Tricky Towers
Gosto (imenso) de Tetris! Nos tempos idos da faculdade, abria a minha Nintendo DS Lite, arrancava o Tetris DS e fingia prestar atenção àquelas aulas super interessantes. Batia recordes no modo livre. As sessões de jogo duravam até casa: Metro, barco, autocarro e ainda um pedaço a pé. Bastava fechar a tampa e o jogo congelava no tempo para mais tarde retomar. No entanto, se o cartucho saísse do sítio, o jogo parava e tinha de começar tudo de novo. Que sacrifício. Tetris está para as portáteis como molho de tomate está para uma bolonhesa. Fazer diferente é estranho; comestível, mas estranho. Não consigo sentar-me na sala, ligar uma consola caseira e jogar Tetris numa televisão grande. Fi-lo na antiga NES. Eu e o meu pai a percorrer níveis ao som do clássico tema russo, Korobeiniki. Tanta coisa para dizer que já joguei melhor, até naquelas consolas dos chineses que só correm um Tetris manhoso. Tricky Towers não é um mau jogo, apenas não consegue coçar a minha comichão de Tetris.
Um pouco para trás: WeirdBeard lançou em 2014 o 99 Bricks Wizard Academy para o iOS e PS Vita, mas agora almejou em grande e lançou a sequela, Tricky Towers, para o PC e PS4. Porque não se mantiverem nas portáteis, não faço ideia, mas aqui está ele! Não quero com isto dizer que o jogo é mau. Não é. É bom e nota-se que o estúdio quis lançar algo com qualidade. O resultado final é um jogo com alma e uma cara própria que não vive apenas do Tetris. Aliás, chamar de Tetris a este jogo é quase um insulto porque mistura vários conceitos que funcionam muito bem. Há um toque de Jenga, por exemplo, onde tudo pode cair a qualquer momento se não forem bons ou rápidos o suficiente. Este Tricky Towers é “tramado” porque usa mecânicas de física real, onde as peças têm peso e têm de ser equilibradas para não desabarem. Ao passo que numa partida de Tetris é só encaixar e esperar que filas desapareçam, aqui não se passa isso: a torre vai crescendo, torna-se mais periclitante e temos de ter muito cuidado onde e como colocamos as peças ou partes/mobiliário – leram bem. Os controlos são precisos e têm diferentes maneiras de orientar as peças, uma com mais precisão para encaixar num sítio mais complicado. E não basta encaixar, um toque mais brusco pode atirar a construção borda fora e lá perdemos uma vida.
Depois há outras mecânicas engraçadas que nos dificultam (ou ajudam) como magia branca ou negra que podemos usar ou que pode ser usada contra nós. Há feitiços que fazem aparecer uma neblina que nos impede de ver o progresso, transforma peças em pedra para conferir mais estabilidade ou balões que seguram peças, tornando-as lentas e queimando tempo precioso. E mais não digo, assim tira a piada. Claro que esta guerra de feitiços não estaria completa sem os feiticeiros que são muitos e à escolha do jogador. Posso dizer jogadores, no plural, porque este Tricky Towers tem um modo para vários jogadores tanto online como localmente – com 2 ou 4 pessoas. Juntem essas pessoas e vejam quem é o mais rápido a construir a sua torre. Não basta construir, a mesma tem de aguentar alguns segundos em pé para ser considerada a vencedora. E podem fazer tudo para impedir o adversário de ganhar. Uma espécie de Mario Kart, mas no Tetris. Há diferentes modos para vários jogadores, Race, Survival e Puzzle. Já para um jogador, podemos avançar através de missões ou jogar um modo livre cujo objectivo é ultrapassar o vosso recorde pessoal. As missões obrigam o jogador a completar um nível de uma determinada maneira ou usar uma peça específica.
O grafismo de Tricky Towers é impressionante e bastante vivo, com cores animadas e detalhadas. Ao optar por um estilo mais desenho animado, estiveram à vontade para brincar com os cenários e personagens, criando vários feiticeiros todos diferentes ou efeitos de magia no jogo. O registo musical não é memorável, mas cumpre o seu dever com ritmos divertidos e energéticos que nos acompanham de nível para nível. Os feitiços e demais efeitos sonoros estão muito bons.
Para concluir, este Tricky Towers não é um mau jogo, é bom, mas podia ser muito melhor numa portátil – pelo menos para mim que gosto de jogar algo com mais substância numa consola caseira, mas Tricky é fruta com uma polpa riquíssima de música e visuais fantásticos, com modos de jogos para entreter uma pessoa ou um grupo durante horas, é diferente o suficiente para não o etiquetarmos como um clone do clássico e consegue arrancar alguns sorrisos, principalmente quando surgem as peças gigantes que destroem qualquer planeamento “urbano”. Dando o benefício da dúvida, desejo boa sorte ao estúdio e que pensem em lançar o jogo em mais plataformas!
Nota: Esta análise foi escrita com base em código final do jogo para a PlayStation 4, gentilmente cedido pela SCEE