Cities: Skylines - 8 anos a criar cidades


Olho para 2015 quando ainda éramos o “Meus Jogos DS”, com o foco nas portáteis da Nintendo e, por arrasto, a Wii U. Afinal ela tinha 2 ecrãs! Uma altura onde jogava maioritariamente em consolas, ainda não tinha um PC decente para me dedicar a todo um universo de jogos que me chamavam à atenção, embora de vez em quando lá tinha eu de puxar o meu velho portátil ao máximo, principalmente por causa de Final Fantasy XIV. 2015 foi também o ano em que surge Cities: Skylines, ao que pensava ser apenas uma cópia de Sim City, mas, como fã do género, tinha-o sempre a piscar-me o olho. Acabaria por o comprar pouco tempo depois do seu lançamento, sabendo que o meu portátil ia bufar por todos os lados e aquecer ao ponto de poder fazer uma tosta-mista, ao que após algumas horas Cities: Skylines acabaria por ficar um pouco de lado pois mal conseguia jogar, quando a minha cidade atingia um tamanho razoável. Pouco tempo depois montava o meu PC e este foi um dos primeiros jogos que instalei, um “test-drive” da minha nova torre!


Entrávamos no 6.º aniversário e o Meus Jogos fazia cair o “DS”, abrindo horizontes para todos os formatos. Cities: Skylines foi um dos jogos referidos na publicação que anunciou esta mudança, mas dava por mim a pensar se era o momento certo para falar do jogo quando muitos outros surgiam no horizonte, lançamentos da altura e com prioridade. Essa ideia ficou-me presa, pensando nela vezes sem conta enquanto dizia para mim mesmo "Que coisa tão estúpida, qualquer altura é boa para falar do jogo". Com o lançamento de várias expansões, lançamentos nas consolas entre outros updates, o jogo manteve-se tão vivo como quando foi lançado, e ainda hoje jogo-o regularmente mesmo com a sua sequela aí mesmo a chegar! Só que agora não tenho desculpas: ou falo do jogo antes do lançamento de Cities: Skylines II ou sinto que a oportunidade ficou perdida, naquele que é dos meus jogos favoritos de sempre e onde depositei centenas de horas de jogo. Isso e por ser um dos dois jogos vindos da Paradox Interactive, a par de Stellaris (um dia também falarei dele, prometo!), que me trazem sempre de volta para a frente do monitor enquanto vou simulando uma realidade que não é a minha.

Esta não vai ser uma análise, é mais uma reflexão do que senti com um jogo que tanto me ofereceu ao longo de tantos anos... posso chamar retrospectiva ao fim de 8 anos? Se calhar não, já me choca demasiado quando vejo a PlayStation 2 ou a Dreamcast sendo chamadas de retro, mas adiante. Não é relevante. O meu propósito aqui é deixar-me levar pela nostalgia criada por Cities: Skylines e talvez incentivar outros a quererem explorar o jogo, e não é fácil dizer que um simulador de cidade onde temos de estar preocupados com as finanças da câmara é das melhores coisas que podem fazer. Embora o jogo seja agora algo sinónimo de qualidade e muito bem-visto entre muitos, a Colossal Order trazia consigo o que havia aprendido com Cities in Motion e a sua sequela, dois jogos que passaram completamente despercebidos e com alguma razão, até porque não haviam sido recebidos como jogos marcantes... mas tudo mudava com Cities: Skylines.


Das coisas que mais gostei de acompanhar foi a sua evolução, a adição de novos conteúdos através de DLCs, com novas mecânicas entre conteúdos adicionais, sempre a preços bastante acessíveis. Surgiam focos em mecanismos de jogo que quase parecem mini-games dentro de um grande simulador. Eram coisas relacionadas com as diferentes indústrias, produzindo matéria prima em troca de um melhor desenvolvimento da cidade, outros DLCs faziam-nos criar e desenvolver parques naturais ou de diversões, outro deixavam-nos gerir a vida académica dos habitantes da cidade com metas que refletiam o ano letivo… Entre outros conteúdos adicionais o jogo ia evoluindo, e muito, ao que pensava sempre “não vou gastar dinheiro num DLC!” mas a tentação era sempre mais forte. Não me arrependo, foram conteúdos que me faziam voltar às minhas cidades, demolindo grande parte delas para receber as novidades… ou criar uma cidade já com os planos bem definidos a pensar em tudo que havia sido adicionado, assim que desbloqueados no progresso do jogo.

Mas, afinal, o que me fazia mudar de ideias face ao jogo? No início via-o como um “Sim City dos 300” ... ou seja, uma cópia barata. Bem, foi uma junção de muitas coisas. Por um lado, entre o tempo que jogava Sim City 3000 e Cities: Skylines era lançado tornei-me adulto, aprendi o que são impostos e que esse era um mecanismo vital para que recebesse dinheiro para evoluir a minha cidade, e não cair na banca-rota. Entendia agora que um empréstimo não era um truque para receber um bom volume de dinheiro e que o precisava de devolver o mais rapidamente possível. Compreendia melhor o funcionamento das cidades, a ligação entre as zonas residenciais e comerciais, que uma estação da polícia era mais do que o suficiente se tivesse bons acessos, que o feedback dos habitantes era vital e não devia fazer tudo “à minha maneira”. Mas não foi só isto…

Se há algo que adorei no meu primeiro contacto (a sério) com Cities: Skylines era o modo como o jogo me informava de tudo de um modo simples e direto, das necessidades ou coisas que merecem ser melhor desenvolvidas e aquelas que posso deixar a correr quase que autonomamente pois estão bem encaminhadas. Os vários painéis de controlo que me indicava tudo e a minha vontade constante de resolver o máximo de problemas possíveis, desde criar acessos para que o tráfego fluísse melhor ao bem-estar de todos os habitantes, tal como terem acesso a todo um conjunto de comodidades que vão bem além de terem internet gratuita nas suas casas, focos na reciclagem ou detetores de fumo, criando menos necessidades para os recursos da cidade a um custo. Todas as nossas ações causam uma reação, que grande parte das vezes nem são imediatas e temos de ter muita paciência para ver as coisas acontecer, principalmente nos conteúdos que foram acrescentados nos DLCs.


Tratar da nossa cidade é como lidar com um organismo vivo, com imensas necessidades que necessitam da nossa atenção, com imprevistos que surgem do nada (principalmente depois do lançamento de Natural Disasters), que temos de dar uma resposta imediata e pensar que, afinal, devíamos ter investido em bunkers de segurança mais cedo, não fosse um meteorito atingir o coração da cidade ou um maremoto varrer toda a zona costeira. São imensos os elementos interligados, mas nunca, em ponto algum, sentia que o jogo me sobrecarregava de informações a que tinha de prestar atenção. “Um problema de cada vez”, pensava, enquanto parava o tempo para perceber por que motivo tinha perdido estudantes naquele ano letivo. A cada nova adição entravam novas coisas, mas nunca perdia o foco do que tinha de fazer, onde as minhas indecisões eram mais pensar se queria criar uma linha de autocarros ou se punha elétricos em toda a cidade. A oferta de coisas a fazer no jogo, mesmo tendo apenas a versão base é imensa e, aqui, é onde entra outro dos fatores que me agarram ao jogo: a sua comunidade.

Cities: Skylines sempre viveu dela, dos inúmeros conteúdos que temos à disposição no Workshop da Steam e que me faz olhar para as versões das consolas do jogo como incompletas mesmo se as tiver com todos os DLCs possíveis. É imensa coisa, desde mapas a pequenos assets como escolas ou hospitais que são réplicas do que encontramos no mundo real, rotundas e interseções bem construídas e detalhadas para criar melhores fluxos de trânsito nas nossas cidades, a mods que permitem abusar do jogo construindo cidades ainda mais reais, como poder gerir as faixas de trânsito de modo a reduzir ainda mais o congestionamento de veículos, ou até mods que dão uma total liberdade de como construir as ruas. Conteúdo que temos à disposição onde o mais difícil é escolher, pois até podemos tentar descarregar centenas de milhares de coisas o que eventualmente torna o carregamento do jogo mais lento…, mas há que controlar. Afinal não preciso de 500 tipos de ruas, estradas, pontes ou caminhos de ferro diferentes (nota: isto sou eu a repetir esta frase para mim mesmo, mas a falhar redondamente no autocontrolo). Está ali tudo à nossa disposição a custo zero, conteúdo criado com o esforço de muitos, ainda nos dias de hoje quando o jogo tem quase uma década.

Tudo conteúdo feito pelos fãs, que recebem um thumbs-up dos próprios developers do jogo que ao longo de todos estes anos foram olhando para o que surgia na Workshop, tomando notas e, a ver pelos vídeos que têm apresentado em Cities: Skylines 2, é fácil ver que foram buscar várias mecânicas ao que a comunidade criou. Existem até mesmo packs de conteúdo feitos pelos fãs, que podemos comprar e que trazem algo de novo, mas estes são capazes de ser os DLCs que menos gostei, pois têm um preço elevado para um conjunto de coisas muito reduzidas. Foram também longos anos onde o jogo recebeu apenas 2 estilos urbanísticos diferentes, ora norte-americanos ou europeus e, se há coisa que me deixou desconsolado é não existirem ainda mais estilos como asiáticos, futuristas ou do passado, que permitissem fazer uma feira medieval ou um centro histórico como existem por todo o lado no nosso mundo. Certo que aqui os conteúdos feitos pelas comunidades ajudam, pois foi foram criados temas que dão resposta a isto, mas não estão propriamente muito bem integrados com o jogo e há todo um processo manual bastante chato que me levou quase sempre a ver uma janela de erros detectados no jogo por causa de assets com problemas de incompatibilidade.


Tudo isto é feito em cima de um jogo recheado de conteúdo. Começar a nossa cidade do nada para atingir o simpático número de 80 mil habitantes não é tarefa fácil e, cabe a nós criar um local atrativo e que não leve ao abandono dos nossos residentes. Não chega ter energia, água potável e saneamento em toda a cidade, não é suficiente ter esquadras da polícia, clínicas, hospitais ou bombeiros a uma distância simpática de todo o lado. Um bom sistema de transportes para levar os habitantes aos seus locais de trabalho não é suficiente apenas por existir, por muitas linhas de autocarro que criamos a tentar cobrir a cidade toda. Coisas que podem ser melhoradas através de um maior e melhor investimento financeiro em cada, assegurando que cumpre com as necessidades da cidade. É preciso estar sempre com atenção a cortes de energia, causados por algum incêndio por exemplo, a água potável pode não estar a chegar a todo o lado porque o nível da água baixou, levando a que não esteja a alimentar a cidade o suficiente.

Se os habitantes se queixam do mau cheiro provocado pelo lixo empilhado, ou por um corpo de alguém que faleceu está à espera de transporte, talvez o problema não seja a lotação de lixeiras ou cemitérios, mas porque o trânsito é excessivo e é preciso construir alternativas ou mudar as próprias vias da cidade, de modo a que os veículos fluam, ou apostar em ciclovias, mais transportes públicos e todos interligados, de modo a reduzir a quantidade de veículos na rua. Se a nossa população está doente, talvez seja a proximidade à zona industrial, ou a água potável está contaminada com os resíduos dos esgotos. Praticamente tudo está conectado e, procurar um equilíbrio entre os vários pontos da cidade, é um jogo complexo por si, mas simples de resolver. Mesmo quando toda a cidade está tão recheada de ícones por todo o mapa a avisar os mais variados problemas, é preciso ter paciência, só porque mudamos algum na nossa cidade as melhorias não são logo visíveis. E acreditem que se tomamos a melhor decisão as coisas voltam ao sítio. Se não... bem... é ver o dinheiro a desaparecer, a população a fugir e talvez pensar que mais vale a pena começar do início (ou voltar a um save que possamos ter criado anteriormente). Parece trágico, mas não costuma acontecer com frequência!

Vêm? Há todo um conjunto de desafios que surgem e isto não é apenas um jogo onde colocamos uma zona residencial e esperamos que os pequenos edifícios de 2 andares se transformem num arranha-céus que tenta competir pela altura mais alta da baixa da cidade. E tudo faz sentido, talvez se fosse um adolescente de novo sem uma ideia base de como funcionavam as finanças ou as necessidades que uma população efetivamente tem poderia sentir as dificuldades que sentia em novo quando jogava Sim City, mas sinto que Cities: Skylines é bastante mais acessível em vários aspetos, informando-nos bem do que precisamos fazer.


É desafio atrás de desafio que vai escalando à medida que aumenta o tamanho da nossa cidade, a população do jogo e temos de oferecer mais e melhores coisas para os nossos centros urbanos. Parques para os habitantes poderem viver num local feliz, saudável, evitando a ida aos hospitais enquanto reduzimos a criminalidade ao criar uma prisão do outro lado da cidade. Pensar no percurso que os nossos habitantes têm, desde uma aposta na educação que resulta depois numa maior afluência às diferentes universidades disponíveis, para depois optarem por uma das diferentes faculdades com um foco numa carreira que podemos responder ao ter zonas específicas nos escritórios que vamos construindo. Criar distritos com um foco no lazer ou comércio, desenvolvendo pequenos centros que vão dando vida à cidade como um todo. E sempre sem ter medo de destruir para depois reconstruir melhor, respondendo devidamente ao que é necessário fazer. A cidade conta conosco e temos de fazer tudo para não entrar em prejuízo financeiro e ver os nossos habitantes a fugir.

Cities: Skylines veio para ficar, "substitui" Sim City logo no seu lançamento como um simulador de cidade de referência, pela acessibilidade ao entrar no jogo, que ponto a ponto nos vai ajudando a compreender melhor como funciona a simulação da cidade, que com a passagem do tempo e aumento da população vai nos introduzindo novas coisas de modo gradual. Jogo-o regularmente ao longo destes anos todos, continuo a criar cidades do início, em novos mapas sempre que me quero dedicar novamente, sempre com o objetivo de atingir as Milestones todas para construir o muito desejado aeroporto na minha cidade. E nada mais gratificante do que ver uma cidade bem ligada, onde o trânsito flui tão bem que posso abdicar de uma ou outra rua para construir mais habitação, comércio ou parques ligados entre zonas pedonais. Ou ver uma enorme avenida a cruzar o centro da cidade onde os elétricos ou os tróleis transportam milhares de pessoas todos os dias, para terem um quotidiano em que chegam felizes a casa.


Talvez, infelizmente, parece que é o fim da minha longa aventura com o jogo, pois Cities: Skylines II está mesmo aí a chegar e vou literalmente largar tudo para me dedicar a ele. Pelo que tem vindo a ser apresentado parece que pegaram em tudo o que há de bom no primeiro jogo, ao longo destes anos todos, e melhora-o em tudo! É certo que vou sempre voltar às minhas cidades do original, pois basta-me ver uma foto ou um vídeo apanhado numa rede social para ver a resposta perfeita para uma zona da cidade que estava algo que indeciso de como a iria construir. Vai ser sempre aquele jogo que tantas horas de pura diversão me deu, e que sabe sempre bem matar saudades!

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