Pikmin 3

Pikmin 3, ao fim de uma década, é o primeiro jogo original da série Pikmin, que nasceu em 2001 na GameCube e teve direito a uma sequela há precisamente 10 anos. Durante o ciclo de vida da Wii, ambos os títulos foram reeditados com uma nova jogabilidade, aproveitando os controlos bastante superiores oferecidos pelo novo comando. Ainda assim, passada uma década sem lançamentos originais, a expectativa era bastante grande para ver o que seria possível fazer com a série na nova consola Wii U.
Desta vez, não controlamos Olimar, mas uma nova equipa de 3 elementos vindos do planeta Koppai (cujo nome é uma referência à própria Nintendo, fundada em 1889 com o nome Nintendo Koppai). O jogo começa com uma fantástica introdução, na qual um narrador explica a crise que ocorre no planeta e que levou o capitão Charlie, o engenheiro Alph e a bióloga Britanny até ao planeta PNF-404 em busca de alimento. Devido a um acidente, os 3 elementos são separados ao chegar ao planeta, fazendo com que o primeiro objectivo do jogo seja reunir a equipa.

Os primeiros dias no planeta funcionam como uma espécie de introdução, tanto aos personagens, como às mecânicas do jogo. Os protagonistas têm personalidades bastante distintas e, ao contrário do que acontecia com Olimar e Louie nos jogos anteriores, são bastante carismáticos. Alph é corajoso e tem uma forte admiração pelo seu capitão, enquanto Brittany é egoísta e tem particular desprezo por Charlie, o capitão que se considera um grande herói mas não vive sem o seu patinho de borracha. Embora não tenha impacto em termos de jogabilidade, esta dinâmica entre personagens faz com que o jogo tenha uma história mais envolvente do que seria de se esperar num jogo Pikmin.

A principal novidade em Pikmin 3 é a dinâmica de controlar 3 personagens em paralelo, distribuindo estrategicamente as tarefas para optimizar a progressão no jogo. Em teoria, poderia parecer demasiado complexo, mas a excelente curva de aprendizagem e as características próprias da Wii U fazem com que tudo seja bastante natural. No início, controla-se apenas um personagem, Alph, como introdução ao que se pode fazer com diferentes tipos de pikmin, até ao momento em que este salva a colega Britanny e o jogo introduz a divisão de tarefas entre personagens. Na altura em que controlamos uma equipa de 3, a complexidade adicional é intuitiva para o jogador e permite que este se adapte melhor às situações apresentadas nos cenários.

Desta vez, existem dois novos tipos de pikmin, um de rocha que permite quebrar estruturas de vidro, por exemplo, e outro com asas, que consegue voar e é especialista em combater criaturas aéreas. De fora do modo principal de jogo, ficaram os pikmin roxo e branco que tinham sido introduzidos em Pikmin 2 e eram mais focados em táticas de batalha. A introdução destas criaturas trouxe novos tipos de obstáculos mas, de uma forma geral, estão bem integradas com os restantes pikmin de cor vermelha, azul e amarela. A questão está em saber, a cada momento, que cores de pikmin são importante para atingir certos objectivos.

No ecrã do GamePad, é possível visualizar o mapa do jogo em tempo real, com a localização dos 3 personagens e dos vários pikmin espalhados pelo cenário, uma ferramenta indispensável e que coloca este jogo num patamar superior aos anteriores. Graças a uma funcionalidade chamada "Go Here", é possível mandar um personagem, com o seu respectivo grupo de pikmin, deslocar-se automaticamente até um certo local e, enquanto isso acontece, assumir o controlo de outro personagem para fazer outra coisa. Por exemplo, é possível ter um personagem dedicado a obter novos recursos e outro dedicado à exploração para abrir novos caminhos, enquanto nos envolvemos num aceso combate com o terceiro personagem e alguma criatura, sem que tudo isto pareça demasiada informação a gerir. Ainda assim, isto é só um nível de liberdade que se ganhou, sendo possível na mesma fazer quase tudo com um só personagem: apenas alguns obstáculos mais complexos, mas opcionais, obrigam à utilização dos 3 heróis para os ultrapassar.
Há ainda uma grande liberdade de opções de controlos, embora a experiência definitiva de jogo seja controlar os personagens com um Wii Remote + Nunchuck, juntamente com o GamePad ao lado com o mapa para consultar (um toque no ecrã tátil é suficiente para pausar o jogo enquanto se consulta o mapa). É possível substituir os comandos da Wii pelo Wii U Pro Controller, ou então utilizar os botões do GamePad, mas estas opções implicam controlar o personagem e o cursor com o mesmo analógico (o direito controla o ângulo de câmara) de forma semelhante aos controlos na antiga GameCube. O jogo suporta ainda o modo Off-TV Play, transformando o GamePad numa pequena televisão para jogar. Neste modo, são também suportados os outros métodos de controlo, sendo utilizada a Sensor Bar do GamePad para a opção Wii Remote + Nunchuck. A principal conveniência é a facilidade com que se pode trocar de controlos e modos, bastando premir um botão do comando que se quer utilizar, ou o botão "-" para alternar entre televisão e GamePad. Mesmo sendo possível até jogar-se o jogo apenas com um GamePad sem recurso à TV, recomenda-se a utilização de um Wii Remote Plus + Nunchuck para uma melhor experiência de jogo.

O GamePad oferece ainda uma nova funcionalidade que permite tirar fotografias dentro do jogo através da perspectiva dos personagens, que podem ser partilhadas através do Miiverse na comunidade do jogo. Esta funcionalidade é excelente pela forma como demonstra as capacidades da Wii U, um teste impressionante é colocar um exército de 100 pikmin de várias cores atrás de um personagem, utilizar a função "Go Here" presente no mapa para o fazer deslocar automaticamente, ativar o modo de câmara fotográfica e apreciar os gráficos e a fluidez das animações em tempo real. A qualidade dos cenários e texturas é excelente e ainda mais impressionante quando se olha de perto, vendo-se aqui o primeiro caso de um jogo da Nintendo que realmente conseguiu tirar partido do facto de ser lançado numa consola HD.

A questão da longevidade é também um factor muito importante nesta série. O primeiro jogo foi bastante criticado pela existência do limite de 30 dias para terminar a história, o que trazia muita pressão ao jogador e impedia de explorar livremente os cenários. Já o segundo não tinha qualquer limite e acrescentou a mecânica de cavernas onde o tempo não contava, fazendo com que não se sentisse qualquer pressão em avançar no jogo a não ser o próprio interesse. Desta vez, atingiram um equilíbrio excelente com o novo sistema de racionamento de alimentos. Ao recolher um fruto para a nave, este será convertido em doses de sumo para alimentar a equipa. No final de cada dia, é gasta uma dose de sumo, pelo que é necessário ter em conta o stock de alimentos. Assim, é criada uma certa pressão em jogar minimamente bem e conseguir frutos para alimentar os personagens, mas com a liberdade de tempo suficiente para que cada um jogue ao seu ritmo pessoal. O modo de história tem uma duração de cerca de 10-12h, que irá variar com a forma de jogar de cada um. O jogo termina em alta, sem se prolongar mais do que o necessário, mas permite continuar a jogar após o final para tentar completar 100%, agora sem restrições de tempo. Além disso, a gravação do jogo permite voltar atrás para qualquer dia em particular e tentar de novo daí em diante para tentar resultados melhores, uma funcionalidade muito útil para situações em que nos arrependemos de uma má decisão tomada anteriormente, por exemplo.

O jogo oferece ainda um viciante modo de missões, que podem ser jogadas a solo ou com 2 jogadores em modo cooperativo, que oferecem um tempo limite bastante restrito e desafiam a fazer a maior pontuação possível dentro desse limite. Devido à sua curta duração, incentivam bastante a tentar novamente, para conhecer cada vez melhor o cenário e adaptar as estratégias de jogo. Há ainda um divertido modo "Bingo Battle", para dois jogadores em modo local que competem para recolher um conjunto de frutos e objectos de modo a fazer uma linha de um cartão de bingo. Infelizmente, não existe multijogador online em Pikmin 3, que seria bastante importante para este modo em particular, pois requer dois fãs de Pikmin que conheçam bem as mecânicas de jogo para ser mais divertido.


Pikmin 3 podia muito bem chamar-se "Pikmin Prime", pois seria digno desse título. Várias componentes deste jogo, desde a sua introdução e o momento em que surge pela primeira vez o título até pequenos pormenores espalhados pelo cenário reforçam a componente de ficção científica e aprofundam a sensação de estarmos a jogar uma aventura do espaço, embora todo o ambiente de jogo se passe numa versão futurista (pós-apocalíptica?) do planeta Terra. Há influências de Metroid Prime espalhadas levemente pelo jogo e que contribuem para aquela "Magia Nintendo" que parecia estar a faltar na Wii U. Até mesmo as batalhas contra os bosses são verdadeiramente épicas e dignas de séries como Metroid Prime ou Legend of Zelda. Neste ambiente sci-fi, e com a jogabilidade da série a atingir aqui o seu pico, surge a vontade de se vir a explorar planetas diferentes com estas criaturas – uma possibilidade para jogos futuros?


É um jogo bastante complexo, mas também suficientemente simples para qualquer um poder jogar e ter uma excelente experiência. Uma história simples, mas envolvente e uma aventura épica com personagens muito pequeninas que, juntamente com uma jogabilidade bastante fácil e intuitiva, fazem deste um título obrigatório para a Wii U.

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