Thimbleweed Park
Thimbleweed Park é o primeiro point-and-click na nossa Nintendo Switch e está no sítio ideal para ser jogado. Aquele ecrã táctil não está ali para enfeitar e haver a opção de jogar com comando ou com toque é aquele compromisso que dispara a Switch para a frente da concorrência. Para a análise tentei jogar com um comando e era para lá de chato arrastar a seta com o analógico, percorrer o menu de acções e clicar em cada píxel do cenário. Tirei a consola da base, encostei-me no sofá e melhorei a minha experiência de jogo. É que é mais intuitivo passar o dedo pelos objectos, menus e personagens. Aliás, há inclusive um segredo para facilitar o jogo: se deixarem o dedo premido no cenário, os ícones clicáveis são iluminados. Não é obrigatório usarem esta dica, mas que ajuda, ajuda.
Ainda
em dicas, o jogo está feito para novatos e veteranos – pela parte
que me toca, a de entusiasta, agradeço toda a ajuda possível porque
o jogo chega a ser desafiante e, às vezes, a resposta está mesmo à
nossa frente, mas na altura não enxergamos nada.
Mas o que é Thimbleweed Park?, e não
Tumbleweed, como andava para aí a dizer. Thimbleweed é um
point-and-click gráfico como já mencionei acima. Saído da cabeça
de Ron Gilbert e Gary Winnick e dos bolsos dos fãs via Kickstarter,
o jogo viu a luz do dia em março de 2017, mas a versão da Switch
saiu agora em setembro. E como mais vale tarde do que nunca, posso
dizer que até temos das melhores versões – eu sei, posso estar a
repetir-me, mas eu quero que a mensagem chegue ao hiperespaço dos
manda-chuva dos jogos da Switch e que apostem em mais jogos do
género. Os remaster de Day of the Tentacle ou Grim Fandango? E
porque não? Não me quero perder, vamos voltar à polpa da análise.
Thimbleweed teve uma campanha bem sucedida, não fosse pelos nomes
atrás do projecto e a quantidade de dinheiro angariada permitiu
fazer mais e melhor: vozes, novas mecânicas, mais consolas.
Este
jogo pode ser considerado uma sequela espiritual ao Maniac Mansion,
que não joguei, e volta a trazer o saudosismo de 1987 aos dias de
hoje. Melhor ano, atenção, não querendo ser tendencioso. A
história começa com um assassínio e cabe aos dois agentes, Ray e
Reyes, desvendar o caso. Aos agentes juntam-se outras personagens,
Delores, uma programadora de jogos e o palhaço Ransome, que é só
das melhores personagens que tive o prazer de jogar. Não houve um
momento em que não me ri com ele – e ainda bem… porque o jogo
tem a sua dose de problemas.
Não
sou o maior entendido de point-and-clicks,
mas
gosto de saber que ainda percebo alguma coisa de narrativa.
Thimbleweed começa tão bem: um homicídio para resolver, mas
rapidamente perde o fio à meada e enrola-se num novelo de enredos
que no fim encolhemos os ombros, olhamos em volta e perguntamos o que
raio se passou. Este é o ponto menos bom (não negativo) a escrever
porque as histórias que nos são introduzidas não são más; a
revelação final é muito boa e a resolução é também ela boa,
mas eu gosto de conclusão. E não, não vou dizer o que ficou para
trás. Ao mesmo tempo, sinto que que os escritores esqueceram-se do
seu próprio lore
e isso fez-me andar às voltas sem qualquer necessidade. Salvou-me a
linha telefónica do jogo que nos dá dicas se ligarmos para um certo
número. E há este detalhe também: o jogo é demasiado meta ou
foca-se demasiado em si ou a quebrar a fourth
wall.
Se de início as piadas até têm piada, mais para o meio conseguem
cansar, mas no final até entendemos o porquê das piadas. Desta vez
ganhas,Thimbleweed.
Mesmo
não gostando da história, acabarão por gostar de alguma personagem
e quererão levá-la a bom porto. Não é um mau jogo, mas perde-se a
meio e não sabe muito bem para onde quer ir. Talvez por haver vários
objectivos em simultâneo, várias personagens e de estarmos sempre a
trocar. Preferia algo mais linear, mais contido e que se focasse, por
exemplo, só no primeiro caso. Não sou eu que mando e lá consegui
acabar com algumas ajudas. Não me envergonho, usei ajuda! Em minha
defesa estava a jogar no modo difícil – sim, podem alterar a
dificuldade porque o jogo não facilita. Há imensas bolas curvas ou
red herrings
como itens que não servem para nada ou diálogos que não levam a
lado algum e, de novo, está tudo explicado.
A
nível técnico o jogo é irrepreensível. Os gráficos levam-nos à
época áurea do género, mas com aquele aprumo da tecnologia de
hoje. A banda sonora é agradável e até se adequa ao tema com uma
vibe noir.
Portanto, sim! Thimbleweed Park vence por ser o primeiro. O jogador
vence por ter conteúdo de qualidade na palma das mãos e uma
(várias) história rica para se deleitar. Dá para pensar, dá para
frustrar, dá para rir imenso. A ti, Ransome. Que haja mais
personagens como tu. Não há falta de variedade na Nintendo Switch, só há falta de
tempo. Espero que estas palavras tenham convencido alguém a
experimentar o jogo e garanto que se forem fãs do género, não se
irão arrepender.