Horizon Zero Dawn


Costuma dizer-se que em equipa vencedora não se mexe. Para os fãs da PlayStation, o estúdio Guerrilla Games sempre foi conhecido pela sua série Killzone, jogos de tiros num mundo futurista que se destacavam por tirar o máximo partido das capacidades gráficas das consolas. Foi então uma enorme surpresa assistir ao anúncio de Horizon Zero Dawn, que não só é um novo IP vindo da Guerrilla Games como traduz uma mudança radical de género de jogo. E que boa surpresa foi!


Horizon Zero Dawn é um RPG de aventura em mundo aberto, situado num mundo "pós-pós-apocalíptico". A civilização colapsou, as máquinas tomaram conta do mundo e a natureza reclamou de volta o seu território. Do nosso mundo, o "mundo metálico", sobraram apenas ruínas e as máquinas, autónomas, que coabitam o planeta juntamente com os animais, mas ameaçam a humanidade. Os humanos reverteram para uma sociedade mais primitiva, ligada à natureza, embora nem todos partilhem os mesmos valores. A protagonista, Aloy, é especial para a tribo Nora devido à forma como surgiu no mundo sem ter uma mãe. Nem sempre ser "especial" é bom, o que Aloy ganhou com isto foi simplesmente ser colocada de parte da tribo, tornando-se uma pária ao cuidado de Rost, a comando de uma das matriarcas.

A fase inicial do jogo funciona como um extenso tutorial onde acompanhamos a infância de Aloy e a forma como esta descobre nas ruínas do mundo metálico o Foco, um pequeno gadget que lhe dá informações vitais acerca do mundo que a rodeia. Enquanto aprendemos as mecânicas do jogo, vamos assistindo ao treino de Aloy e a sua transição para a vida adulta, que irá culminar num teste de iniciação da tribo Nora. Se vencer o teste, poderá finalmente descobrir o mistério da sua origem e entender porque foi colocada de parte. Como seria de esperar, nem tudo corre como o previsto, ou não haveria uma história para contar. Embora receba uma boa dose de informação, esta é tudo menos satisfatória, deixando Aloy (e o jogador) com ainda mais curiosidade sobre a sua origem. Juntamente com um ataque aos Nora, é isto que coloca a protagonista do lado da tribo e a leva a partir pelo mundo em busca da sua origem e do seu destino.


A exploração é guiada pela história, mas com liberdade de andar pelo mapa e explorar as novas zonas que se encontra conforme se vai progredindo na missão principal. Quem a seguir de forma linear terá cerca de 30h de jogo pela frente, mas irá estar a deixar de lado missões secundárias interessantes e muita exploração que, na realidade, é o sumo do jogo. O mundo faz lembrar um cruzamento entre os cenários medievais de The Witcher e as ruínas urbanas de The Last of Us, enquanto que a jogabilidade evoca a exploração de Assassin's Creed. Temos torres para subir e obter informação regional, preenchendo-nos o mapa com ícones de objetivos e outras informações, e temos também muitos segredos sobre o mundo passado para descobrir sob a forma de hologramas e registos áudio e texto que nos permitem aprofundar a mitologia acerca do mundo metálico.

Uma grande componente do jogo é a sobrevivência, sendo fundamental recolher materiais tanto para curar como para produzir e melhoras armas ou equipamento. A gestão de recursos é crucial para o combate, que é definitivamente a melhor parte do jogo. Mais do que simplesmente lutar contra inimigos, Horizon reproduz uma grande experiência de caça, promovendo ataques furtivos e movimentos cuidadosos. Embora Aloy tenha disponíveis armas de combate corpo-a-corpo, em quase todas as situações é melhor ideia observar atentamente os movimentos das máquinas, plantar armadilhas e acertar nos pontos fracos, do que simplesmente atirar-se de cabeça para o meio da confusão. O combate é intenso e cada máquina nova representa uma nova aprendizagem, à semelhança da série Monster Hunter onde o jogador é aconselhado a estudar muito bem o seu novo alvo antes de partir para a violência. Numa fase ainda inicial do jogo, ganhamos a capacidade de converter algumas máquinas para o nosso lado. Estas poderão servir de montada para explorar o mundo, ou proteger Aloy de outras máquinas. Nada como ver o caos provocado por uma máquina aliada ao enfrentar outras máquinas, enquanto atacamos à distância com o arco e flecha.


Não são só as máquinas que querem ver Aloy morta, outros humanos também e ninguém lhe quer dizer porquê. A história dá o mote tanto para explorar, como combater as máquinas e humanos hostis de outras povoações. Embora tenha vivido na exclusão durante toda a sua vida, a protagonista tem bom coração e torna-se desde cedo leal à tribo a que nunca chegou realmente a pertencer. A verdade é que Aloy torna-se muito rapidamente uma personagem fácil de gostar. A sua voz firme, mas suave, as expressões faciais e as animações criam uma empatia que permite aos jogadores sentir-se na sua pele, algo muito importante num jogo que é mais RPG do que muitos poderiam estar à espera. Há todo um sistema de experiência e níveis para aumentar as capacidades e habilidades da personagem, além de uma complexa gestão de equipamento e inventário.

E se a jogabilidade de Horizon Zero Dawn é realmente boa, então o que dizer do seu grafismo? Este é simplesmente o jogo mais impressionante da PS4 até hoje, e digo-o sem sequer o ter jogado numa PS4 Pro. O setup do Meus Jogos é bastante convencional, com uma PS4 original ligada a uma HDTV e, mesmo assim, Horizon é deslumbrante. O mundo é rico em detalhes, os cenários cheios de vida e cores vibrantes. É graficamente tão impressionante que muitos jogadores irão perder horas no modo de fotografia do jogo que, além de limpar os elementos informativos do jogo, permite ajustar a imagem e aplicar filtros para fotografias perfeitas. Durante o período da análise, ainda não tinha sido disponibilizado uma atualização que resolve alguns problemas de performance, mas mesmo assim não encontrei situações que prejudicassem a minha experiência de jogo. Há que reconhecer o mérito tecnológico da Guerrilla Games ao construir este mundo tão detalhado!


O único ponto menos favorável em torno de Horizon Zero Dawn é a sensação de familiaridade ao longo da experiência, trazendo muitas vezes a impressão de que já jogamos isto em qualquer lado. Isto não é sequer um problema, é apenas a única crítica que se pode apontar ao jogo e que se compreende: ao criar uma nova franquia, a Guerrilla Games olhou para o que de melhor se faz em várias outras e não há nada de errado com isso. A grande experiência de combate é o verdadeiro factor de venda deste jogo, com uma história interessante e gráficos incríveis. Um sério candidato a melhor jogo de aventura da PlayStation 4!
Nota: Esta análise foi escrita com base numa cópia do jogo a correr numa PlayStation 4 original. Cópia de análise gentilmente cedida pela SIEE.

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