que vamos guardando e com elas acumulando ensinamentos de forma a lidar com aquilo que desconhecemos e está “ali… mesmo ao virar da esquina”.

É por essa razão que me é impossível falar nesta (última?!) expansão do Destiny 2 sem olhar para o percurso, quer da Bungie, quer da sua criação na última década. São quase 10 anos de uma franquia que teve muitos altos mas também alguns baixos e é essa montanha-russa repleta de eventos que tornam a franquia Destiny como o maior caso de estudo para onde qualquer estúdio que tenha em mente desenvolver um “Game as a Service” deve olhar e estudar se quiser, pelo menos, entender este fenómeno recente da indústria dos videojogos.

The Final Shape para os jogadores é um fim de ciclo, para a Bungie uma oportunidade única e derradeira de acertar em cheio numa fórmula que durante anos foi aperfeiçoando, muito devido aos seus próprios percalços mas também devido à natureza do formato que o jogo tem.

O FIM DO FIM
Se o ano passado existiu uma certa desilusão em relação à campanha apresentada pela Bungie em Lightfall, que não foi muito bem recebida pela comunidade e media, aqui o caso muda de figura ficando a sensação de que o estúdio ficou-se pelo ""teaser trailer" em 2023 e meteu a carne toda no assador neste The Final Shape. Desde o início da campanha que se sente o tempo e a dedicação que a Bungie meteu neste fim de ciclo.

Composta por 7 missões, todas elas generosas em conteúdo e duração. São apresentados novos tipos de inimigos, os Subjugators, que se dividem em 4 unidades; os Grim, os Husk, os Attendant e Weaver. Cada um deles com diferentes abordagens e poderes, mas todos eles acrescentam nova dificuldade e diversidade à jogabilidade. Nem só dos novos lacaios do The Witness vive a campanha, que em boa verdade tem os seus momentos mais icónicos nas suas cutscenes, sejam elas in-game ou através de CGI.

Esta campanha acaba mesmo por ser a melhor de toda a história de Destiny. Tem drama, é pujante, sente-se a importância dos acontecimentos e que as ações, nossas e daqueles que nos acompanham nesta viagem, têm peso e consequência no grande final que nos é apresentado. O comandante Zavala é o protagonista principal desta história e é dele que saem os momentos mais icónicos que fazem avançar a narrativa até ao seu fim.

O fim da campanha não significa o terminar desta saga, tendo o jogador ainda de fazer uma quest de tamanho considerável até chegar à surpresa final que a Bungie guardou para a sua comunidade. Vale a pena!

NO CENTRO DO CORAÇÃO
O ex-libris de The Final Shape é sem dúvida alguma a sua nova localização. The Pale Heart é apresentado com poupa e circunstância durante toda a campanha, mas é ao terminá-la que podemos usufruir da caixinha de areia que a Bungie preparou para os jogadores. 

Vou usar uma expressão muito usada hoje em dia... A Bungie cozinhou, e de que maneira, esta nova localização. Libertou os jogadores de um fardo de décadas que eram as missões de patrulha; mata inimigos, recolhe essências, vai ali, vai acolá, faz scan daquilo e de mais não sei o quê. Foram 10 anos à espera de algo novo e no fim acontece. Ao explorarmos pela primeira vez The Pale Heart damos logo conta disso. A bitola habitual e rotineira das localizações anteriores não foi aqui aplicada. É verdadeiramente uma caixa de areia gigante pronta a ser explorada, com atividades à esquerda e à direita, todas elas a provocar a nossa atenção, mas sempre a imiscuírem-se de forma perfeita no ambiente onde se inserem. Tanto que assim é, que não foram nem uma, nem duas, nem três as vezes que me vi inesperadamente no meio de eventos sem estar minimamente ciente de que algo estava para acontecer ali.

A frescura mecânica de The Pale Heart é complementada artística e visualmente de forma arrebatadora e é composto por vários biomas, todos eles com a sua temática, as suas próprias adversidades e segredos para desvendar. A temática artística assenta no surreal, pois este mundo existe num lugar onde as memórias, os sonhos e os desenhos coabitam entre si. Tudo parece fora do lugar, com proporções por vezes exageradas, mas que olhando como um todo ou uma só entidade faz todo o sentido. Existem espaços que parecem quadros vivos à espera de ser contemplados não fosse a constante provocação dos inimigos. Terá sido esta porventura uma das razões que levaram à decisão de oferecer ao jogador, após conclusão da principal atividade de cada bioma, 5 minutos sem que haja qualquer spawn de inimigos ou atividades dando a possibilidade de desfrutar e explorar essas áreas sem qualquer tipo de distração. E tanto segredo que certamente está à espera de ser desvendado... aí a Bungie nunca falha.

UMA POR TODAS E TODAS POR UMA
Com esta nova expansão temos direito a uma nova subclasse, Prismatic. Ao contrário de todas as outras que foram apresentadas ao longo dos tempos, esta não traz consigo um novo super nem derivados. O que traz para cima da mesa é dar a habilidade de poder misturar poderes e aspetos de todas as cinco que já possuíamos, podendo o jogador escolher as suas habilidades preferidas ou as que são mais eficientes para o tipo de atividade que se esteja a jogar. O potencial é gigantesco, principalmente para aquele tipo de jogador que esta sempre atrás de potenciar ao máximo a sua build, mas, acima de tudo, permite agitar as fundações da sandbox do jogo e torná-la ainda mais divertida.

A verdade é que é isso mesmo que tem acontecido. Logo nos primeiros dias de jogo a comunidade já partilhou entre si builds extremamente poderosas que facilitam a vida aos guardiões até em atividades de mais dificuldade. Resta saber se a Bungie (que sempre gostou muito de usar o martelo dos buffs/nerfs) vê isto como um novo normal ou se brevemente terá que ajeitar o laçarote de todo este embrulho.

O que é certo é que até agora nunca tive vontade de trocar de subclasse desde que apareceu Prismatic e calculo que tão depressa não mudarei. É um dos muitos sucessos desta expansão.


A CEREJA NO TOPO DO BOLO
Um evento que se destaca sempre todos os anos é o pináculo das atividades PVE deste jogo, a raid.

Chama-se "Salvation's Edge" e é uma das, se não mesmo a raid que até agora trouxe mais desafio à comunidade. Que o digam as centenas de fireteams que se propuseram ao já infame desafio conhecido como ""World's First". Com o objetivo de terminar com sucesso a raid em primeiro lugar, foram várias horas de empenho, suor, lágrimas e alguns cérebros derretidos que culminaram com uma vitória da equipa Parabellum. Foram precisas 18 horas e 57 minutos para que isso acontecesse, estabelecendo um novo record de tempo e fazendo assim com que "Salvation's Edge" tenha sido a raid que mais tempo demorou a ser conquistada.

Uma nota de respeito ao sobejamente conhecido criador de conteúdo Aztecross e à sua fireteam que com muita bravura e alguma (muita!) loucura, mantiveram-se acordados durante 34 horas seguidas de modo a concluírem a raid dentro das 48 horas que dura este evento que foi mais uma vez transmitido em formato Twitch Rivals na Twitch.

"Salvation's Edge" é uma raid difícil, traz imenso desafio devido às mecânicas elaboradas que contêm e isso é bom porque tratando-se da maior e mais badalada atividade PVE do jogo, a tarefa de a acabar tem, para mim, obrigatoriamente de ser a mais desafiante para todos os jogadores, algo que em raids de outras expansões recentes nem sempre tem sido o caso.

O DESTINO CUMPRIDO
Mais do que a conclusão de uma história, podemos olhar para The Final Shape é um olhar auto crítico da Bungie a uma viagem que nem sempre correu bem, mas que por essa mesma razão acaba da melhor maneira possível. É tudo aquilo que o Destiny deveria ter sido, tudo aquilo que os seus jogadores queriam que fosse e que agora o é. É facilmente a melhor expansão que esta franquia teve até à data porque abraça a complexidade de uma década de lore e entrega a sua conclusão ao jogador com uma simplicidade que só está ao alcance dos melhores contadores de história.

Artisticamente ímpar, a nova localização é uma lufada de ar fresco nesta saga e não só. Visualmente provocativa, Pale Heart é a base que sustenta toda uma campanha que traz constantemente novas propostas à nossa retina com paisagens surrealistas e biomas diferenciados. Das cores mais vibrantes aos tons mais sombrios, existe de tudo um pouco e sempre sustentado pelo lore do jogo.

A nova subclasse Prismatic, apesar de alguns limites impostos pelo estúdio, combina poderes de outras subclasses para criar novas sinergias, dando ao jogador novas alternativas à sua forma de jogar e a nova Raid é o derradeiro desafio para qualquer jogador.

Destiny 2 assume a sua forma final com The Final Shape e conclui, com pompa e circunstância, um arco de história que foi acompanhado por milhares de jogadores ao longo de uma década. 

Destiny 2 - The Final Shape saiu no dia 4 de junho de 2024 para Playstation 5, Playstation 4, Xbox Series X|S, Xbox One e PC.

Nota: Análise efetuada com base no código final do jogo para PC, adquirido pelo autor do artigo.


Latest in Sports