Metroid Prime: Federation Force


Quem tiver visto o filme Misery, adaptação do livro de Stephen King com o mesmo nome, saberá bem como os fãs podem ser os maiores inimigos dos criadores. Quando Metroid Prime: Federation Force foi anunciado, em 2015, as reações dos fãs da série foram do mais negativo que já se viu em relação a jogos Nintendo. Tinham já passado 5 anos desde o lançamento de Metroid: Other M (Wii), um jogo mediano que tinha ficado aquém das expetativas, mas em vez de se alegrarem por ver o nome "Metroid" regressar à agenda da Nintendo, revoltaram-se contra o que foi apresentado. Mas será esta revolta fundamentada?

Federation Force não é um Metroid. É um jogo que se passa no universo de Metroid Prime, após os eventos de Metroid Prime 3: Corruption, e nos dá um novo olhar sobre as forças da Galatic Federation. Aqui somos um soldado da federação que acabou de ser recrutado para participar no projeto Golem, que consiste na utilização de mechs para trabalhar em operações delicadas. A partir da base espacial da federação, vão sendo atribuídas várias missões e compete ao jogador formar um esquadrão (ou ir a solo) ou juntar-se a outro, para um máximo de quatro jogadores em simultâneo. Não existe, portanto, liberdade de exploração ou o conceito de "backtracking" caraterísticos da série, sendo este um shooter cooperativo bastante linear. Curiosamente, mais do que uma sequela, a história parece mais focada em preparar os jogadores para eventos futuros da série.

   

Ao recriar o ambiente da saga para a Nintendo 3DS, a Nintendo optou pela deformação dos personagens, criando uns Golems cabeçudos e com componentes bastante coloridos que ajudam a identificá-los no ecrã. É uma decisão principalmente funcional na adaptação à portátil, mas que afecta bastante o estilo artístico, tornando o jogo menos "sério" do que seria de esperar. Já os cenários recriam bem o estilo a que a série nos habituou, mesmo que naturalmente não sejam tão detalhados como no original da GameCube.

A jogabilidade é a componente mais "Metroid Prime" de todo o jogo. Quem tiver jogado os anteriores na Wii ou GameCube irá acostumar-se muito rapidamente aos controlos dependentes de um só analógico, com uma mira de precisão assistida pelo giroscópio da Nintendo 3DS. De forma geral, é perfeitamente adequado ao dispositivo em que se encontra e ao estilo de jogo criado, mas há algumas situações onde surgem vários inimigos de diferentes direções e faz falta um método mais rápido para virar o personagem. Além dos disparos normais e "charged", existe um conjunto de armas secundárias que podem ser equipadas de acordo com um sistema de "peso". Existe algum stock no início para distribuir pelos jogadores, que requer algum planeamento, mas no interior dos níveis há munições adicionais. Isto é particularmente importante porque o processo de curar também ocupa slots do armamento secundário.

Apesar de ter sido criado a pensar no modo multijogador, é possível jogar Federation Force a solo. Nesta situação, é possível utilizar uma MOD (personalização do Golem) para duplicar o dano e a defesa do jogador, tornando as coisas mais acessíveis. Jogar sozinho é uma experiência interessante, mas pouco consistente, que varia muito conforme as missões. Ir a solo contra um boss gigante ou numa missão linear pode ser bastante empolgante, mas nas missões desenhadas a pensar na cooperação já pode ser um grande frete. Por outro lado, jogar online mesmo com jogadores desconhecidos é uma experiência muito mais sólida e divertida.

 

Há muita variedade nas missões, com diferentes objetivos e mecânicas de jogo, cobrindo os lugares comuns deste tipo de jogos mas acrescentando por vezes um toque mais caraterístico de Metroid. Considerando o foco no multijogador, muitas missões são melhor jogadas se as equipas se dividirem por objetivos, contribuindo todos para um avanço comum. Infelizmente, as opções de chat são muito limitadas, pelo que é difícil definir algumas estratégias sem jogar em modo local, que exige que todos os participantes tenham uma cópia do jogo. Para além do objetivo principal de cada missão, existe ainda uma série de sub-objetivos, incluindo um desafio de tempo e um modo "Hard", o que dá muito replay value aos mais aficcionados.

A minha experiência a jogar online tem sido bastante boa, considerando as limitações de jogar antes do lançamento na Europa, que obriga a jogar nos horários dos japoneses ou americanos. A vantagem de ter online mundial é encontrar-se um maior número de jogadores disponíveis, mas algumas vezes o jogo desconectou-se do grupo quando os restantes jogadores eram japoneses. Quando isto acontece, o jogador simplesmente continua a jogar a solo, o que irá dificultar imenso a conclusão da missão.

Além do jogo principal, existe ainda o modo Blast Ball, um jogo competitivo de arena onde os jogadores equipados com os seus Golem têm de disparar contra uma bola de energia para marcar golo na baliza da equipa adversária. É um jogo que requer o domínio dos controlos para um bom desempenho, e que de certa forma ajuda a treinar para o jogo principal, mas não tem muita profundidade. Só o tempo dirá se o Blast Ball poderá ser viável em competições, visto que depende muito da comunidade que possa ou não surgir em torno do jogo, mas neste momento não parece muito promissor.


De uma forma geral, Metroid Prime: Federation Force é um bom jogo e consegue oferecer uma das melhores experiências multijogador da Nintendo 3DS. Alguns níveis são excelentes e, quando se tem um bom grupo, é um jogo realmente empolgante. Jogar sozinho nem sempre é divertido, e a história também é pouco interessante, perdida entre o papel de sequela e a antecipação de futuros acontecimentos. Seja como for, não existe um fundamento para a indignação dos fãs, quando o jogo se assume como aquilo que é sem criar falsas expetativas: um shooter online para quatro jogadores, situado no universo de Metroid Prime.
Nota: Esta análise foi efetuada com base em código final do jogo para a Nintendo 3DS, gentilmente cedido pela Nintendo.

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